Páginas
▼
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Sobre o infinito e a infinita caganice
Nos últimos tempos não tenho vindo a este meu querido blogue. As razões são muitas, que se prendem essencialmente com a saúde - que não tem sido das melhores - e também porque tenho andado com a telha... e acima de tudo, confesso, bastante desiludido com a natureza humana. A distância entre aquilo que projetamos nos outros e a crueza da realidade é, por vezes, infinita. O problema está em nós, e não nos outros... porque somos nós que criamos mentalmente expectativas para com aqueles que nos rodeiam, que sejam boas ou más, são muitas vezes erradas. No meu caso, que sou o estúpido de um sonhador que ainda acredita em contos de fadas, são mais as vezes em que estou errado, do que as que acerto. Sou aquilo que o meu filho mais pequeno chama de TÓTÓ. Um inadaptado ao estado actual do mundo, o espírito dos tempos também conhecido como Zeitgeist.
Ora bem, inspirado numa conferência que assisti há poucos dias no Youtube, decidi escrever um pequeno manual para acabar de vez com a caganice de muitos humanos com um botão de umbigo do tamanho do sistema solar, quando acreditam que os seus pontos de vista, as suas ideias, as suas opções de vida, os seus julgamentos, as suas verdades, as suas conclusões, as suas atitudes são superiores às dos outros. Chamemos-lhe, por uma questão de comodidade "Breve manual contra a caganice, para tótós": Ora aqui vai:
a) Há 15.000.000.000 de anos deu-se um fenómeno - chamemos-lhe Big Bang - que num infinitamente pequeno instante expandiu uma quantidade infinitamente grande de energia, cujo arrefecimento e a conglomeração deu origem ao que identificamos hoje como o nosso universo, que findo este tempo todo, continua a expandir-se. Uma grande explosão, portanto.
b) A ciência calcula que no Universo existam 200.000.000.000 de galáxias, o que é uma coisa estranha, eu sei. Se o universo é infinito, não deveria haver um número infinito de galáxias?
c) Uma dessas galáxias é a nossa querida Via Láctea, que nem sequer é uma galáxia grande… digamos que tem apenas 100.000.000.000 de estrelas. Nada de especial;
d) Uma dessas estrelas é o nosso ameno sol… aquele disco amarelo que vemos no nosso céu e que nos aquece a alma e o coração. Mas na verdade, o nosso sol é uma estrela humilde, de 5ª categoria, também conhecida como estrela-anã. Eu sei, eu sei, uma desilusão. Mas continua a ser um belo de um sol. Pequenino, pequenino, mas trabalhador;
e) Em torno da nossa estrela giram como piões, 9 massas planetárias, umas maiores, outras nem por isso. Uma delas é um modesto pontinho azul-pálido chamado Terra… o nosso lar, mas que tem tanto mar que se podia chamar Planeta Água;
f) A ciência acredita que no nosso minúsculo planeta existem cerca de 30.000.000 de espécies, das quais ainda só classificámos cerca de 3.000.000;
g) Uma dessas espécies somos nós. Actualmente existem aproximadamente 7.000.000.000 de seres humanos;
h) Um desses seres humanos sou eu. Outro, és tu, que estás aí desse lado do ecrã, com uma paciência infinita para ler posts chatos;
i) Tu e eu, todos nós, somos como um universo. Dentro de cada um de nós existem, assim por alto, cerca de 37.200.000.000.000 de células, que ao contrário dos seres humanos que as a transportam, vivem em harmonia (se não estivermos doentes) para que possamos existir e transformar a nossa curta vida numa viagem que valha a pena. Se pelo caminho, conseguirmos que que a viagem daqueles que no rodeia também valha a pena, atingimos o nosso potencial máximo de glória humana, e com isso ganhamos um bom Karma, que é capital que convém sempre ter em quantidade generosas, e desse modo garantir que não reencarnaremos como mosca da fruta num laboratório de pesquisa médica (Não imaginam o que les fazem com as moscas da fruta);
j) Já agora, e porque estou no domínio do nosso corpo / universo pessoal, ficam a saber que ainda mais por alto, um indivíduo com 70 kg terá um número estimado de 7.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de átomos. Podia usar a notação cientifica... mas não seria a mesma coisa;
k) Desses átomos, 4.700.000.000.000.000.000.000.000.000 serão de hidrogénio, que tem um protão e um electrão cada. 1.800.000.000.000.000.000.000.000.000 serão átomos de oxigénio, com 8 protões, 8 neutrões and 8 electrões cada. E por fim, 700.000.000.000.000.000.000.000.000 serão átomos de carbono, com 6 protões, 6 neutrões e 6 electrões. Fazendo esta simpática conta, chegamos aos seguintes números redondinhos: 23.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de protões, 18.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de neutrões e 23.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de electrões. Espero não me ter enganado muito nas contas. Com mais ou menos um zero, digamos que é um número assim a dar para o grande;
l) Abaixo desta escala já nem me atrevo a entrar. Acabaria os meus dias a babar-me numa sala almofadada, vestido com uma camisola daqueles modelitos que nos prendem os braços atrás e não nos deixam coçar o cucuruto. Tenho outros planos para a minha vida.
Ou seja, resumindo e concluindo… há montes de gente que em pleno século XXI acredita que todo este recreio cósmico feito de zeros à direita foi construído por um Deus - que só pode ser infinitamente Burro em matéria de compreensão e aplicação do binómio custo / benefício - para puro deleite e usufruto de nós, humanos, a espécie mais importante de todo o universo e arredores, que vivemos aqui nesta pálida e humilde bolinha azul. Pior ainda, há muitas pessoas que pensam que tudo isto foi feito especialmente para que ELAS em particular, os seres mais importantes de todo o universo e arredores, existam aqui, com todo o dinheiro, ou o sotaque, ou a cor de pele, ou a religião, ou a profissão, ou o status quo, ou o partido, ou as orientações sexuais, ou um grande etecétera, que têm.
Assim de repente, não acham que é um bocadinho de caganice a mais? Ou será só impressão minha?
Get a life. Live and let live. E parem de viver a vida dos outros. A vossa vida é preciosa de mais para tamanho desperdício. Não façam com que todos estes zeros à direita passem para a vossa esquerda. Seria uma perda de tempo e de energia indesculpável.