"Um lugar infinito, logo ali" por Paulo Galindro Acrílico, lápis de cera, lápis de cor, pastel, canetas Posca sobre MDF de 3 mm, 1.22 x 1.00 metros Novembro 2011 |
"Um presente para nós" por Natalina Cóias Acrílico, pastel e canetas Posca sobre MDF de 3 mm, 1.00 x 1.22 metros Novembro 2011 |
A Unidade de Cuidados Intensivos (CI) Neonatais e Pediátricos fica mesmo no coração do Hospital Doutor Fernando da Fonseca. E o simbolismo desta localização não poderia ser o mais apropriado. Já o afirmei aqui... É de facto um lugar onde nenhum de nós gostaria de estar. Um lugar onde o fim do mundo nos pode chegar aos trambolhões, e da forma mais inesperada, porque ali, uma das leis mais básicas da natureza é subvertida... Nascer, crescer, aprender, envelhecer e morrer... Um ciclo que afinal pode não chegar nunca a sê-lo.
Mas é também um lugar onde tudo o que de mais nobre define um ser humano se mostra gloriosamente, sem preconceitos, sem raças, sem religiões, sem limites impostos por passaportes. E acima de tudo... um lugar de Esperança... isso mesmo, com um E grande. E na base desta maiúscula que vai até ao céu, está uma equipa de médicos, enfermeiros e auxiliares, que com um carinho e atenção de fazer inveja a muitos pais, se dedicam de corpo e alma a tornar o E ainda maior.
Este projecto que agora terminamos é por isso mesmo dedicado a estas pessoas. E também às crianças que ali estiveram, estão e estarão. E aos pais que não desistem nunca, mesmo quando o universo parece ter desistido deles.
A ideia subjacente ao meu intervenção, que incidiu totalmente na ala de CI de Pediatria - e que por isso mesmo abrange uma faixa etária que vai dos 0 aos 17 anos - foi ilustrar uma série de lugares contemplativos, que falassem muito baixinho. Lugares espiritualmente apaziguadores, mas cromáticamente vibrantes, onde todos nós, de uma forma ou de outra, gostariamos de estar nem que fosse por uns minutos.
A ilustração que apresento acima é profundamente biográfica, pois inspira-se num sonho que tive há uns anos atrás, e que me tocou profundamente:
Lentamente, muito lentamente, saio do meu corpo, como se estivesse a nascer novamente. Elevo-me, toco o estuque do tecto, que não oferece resistência. Atravesso-o, atravesso o betão, atravesso toda a matéria que existe entre mim e o céu. Voo, cada vez mais alto, cada vez mais etéreo. passo por pingos de chuva que nem me molham porque eu não tenho um corpo para molhar. Furo as nuvens, cuja humidade se cola ao meu corpo, deixando um rasto de vapor de água à medida que eu, cada vez mais leve, cada vez mais rápido, ascendo. Chego às camadas mais altas da estratoesfera, olho para trás e vejo o nosso planeta, cada vez mais longe, cada vez mais pequeno, cada vez mais azul. Liberto-me ds atmosfera, liberto-me da força gravitacional, e sinto-me livre como nunca me senti. Passo por Marte, maravilho-me com Júpiter, ando no carrossel que envolve Saturno. Urano, Neptuno e Plutão passam por mim. E eu, cada vez mais rápido, cada vez mais leve, entro no espaço profundo. Rio-me à gargalhada, mas nada se ouve, porque no vazio nada se pode ouvir. Estendo as mãos, toco em poeira cósmica, que deixa uma cauda atrás de mim, como um cometa. Rio-me às gargalhadas...
... e ainda me estou a rir às gargalhadas. Nas minhas mãos persiste o frio do pó de um milhão de estrelas*.
A ideia subjacente à intervenção da Natalina - que incidiu na ala de CI Neonatais - foi a magia de se ter um filho, e no milhão de cores que esperam por ele cá fora, quando crescer e puder sair do ambiente controlado da incubadora, que emula o útero da mãe. O traço e a estética característica da Nat - aconchegantes e calorosos - cairam que nem uma luvam neste ambiente, reforçando a ideia de que, quando uma criança nasce tão cedo, a sua sobrevivência recai em grande parte nos laços e no toque que se criam com os pais
(*) E não... não fumei nem tomei nenhuma substância ilegal.
Mas é também um lugar onde tudo o que de mais nobre define um ser humano se mostra gloriosamente, sem preconceitos, sem raças, sem religiões, sem limites impostos por passaportes. E acima de tudo... um lugar de Esperança... isso mesmo, com um E grande. E na base desta maiúscula que vai até ao céu, está uma equipa de médicos, enfermeiros e auxiliares, que com um carinho e atenção de fazer inveja a muitos pais, se dedicam de corpo e alma a tornar o E ainda maior.
Este projecto que agora terminamos é por isso mesmo dedicado a estas pessoas. E também às crianças que ali estiveram, estão e estarão. E aos pais que não desistem nunca, mesmo quando o universo parece ter desistido deles.
A ideia subjacente ao meu intervenção, que incidiu totalmente na ala de CI de Pediatria - e que por isso mesmo abrange uma faixa etária que vai dos 0 aos 17 anos - foi ilustrar uma série de lugares contemplativos, que falassem muito baixinho. Lugares espiritualmente apaziguadores, mas cromáticamente vibrantes, onde todos nós, de uma forma ou de outra, gostariamos de estar nem que fosse por uns minutos.
A ilustração que apresento acima é profundamente biográfica, pois inspira-se num sonho que tive há uns anos atrás, e que me tocou profundamente:
Lentamente, muito lentamente, saio do meu corpo, como se estivesse a nascer novamente. Elevo-me, toco o estuque do tecto, que não oferece resistência. Atravesso-o, atravesso o betão, atravesso toda a matéria que existe entre mim e o céu. Voo, cada vez mais alto, cada vez mais etéreo. passo por pingos de chuva que nem me molham porque eu não tenho um corpo para molhar. Furo as nuvens, cuja humidade se cola ao meu corpo, deixando um rasto de vapor de água à medida que eu, cada vez mais leve, cada vez mais rápido, ascendo. Chego às camadas mais altas da estratoesfera, olho para trás e vejo o nosso planeta, cada vez mais longe, cada vez mais pequeno, cada vez mais azul. Liberto-me ds atmosfera, liberto-me da força gravitacional, e sinto-me livre como nunca me senti. Passo por Marte, maravilho-me com Júpiter, ando no carrossel que envolve Saturno. Urano, Neptuno e Plutão passam por mim. E eu, cada vez mais rápido, cada vez mais leve, entro no espaço profundo. Rio-me à gargalhada, mas nada se ouve, porque no vazio nada se pode ouvir. Estendo as mãos, toco em poeira cósmica, que deixa uma cauda atrás de mim, como um cometa. Rio-me às gargalhadas...
... acordo...
... e ainda me estou a rir às gargalhadas. Nas minhas mãos persiste o frio do pó de um milhão de estrelas*.
A ideia subjacente à intervenção da Natalina - que incidiu na ala de CI Neonatais - foi a magia de se ter um filho, e no milhão de cores que esperam por ele cá fora, quando crescer e puder sair do ambiente controlado da incubadora, que emula o útero da mãe. O traço e a estética característica da Nat - aconchegantes e calorosos - cairam que nem uma luvam neste ambiente, reforçando a ideia de que, quando uma criança nasce tão cedo, a sua sobrevivência recai em grande parte nos laços e no toque que se criam com os pais
(*) E não... não fumei nem tomei nenhuma substância ilegal.
Obrigada, Paulo e Natalina!
ResponderEliminarGostei das ilustrações, do trabalho e do sonho ... gostei do sonho. Curiosamente em tempos tive um sonho em tudo muito semelhante ... a saída através do tecto, o regresso ... para quem acredita chama-se "viagem astral" ... :)
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