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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Make Lego, not war!





Desde o início do ano que estou em casa, de baixa, devido ao susto que a minha vida decidiu pregar-me. Sempre vivi a 100 à hora, por vezes até à velocidade da luz, que é a velocidade do pensamento. E eu penso muito, demais até.

"Na minha cabeça cabem muitas coisas!", disse o meu filho João do alto dos seus poucos centímetros de altura, quando tinha mais ou menos 3 anos. Coitado, sai ao pai... nem sabe onde se meteu. 

E é exactamente esta minha tendência para as tempestades eléctricas cerebrais que têm tornado este período de convalescença tão difícil de ultrapassar. Estava habituado a viver no 80, agora passei para o 8. Devia aprender a viver no 44... o meio termo que aumenta as possibilidades de virmos a conhecer o 8 deitado -  - mais tarde. Mas não sou assim... sempre saltitei entre o preto e o branco, entre a luz e a escuridão, entre o cima e o baixo tão apaixonadamente como me foi possível, e isso é bom por vezes, outras uma maldição. Agora vivo no cinzento. Há dois meses. Vivo na ironia de nunca ter tido tanto tempo livre como tenho e de nunca conseguir conseguir fazer tão pouco como agora faço. Estou a ilustrar um livro, com a velocidade que a actual aridez criativa me permite. Tenho-me dedicado à culinária, actividade que sinto jamais fará parte do meu curriculum, no capítulo das actividades que domino. Sou mais um seguidor de receitas, que depois as adultera q.b. Tenho mais tempo para estar com os miúdos, tarefa que me dá um enorme prazer mas cujas constantes batalhas campais testosterónicas nem sempre me permitem a paz de espírito monástica que os médicos me condenaram quando tive alta do hospital. E depois há o frigorífico e a televisão. Houve mesmo um dia que dei por mim a assistir a um programa de manhã, daqueles que segundo consta têm como público alvo os idosos... "10 maneiras de usar o aparelho de frisar cabelo" era o nome da rubrica. E eu que tenho um crânio mais liso que uma bola de bilhar.

Céus!

E depois? depois há a minha cabeça que não pára de pensar. De criar cenários. De querer voar. De querer viajar mesmo sem sair o lugar. E o medo de que nada volte a ser como dantes.
E depois há o corpo que pede para correr, mas não pode. Pede para deslizar, mas não pode. Pede para saltar, mas está proibido. Durante este período, descobri da pior forma que sou viciado em drogas... endorfinas para ser mais exacto. As tais que nascem do exercício físico, que dão uma enorme sensação de bem-estar e que ainda por cima são grátis. E agora, parado, imóvel, vejo-me privado das minhas doses semanais. Até hoje, não imaginava que os sintomas de privação pudessem ser tão intensos, e ter tantas consequências, especialmente ao nível emocional.

A minha família e os amigos preocupam-se comigo. Não gostam de me ver assim, triste, cabisbaixo, pardacento. E eu faço de tudo para me manter na luz, afastado da sombra que um eclipse de mim mesmo pode produzir.

Mas por vezes é tão difícil.

Talvez por isso a Natalina e os meu filhos tenham decidido ajudar-me a cumprir um sonho antigo. Sempre quis ter uma volkswagen pão-de-forma. Podia ser de qualquer cor... azul-cueca, amarela ou beje. Com cortinas com flores havaianas, cama e cozinha incluídas. Há uns anos atrás, quando necessitámos de trocar de carro, chegámos mesmo a ponderar adquirir esta viatura icónica. Viatura não, estilo de vida. Mas a razão sobrepôs-se à emoção, e optámos pelo conforto moderno. Ainda hoje não sei se foi uma boa opção.
Pois bem... agora tenho uma. Linda. Vermelha e branca. Daquelas que até os vidros da frente rebatem. E não gasta nada. Só tem um senão... é do exacto tamanho de um pão-de-forma. Tem 1332 peças, e demorou alguns dias a construir. Mas deu-me um gozo do caraças, a mim e aos meus filhos porque estas coisas sabem melhor quando partilhadas. E a minha cabeça pôde finalmente descansar um pouco.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Uma chuva de cor

Algumas fotografias dos dois eventos que criámos especialmente para o 5º Encontro Nacional de Ilustração (Gentilmente cedidas por Patrice Almeida) que aconteceu no passado mês de Outubro em São João da Madeira.
Para este eventos juntei-me uma vez mais um grupo de amigos tresloucados, inconformistas, inconformados, musicais, poéticos, sonhadores, e acima de tudo com um coração do tamanho do universo. Falo do Marc Parchow, uma criança-gigante e companheiro de ondas e de sal. Falo do Ricardo, luminoso, boa onda e com um humor refinado. Falo Paulo Braga, um grande amigo careca com cara de asceta tibetano que é também uma das pessoas mais criativas que conheço. Falo do António Ribeiro, nas sua veias pulsa o Blues. Falo de grande João Mascarenhas, o talentoso menino Triste da BD, com alma de punk e que de triste não tem nada. E last but not least, Fernando Queirós, mestre da percussão e dos barulhinhos bons.










  









Para explicar o primeiro evento, que aconteceu no dia 19 no auditório dos Paços da Cultura, nada melhor do que lerem o texto que foi na altura escrevi para apresentar os nossos objectivos à organização do evento:

O lápis é uma ferramenta verdadeiramente democrática, e genial na sua imensa simplicidade.Tem um design simples, elegante e prático, que resultou tão bem que daqui a 200 anos, algures no porta-luvas de uma nave espacial a viajar à velocidade da luz com toda a certeza encontraremos um. Pode até ser muito pequeno, roído na sua extremidade superior e usado com a parcimónia e dedicação que reservamos aqueles objectos de culto que sobrevivem a tudo e a todos. Poderá ser um objecto de culto, vintage, ou até um amuleto, mas ainda será sempre um... Lápis.
Mas a verdadeira magia de um lápis reside no facto de ter o poder de nos lembrar, todos os dias, que desenhar, deixar uma marca num qualquer suporte para a posterioridade, é uma das actividades mais antigas do mundo - juntamente com a música - e que por isso mesmo está inscrita na nossa memória colectiva. No nosso ADN. Porque este é um evento dedicado a essa pequena varinha mágica feita de madeira e grafite, consideramos que também é, em última análise, uma homenagem ao Desenho, enquanto um dos meios de expressão por excelência, da nossa espécie. E sendo um meio de expressão verdadeiramente democrático, partilhado por todas as raças, culturas, credos e idades, decidimos que este ano o evento multimédia que pretendemos realizar em São João da Madeira deverá reflectir a filosofia do encontro. A música manterá a seu carácter omnipresente, servindo uma vez mais de pano de fundo para a expressão gráfica. No entanto, e ao contrário dos anos anteriores, aquilo que propomos é que todos os participantes deste evento participem verdadeiramente. Activamente. Desenhando aquilo que lhes vier na alma enquanto se deixam embalar pelas ondas sonoras que emanarão do palco. Para tal, todos terão uma pequena placa de MDF com aproximadamente 20 cm - previamente pintada por nós com uma camada de tinta branca - e um lápis, num conjunto gloriosamente simples, e que estará
disponível em todas as cadeiras do auditório. Queremos que as pessoas sejam apanhadas de surpresa, para evitar deste modo a prévia angústia de quem sente inseguro no desenho, mas acima detudo para despertar o Artista Plástico, o Ilustrador que está adormecido dentro de nós, sem preocupações estéticas, sem medo de falhar, sem necessidade de provar algo a alguém e sem o preconceito do belo. E tudo isto durante 45 minutos. No final, pretende-se que estas pequenas placas formem um mosaico para exposição.



Quanto ao 2º espectáculo, decorreu no dia seguinte no átrio do Shopping 8ª Avenida. Eu e o João Mascarenhas produzimos uma ilustração ao vivo, ao som da banda que desta vez voou por territórios mais Rock e Blues.
Muitos foram os que me perguntaram como é que fiz o efeito da chuva de cor. Nada mais "simples". algumas (muitas) dezenas de pequenos canudos de plástico (daqueles que se usam em electricidade), cheios com tintas de muitas cores, e devidamente fechados nas extremidades com fita-cola. Depois foi só colá-los a uma ripa de madeira. Mais tarde, seriam furados de um doa lados, colocado no topo da tela, e perfurados uma vez mais na extremidade contrária, para ver a magia acontecer. Na verdade, não correu exactamente como eu desejava, por isso estou em pulgas por voltar uma vez mais a este método, até atingir exactamente a tempestade de cor perfeita.






























quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

2013 - Ano Internacional da Cooperação pela Água

"2013 - Ano Internacional da Cooperação pela Água"
por Paulo Galindro
Ilustração digital em iPad
Fevereiro de 2013



Uma ilustração para a capa do destacável "Rebentos" que integra a publicação bimestral "Folha Viva", uma revista de ambiente do Centro de Educação Ambiental da Mata Nacional da Machada e Sapal do Rio de Coina, produzida pela Divisão de Sustentabilidade Ambiental da Câmara Municipal do Barreiro.
Esta ilustração foi inteiramente feita em iPad. Faz parte de uma série de experiências que culminará num livro que já estou a ilustrar, inteiramente executado nesta plataforma. Gosto de experimentar novos materiais, sejam eles quais forem. Desde que deixem uma marca mais ou menos indelével num suporte qualquer, e lá estou eu a experimentá-lo. Desta vez decidi abdicar do prazer de sujar as mãos, e experimentar a ilustração digital, e devo confessar que estou a apreciar imenso. Como tudo na vida tem prós e os contras... e como tudo na vida, há que saber exacerbar os primeiros e neutralizar os segundos.