segunda-feira, 16 de abril de 2012

Descansa em paz


Aldino Brito foi um colega de faculdade. Alguém com quem eu passei longas horas de tertúlia, onde falávamos de tudo e de nada. Com ele conheci alguma da música e da literatura que marcariam para sempre a minha vida. Dono de uma cultura imensa, dissimulada sob um manto de uma aparente passividade perante a vida, Aldino foi das pessoas mais calmas que já conheci, talvez resultado do sangue frio necessário para passar anos a co-pilotar carros em ralis, um meio onde já tinha atingido um enorme estatuto. Os carros, especialmente os clássicos, eram de facto uma das suas grandes paixões. Escrever também. Aldino escrevia para vários jornais e revistas, e a última vez que falei com ele estava a escrever um livro. Pedro Paixão era uma das sua paixões literárias.
Apesar de nunca termos perdido o contacto, já não falava com ele há uns 4 anos. Foram muitas as vezes que o tentei contactar, especialmente no último ano. O facto de ter vários discos e livros dele para lhe devolver era o mote, o álibi perfeito para umas boas horas a pôr as notas de música e as letras em dia. Mas nunca consegui falar com ele... A semana passada soube o porquê do meus constantes fracassos. O meu amigo Aldino faleceu há 3 anos, mais precisamente numa sexta-feira, dia 13 de Fevereiro de 2009, num estúpido acidente de trabalho. Não sou supersticioso, mas quis a ironia do destino que eu soubesse esta triste notícia numa sexta, dia 13 de Abril. Nunca poderia sequer imaginar que esta tragédia pudesse ter acontecido. E pior de tudo, sem eu nunca saber disso. Mas aconteceu, e isso deixou-me profundamente triste. Duplamente infeliz. Por ter perdido para sempre um amigo. Por não ter estado presente nesse momento de dor para a família.
Em pleno século XXI, é tão triste perceber que nunca tivemos tantas ferramentas para interagirmos e, simultaneamente, nunca estivemos tão desligados uns dos outros.
Porque a memória é vida. Porque lembrar é eternizar, esta é a minha singela homenagem, ainda que póstuma, ainda que muito tardia, a um amigo que não verei mais, e de quem não pude fazer o luto no seu Dia Mais Longo.
Aldino Brito... Onde quer que estejas agora... Nunca te esquecerei.

Descansa em paz.


2 comentários:

Carla Nazareth disse...

Olá, Paulo!
Dói muito e fica um certo arrependimento de não sabemos bem o quê... várias coisas...
Aconteceu-me uma situação idêntica com uma amiga de infância. Durante uns meses não acreditei que fosse verdade e desconfiava que fosse uma história mal contada... um engano... a pessoa errada... até que comecei a sonhar com isso e tive mesmo que desfazer o equívoco, ou melhor... confirmar. Confirmei. Fiquei triste. Senti esse tal arrependimento profundo! Mas cá estou, a lembrar a frase que ela me disse um dia: "Carla, p'rá frente que atr'as vem gente!" Beijinhos, Paulo!

RuAn disse...

Meu máis fondo pessar. Apertas :_(

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