Enquanto esperava que a divindade Ganesh viesse instalar-se para sempre no meu braço direito, dei por mim a entrar numa muito pequena e desarrumada livraria em Setúbal à procura de algo especial para ler na hora seguinte. Pilhas, montes, montanhas de livros espalhavam-se ao comprido, verticalmente e, em alguns casos, obliquamente pelo espaço exíguo da livraria. Face à impossibilidade de me orientar em tal confusão, apelei a todos os meus sentidos para que ficassem alerta a qualquer livro que se destacasse dos demais. Acredito profundamente que muitas vezes são os livros que nos escolhem, e de facto, neste caso em particular, só faltou mesmo foi ouvir uma voz a chamar por mim, vinda das profundezas de uma das muitas prateleiras . Lá estava ele, entre alguns milhares de romances históricos e não menos manuais de divulgação cientifica: "O Cavaleiro da Armadura Enferrujada" de Robert Fisher, editado pela Editorial Presença. Um pequeno livro, com apenas 71 páginas, dedicado a todos aqueles que ao longo da sua vida foram vestindo uma armadura brilhante como o sol e dura como o aço, mas que os impede de viver a vida em todo o seu esplendor. Uma fábula belíssima, poética e subtilmente bem humorada, que encerra em si uma mensagem que me tocou bem no fundo da minha alma. A não perder!
"Juliet e Christopher viam muito pouco o cavaleiro porque, quando ele não estava a travar batalhas, a matar dragões e a salvar donzelas, estava ocupado a experimentar a sua armadura e a admirar o seu brilho. À medida que o tempo foi passando, o cavaleiro encantou-se tanto com a sua armadura que começou a utilizá-la ao jantar e, não raro, para dormir. Ao cabo de algum tempo, não se preocupava em tirá-la de todo. Gradualmente, a família esqueceu-se de como ele era sem a armadura.
Ás vezes, Christopher perguntava à mãe como era o aspecto físico do pai. Quando isto acontecia , Juliet levava o rapaz até à lareira e apontava o retrato do cavaleiro, que estava pendurado na parede. Aqui está o teu pai - dizia num suspiro.
Uma tarde, ao contemplar o retrato, Christopher disse à mãe - Como gostaria de ver o pai em pessoa!"
Por Paulo Galindro
Voltaste! Já tinha saudades...
ResponderEliminarMuitos beijinhos e PARABÉNS pelo teu EXCELENTE TRABALHO (pintura, ilustração, escrita and so on and so on...)