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sábado, 30 de abril de 2011

Os meninos dos meus olhos











Este é o meu momento favorito.
Como um parto. O momento em que, pela primeira vez, vejo o Livro que ao longo de semanas apenas existiu dentro da minha cabeça sob a forma de infinitos impulsos eléctricos e químicos. E quando uso aqui o verbo Existir não o faço metaforicamente. Na minha cabeça, o livro sempre teve cheiro, toque, som, peso, corpo. Assim, posso afirmar que o meu grau de prazer em ver pela primeira vez um livro acabado é tanto maior quanto este se aproxima da minha versão mental. E neste caso, posso dizer que os livros se aproximaram como nunca das minhas tempestades cerebrais. Não digo totalmente porque a perfeição não existe, e ainda bem, pois essa pequena imperfeição é o que nos faz querer ser melhores.
Mas, de facto, estes livros-objecto estão mesmo muito próximos dos meus livros-sonho...

Porque os textos da autoria de Maria Inês de Almeida, simples, directos e acima de tudo amplos nas interpretações, provocaram em mim uma cascata de imagens e de emoções impossível de controlar.

Porque me dediquei de corpo, alma e coração em traduzir essas imagens em ilustrações, numa linguagem que pretendi tão universal quanto possível. E como amei fazê-lo!

Porque pela primeira vez pude ser o responsável total pela paginação, o que me permitiu ter liberdade para perseguir os meus livro-sonho.

Porque pela primeira pude controlar in loco na gráfica - juntamente com o Guilherme da editora Booksmile e com o meu agente da Booktailors, Paulo Ferreira - o resultado final da impressão a horas proibitivas (e para eles ainda mais, pois ainda ficaram lá até às 3 da manhã).

E acima de tudo, porque um livro é tanto melhor, quanto melhor funcionar o triângulo Autor + Ilustrador + Editora. E aqui, devo dizer que funcionou na perfeição. Desde o primeiro momento, quando tudo ainda parecia distante, até aos inúmeros encontros de ideias que tivemos pelo meio, e terminado na infinita paciência que todos tiveram para com os meus atrasos na entrega das ilustrações, resultado da vida dupla e surreal que levo.

Agora chegou a hora destes dois livros saírem lá para fora, para o mundo real. Deixarão de ser meus e da Maria Inês de Almeida, e passarão a ser de quem deles se enamorar, de quem se deliciar a decifrar os seus signos, de quem com eles adormecer e sonhar. E esse momento mágico acontecerá na Feira do Livro, no dia 14 de Maio pelas 16 horas, na Praça Verde.

Apareçam... são os nossos convidados de honra. Afinal, tudo isto foi feito especialmente para vocês.

Nota Final: Não obstante do lançamento oficial acima referido, os livros estarão disponíveis nas livrarias no dia 12 de Maio.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Por um país mais doce e feliz







Num momento em que o nosso país se sente triste, sabe tão bem ver esta tradição doce e colorida, tão antiga por estas bandas.
Este fim-de-semana fomos passar a Páscoa à Terrugem, terra ancestral do meu clã e do clã da Natalina, para assistir uma vez mais a uma tradição que considero lindíssima: as Aleluias.
Na noite da véspera de Domingo,  as ruas enchem-se com uma imensa multidão que espera avidamente a chegada da meia-noite, enquanto fazem um barulho imenso com chocalhos. Não se trata de de uma manifestação anti ou pro qualquer coisa... também não se largam bois em debandada - loucos por espetar um corno afiado em sítios impróprios alguém - nem sequer se lançam tomates ou qualquer outro fruto (e não é que o tomate é mesmo um fruto e não legume, como muitos de nós pensamos) . Trata-se apenas de... rebuçados.

Isso mesmo... leram bem!

Rebuçados. São lançados milhares de rebuçados em vários pontos da aldeia, para uma multidão de crianças, e de adultos que por momentos se tornam novamente crianças.
Nas Aleluias não há brigas, não há feridos (tirando alguns dos rebuçados que me atingiram em cheio na careca, mas quem se pode queixar de tamanho milagre), nem sequer o mais pequeno desentendimento. Apenas uma imensa festa onde todos se divertem no meio de uma confusão surreal, digna de um filme de Emir Kusturica.
E os miúdos... bem, nem há palavras para descrever o brilho dos seus olhos, que é de puro êxtase.

Juntos, apanhámos quase 2 kg de rebuçados.

Agora para os mais atentos... ora descubram lá onde é que andamos nós!







quarta-feira, 20 de abril de 2011

15ª EDIÇÃO PRÉMIO NACIONAL DE ILUSTRAÇÃO

esta semana sairam os resultados da 15ª edição do Prémio Nacional de Ilustração, atribuído pela DGLB - Diracção Geral do Livro e das Bibliotecas. A vencedora deste ano foi a Yara Kono, com o livro:



As menções honrosas foram para Afonso Cruz (ah! grande Afonso... este tem sido um ano fabuloso para ti. Já perdi a conta aos prémios e nomeações), com o livro:



e para a Marta Madureira, com o livro:






A todos vocês assim como os autores das obras destacadas pelo júri:

Anabela Dias, pelas ilustrações da obra "A menina de papel", com texto de Teresa Guimarães, publicada pela Trinta por uma Linha;

André da Loba, pelas ilustrações da obra "Bocage: antologia poética", publicada pela editora Faktoria de Livros;

Bernardo Carvalho, pelas ilustrações da obra "Trocoscópio", editada pela Planeta Tangerina;

Madalena Matoso, pelas ilustrações da obra "O primeiro gomo da tangerina", com texto de Sérgio Godinho, editada pela Planeta Tangerina;

Madalena Moniz, pelas ilustrações da obra Sílvio, "O domador de caracóis", com texto de Francisco Duarte Mangas, publicada pela Editorial Caminho;

Teresa Lima, pelas ilustrações da obra Félix, "O coleccionador de medos", com texto de Fina Casalderrey, publicada pela OQO Editora;

Tiago Manuel, pelas ilustrações da obra "Sai do meu filme" (texto e ilustrações), editado pela Calendário das Letras.


Parabéns!

A Mala Assombrada




Dragões e ladrões, tempestades, aranhas e leões:
o meu irmão não tem medo de nada.
E ele só tem cinco anos.
(Eu tenho nove. E assusto-me com tudo.)
Levei a mala para a casa, mostrei-lha e disse-lhe:
«Há um fantasma dentro desta mala.»
«Há?», perguntou o meu irmão.
«Há», repeti eu. «O Fantasma do Casarão.»

Ontem foi o lançamento do novo livro de David Machado"A Mala Assombrada" - com ilustrações de João M. P. Lemos. A apresentação ficou a cargo de Rui Zink. Ficámos muito felizes por poder estar presentes neste dia importante para o autor de "O Tubarão na Banheira", por quem eu eu tenho um grande apreço, e também ter a oportunidade de conhecer pessoalmente João Lemos. O trabalho deste ilustrador é reconhecido mundialmente, e alvo das mais calorosas críticas. Para quem não está dentro do mundo da BD, João Lemos foi o responsável pelos desenhos e arte final do primeiro volume de "Avengers Fairy Tales" editado pela Marvel em 2008, entre outros.
Quanto ao David Machado, só posso dizer bem deste autor, pessoal e profissionalmente. Este já é o Ano D, pois para além deste livro, David lançou há umas semanas atrás o romance "Deixem falar as pedras", editado pela editora Dom Quixote, e que já está na lista das minhas compras prioritárias.
Quanto ao livro propriamente dito, pretende ser uma história de terror para crianças, em que, curiosamente. os personagens em tudo me fazem lembrar os nossos filhos João e Miguel. O nosso exemplar, devidamente autografado, já está embrulhado e pronto a oferecer-lhes.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ludovico Einaudi... Não há 2 sem 3




Na passada sexta-feira fomos, pela terceira vez, assistir a um concerto de Ludovico Einaudi, desta vez no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, num registo mais intimista do que os outros dois (na Sociedade de Geografia de Lisboa e no CCB). Desta vez nem sequer vou tentar descrever o que este compositor me faz sentir... há coisas que, simplesmente, não se deve explicar, sob pena de se esfumarem. Vejam os vídeos acima, e terão uma ideia. O primeiro tema - "Primavera" - foi retirado de um concerto que ele deu no Royal Robert Hall, em Londres, e que foi editado em DVD + CD (que eu recomendo vivamente a compra... são 17,99 euros de pura felicidade). O segundo, é um vídeo realizado por Terje Sorgjerd - filmado do Monte Teíde, Canárias - e que apresenta algumas das imagens mais belas que já vi com a técnica time-lapse. A música, chama-se bem a propósito, "Nuvole Bianche".

Desfrutem, e por momentos, esqueçam tudo o que ouviram no telejornal.

sábado, 16 de abril de 2011

White rabbit



A propósito de uma ilustração que estou neste momento a executar para uma marca de roupa exclusivamente dedicada à ilustração infantil, que vai aparecer no mercado dentro de pouco tempo. Esta é uma das minhas música fetiche.

Avançar significa ir longe. Ir longe significa regressar




Usei aqui uma tradução livre de um excerto do livro "Tao te ching" do filósofo Lao Tsé que fala do eterno retorno e dos ciclos que se repetem ao longo de toda a nossa existência, porque foi exactamente isso que senti na passada terça-feira. Às 22:30, eu, o Paulo Ferreira da Booktailors (a empresa que me agencia) e o Guilherme da editora Booksmile fomos chamados à gráfica Printer para vermos as provas de cor dos meus dois últimos livros. Assim que entrei naquele ambiente - que vibra de trabalho 24 horas por dia - o cheiro das tintas, o som das máquinas, os montes de papel de grande dimensões perfeitamente empilhados, a azáfama dos operadores das máquinas, tudo, absolutamente tudo conspirou para que, num ápice, eu voltasse a ter 6 anos. E não falo metaforicamente. O efeito foi exactamente o mesmo de sentir o cheiro de café de cevada acabado de fazer e de repente ter a minha avó à minha frente, com todos os detalhes bem claros. O meu pai trabalhou em artes gráficas (quando as artes gráficas eram uma verdadeira ARTE, pois tudo era feito sem a sofisticação dos computadores, por intuição e profundo conhecimento empírico... ou resumindo, a nobre arte do "olhómetro") durante toda a vida adulta dele, e por isso mesmo as máquinas Heidelberg, os rolos em alta velocidade, as tintas, os papeis e um milhão de cheiros sem nome sempre fizeram parte da minha existência. Hoje sei que foi esse universo que me guiou até este preciso momento, e agradeço esse privilégio cada vez que pego num pincel.
Por tudo isto, durante as duas horas que lá estive voltei a ser criança, e a sentir aquele fascínio raro de estarmos a ver tudo pela primeira vez... aos 40 anos de idade, estes instantes tornam-se epifanias, e por isso mesmo, mais valiosos que uma mina cheia de diamantes.

Quanto ao que fomos lá fazer, tudo começou bem e acabou ainda melhor. As provas de cor foram afinadas (ou melhor, harmoniosamente dasafinadas, porque em artes gráficas, a afinação perfeita não existe... o que é bom para uma imagem pode revelar-se uma má escolha para outra, o que se torna um problema quando essas duas imagens estão num mesmo plano de papel), e os dois livros que aí vêm vão finalmente ver a luz do dia. Posso desde já levantar um pouco do véu... chamam-se "Sabes que também podes ralhar com os teus pais?" e "Sabes como é que os teus pais se conheceram?", fazem parte de uma colecção mais vasta a editar pela Booksmile. Os textos são da jornalista Maria Inês de Almeida, e posso desde garantir que o resultado final me deixou absolutamente... bem, deixo essa bola do vosso lado.

O lançamento está programado para o dia 14 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro, mas disso falarei aqui mais tarde. Estão desde já convidados.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Cata-livros

O site Cata-livros já foi oficialmente inaugurado. Parafraseando a informação disponível na página da Gulbenkian "Trata-se de um novo projecto desenvolvido pela equipa GULBENKIAN/CASA DA LEITURA que utiliza a internet para aproximar os jovens leitores de um conjunto de títulos essenciais da literatura para infância e juventude, com destaque para a produção nacional, assentando no carácter lúdico e interactivo das narrativas e desafios propostos (...). Animado por uma equipa que inclui João Paulo Cotrim, Fernandina Fernando, Elsa Serra e Mariana Sim-Sim David, entre outros, o portal CATA LIVROS é dirigido aos leitores iniciais e medianos (sensivelmente, dos 8 aos 12 anos) e está construído a partir da metáfora de uma casa, com as suas salas e saletas, cantos e recantos, caves e sótãos, e que levam títulos como “salão salamaleque”, “janela de papel” ou “cozinhório & laboratinha”. O mocho, ícone carismático da CASA DA LEITURA, ganha como parceiro um corvo, e ambos servem de cicerones na aventura em que se transformará a leitura. Os livros abordados são escolhidos segundo critérios de qualidade literária e estética, mas também de representatividade histórica e estilística, sem descurar a atenção ao texto e ao grafismo. Cada mês terá um tema diferente (para começar, por exemplo, «Histórias de bichos estranhos») e, dentro desse tema, um livro destacado e, pelo menos, dezanove outros abordados de modos diversos."

Isto tudo para dizer que, se forem a este link, poderão desfolhar virtualmente o Cuquedo, e até, imagine-se, ouvir a história em voz alta. Esta é a Sala dos Bichos estranhos, e sei de fonte segura que "O tubarão na banheira" irá invadir este espaço dentro de pouco tempo.

Como encantar um arco-íris?



















Foi o Sábado passado. Chamei-lhe "Como encantar um arco-íris?" porque é disso mesmo que se trata. Quando pintamos, na essência estamos a brincar com o espectro de luz visível aos nossos olhos. São muitas as cores que nos são invisiveis - os infravermelhos e os ultravioletas - mas acreditem, aprender a dominar as "poucas" cores que fazem vibrar os olhos da nossa espécie é um trabalho de uma vida, e o nome daqueles que o conseguiram ficou gravado na história da humanidade. Da minha parte, procurei transmitir o muito pouco que aprendi até agora a quem participou nestde workshop. Falei um pouco da ilustração, das técnicas que utilizo (ou da ausência delas), do estilo (ou melhor, da ausência dele), mostrei algumas dezenas de originais, incluindo aqueles que integram os meus dois últimos livros (que adorei fazer,  e que serão lançados no próximo dia 14 de Maio, na Feira do Livro, mas disso falarei aqui mais tarde), e por fim, lancei o desafio para a concepção de uma ilustração a partir da escolha de um de dois textos retirados do livro "Beija-mim" de Jorge Araújo.
Foi a primeira vez que fiz um workshop tão prático, e sei que vou repetir até porque já existem inscritos em lista de espera.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ilustrar é Ler Mais




























Devido ao tremendo fluxo de trabalho a que tenho sido sujeito nas últimas semanas, tem sido muito difícil para mim conseguir arranjar algum tempo para actualizar este blog, e muito menos para o facebook, que é uma verdadeira máquina de queimar tempo em procrastinações inúteis (De facto, todas estas formas de comunicar com mundo servem para mostrar a esse mesmo mundo o quanto temos uma vida interessante, mas depois não temos tempo para simplesmente vivê-la e torná-la interessante por passarmos muito tempo online). Assim sendo, e de forma a actualizar tanto quanto possível os últimos dias, faço questão de colocar aqui algumas imagens de um encontro com as crianças de algumas das escolas de Lisboa, que aconteceu na Biblioteca Municipal de Camões, no âmbito do evento "Ilustrar é Ler Mais". Este evento, que já vai na sua 3ª edição, é realizado em parceria com as escolas, e envolve uma série de iniciativas em torno do trabalho desenvolvido por dois ilustradores... neste caso eu e a Marta Torrão.
Gosto destes encontros com as crianças, porque, de alguma forma, sinto que o ciclo se completa. Neles posso também falar de todos aqueles pequenos grandes segredos que envolvem a ilustração de um livro.

Aproveitei ainda esta oportunidade para conhecer uma biblioteca emblemática e muito velhinha, que não obstante o seu mau estado (parece que vai para obras, isto se o FMI deixar), tem o charme irresistível de um tempo que passou para sempre. Para recordar, uma vista maravilhosa sobre o Rio Tejo, pano de fundo de um gigantesco origami feito com telhas de canudo.