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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A luz que me tatua os olhos

"Atlas"
Por Paulo Galindro
Lisboa, 5 de Abril de 2012 ás 15:28





"Quando o homem tem força de vontade, os deuses dão uma ajuda."


Ésquilo

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Vem aí um novo livro...



Esta é a capa e contracapa do novo livro ilustrado por mim. Chama-se "Histórias às cores", e são isso mesmo, histórias, 8 no total, escritas pelo António Mota. Ainda não o vi fisicamente, mas sei que estás prestes a sair da gráfica, com aquele cheiro e som fabulosos que só os livros folheados pela primeira vez têm.
O lançamento oficial será no bonito Palácio Valenças, já no próximo dia 10 de Novembro, pelas 15:00 h, no âmbito do evento 10º Encontro de Professores e Educadores do Concelho de Sintra sobre Bibliotecas Escolares.

A luz que me tatua os olhos

"Horizonte?"
por Paulo Galindro
Carcavelos, 28 de Outubro de 2012 às 17:45


“Reality is merely an illusion, albeit a very persistent one.” 

Albert Einstein

sábado, 27 de outubro de 2012

Uma tragédia silenciosa

"Alterações climáticas... uma tragédia silenciosa"
por Paulo Galindro
Acrílico sobre MDF
29x40 cm
Outubro 2012

Esta é mais uma ilustração para a capa do destacável "Rebentos" que integra a publicação bimestral "Folha Viva", uma revista de ambiente do Centro de Educação Ambiental da Mata Nacional da Machada e Sapal do Rio de Coina, produzida pela Divisão de Sustentabilidade Ambiental da Câmara Municipal do Barreiro.

Desta vez o tema foi as Alterações Climáticas, e como sempre tive total liberdade para criar. Posso desde já dizer que esta é uma daquelas ilustrações cujo processo criativo me deixou triste. Muito triste. E o resultado transparece isso mesmo. Na história que esta ilustração conta, este urso não sobreviverá, como não sobreviverá nenhum urso que acabe confinado a um pedaço de gelo que se desprenda, e flutue à deriva no oceano, até ao seu completo e rápido derretimento. E são muitos... muitos mesmo aqueles que acabam por morrer afogados.

Não vou mentir. Esta foi para mim uma das ilustrações mais tristes que já saíram das minhas mãos. Pela solidão, pela ausência de esperança que se desprende deste pobre animal, pelo fim que avizinha, que é tudo menos um "(...) e viveu feliz para sempre!". Perdoem-me por isso alguma crueldade por baixo destas camadas de tinta. Mas há histórias que não se conseguem contar de outro modo. Ninguém as ouviria. E eu quero que todos oiçam esta minha história.



"Era uma vez um urso polar - branco como a neve - que vivia no Pólo Norte, coisa que ele nunca poderia saber, porque é um urso, e os ursos não usam bússola. 
Floco, chamemos-lhe assim, tinha uma vida simples, e feliz. Caçava. Dormia. Cortejava. Procriava. Comer. E percorria os grandes horizontes, porque os ursos são livres como o vento, não ficam confinados à área que conhecem. Mas ele não poderia pensar sobre estas coisas, porque é simplesmente um urso. E os ursos, mesmo os muito grandes, não filosofam.
Floco não poderia saber que algures para lá da vastidão do oceano, seres com braços e pernas como ele, mas mais pequenos, menos brancos e inteligentes -  não se preocupam com a Grande Casa Azul onde vivem, nem com a Grande Casa Azul que irão deixar às suas crias. Floco não poderia saber que estes seres se movem em caixas com rodas e albatrozes de metal que produzem lixo-que-voa. Que também produzem grandes quantidades de lixo-que-não voa-e-que-flutua-e-nunca-desaparece. Floco não poderia saber isso. Ele é apenas um urso que nunca viu nada dessas coisas, e mesmo que visse não poderia meditar sobre elas, porque os ursos não meditam. Não é essa a sua natureza.
Já aqui o disse, mas importa repetir... A sua natureza é viver, caçar, dormir, procriar, comer e percorrer sozinho  grandes distâncias  porque é um ser livre como o vento. Não é muito inteligente, é certo. Pelo menos não pelos padrões das criaturas além-mar. Mas em muitos aspectos é infinitamente mais inteligente. Viver era por isso o que ele estava a fazer quando o chão debaixo das suas patas vibrou, se desprendeu, e um enorme pedaço de gelo tornado ilha deu início à sua curta epopeia oceânica.
Os dias passaram lentamente. As noites, simetricamente, também. Floco não poderia saber o porquê de tudo isto. Sabia apenas... sentia apenas que nunca conseguiria nadar a distância enorme que cada vez mais o separava da sua grande casa de gelo. Não poderia saber que o um bloco de gelo derrete rapidamente, e que mais tarde ou mais cedo se torna aquilo que já é. Água. Nuvem. Chuva. Oceano. Água. Floco não poderia saber que neste ciclo infinito, ele é um apenas um pormenor de somenos importância. Um grão de pó na enorme máquina natural. 
É... um urso não pensa nessas coisas. Não sabe nada sobre as mudanças que estão a acontecer na Grande Casa Azul. Não conhece as palavras Clima e Ozono, nem tão pouco CO2 ou Aquecimento Global. Não sabe nada sobre a Vida e a Morte e Tudo o que está Antes e Depois.
Em prol de uma história anímicamente mais rica,  podemos até imaginar que algures no mais fundo da sua alva alma, Floco sentisse um pouco de tudo isto, ainda que de uma forma sem forma. Seja como for, nunca o saberemos, pois para Floco esta noite seria ...

...eterna."




Paulo Galindro,  27 de Outubro de 2012.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

ETerna Biblioteca




"ETerna Biblioteca"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre painel de MDF com 0,48x0,68 cm
Outubro de 2012

Cartaz

Capa do programa

Programa



Há algumas semanas atrás desafiaram-me a fazer o cartaz para o 10º Encontro de professores e educadores do concelho de sintra sobre as bibliotecas escolares, que irá acontecer nos próximos dias 9 e 10 de Novembro no lindo Palácio Valenças, em Sintra. Para este evento, também conhecido   por ETerna Biblioteca já foram concebidos cartazes pelos ilustradores Pedro Leitão, Danuta Wojciechowska e pela Ana Sofia Gonçalves. Chegou agora a minha vez de meter as mãos nas tintas.

Para o efeito, inspirei-me no misticismo e na magia de Sintra, na inconfundível silhueta do Palácio da Pena (reconhecem-na na ilustração?) e nos azulejos que por lá abundam. O design / paginação do cartaz e do programa também são da minha autoria.
Este trabalho ganhou para mim um maior simbolismo porque o lançamento oficial do meu novo livro, com textos de António Mota vai acontecer no âmbito deste evento. Mas disto falarei num próximo post.

Os resultados finais foram estes.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A luz que me tatua os olhos

"Os caminhantes da água"
Lisboa, Cais das Colunas
25 de Outubro de 2012 às 17:45

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Parabéns Booktailors


A Booktailors - Consultores Editoriais, actualmente desdobrada na Bookoffice no que ao agenciamento de autores diz respeito, fez 5 anos. A minha parceria com esta empresa começou mais ou menos há 2 anos, um momento que representou para mim um ponto de viragem. Ao me prestarem um serviço de agenciamento, Booktailors / Bookoffice, e muito especialmente o Paulo Ferreira - que por vezes suspeito que vai buscar a sua energia a um reactor nuclear escondido algures num dos seu bolsos - trouxeram para o meu percurso profissional um dinamismo que me fazia muita falta, ainda para mais atendendo à vida dupla que levo entre a arquitectura e a ilustração, que me rouba muita disponibilidade para assuntos tão importantes como a promoção do meu trabalho, questões de carácter administrativo / contratual e reuniões com as editoras. E se tal ainda não bastasse, desenvolvi com eles uma relação de amizade, o que é sempre o mais importante de tudo.

Infelizmente, a festa, que aconteceu na Voz do Operário na passada sexta - Feira, coincidiu com a minha ida para São João da Madeira, para participar no 5º Encontro Nacional de Ilustradores. Não quis no entanto deixar de estar presente, ainda que de uma forma virtual a pixelada. Este foi o pequeno vídeo que produzi especialmente para o evento, e que foi projectado durante a festa.
É óbvio o meu fascínio pelo cinema mudo. Já o tinha feito aqui, mas a experiência foi tão fixe que decidi fazê-lo novamente. Perdoem-me por isso a possível sensação de déjà vu.



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

6 anos

 

Faz hoje 6 anos que o furacão Miguel entrou de rompante na nossa vida. Há 6 anos atrás, este pequeno reactor nuclear abriu os olhos, e ao chorar pela primeira vez, trocou-nos a ordem dos pontos cardeais e ofereceu-nos mais um norte.

 

 

domingo, 14 de outubro de 2012

Era uma vez um lápis

"O lápis é o teu melhor amigo"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre painel de MDF de 25x25 cm
Agosto de 2012


"Um lápis ajuda-te a chegar mais perto do teu coração!"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre painel de MDF de 25x25 cm
Agosto de 2012

Lápis, tu conténs um ciclo de vida inteiro,
Inscrevendo a passagem do tempo nas tuas entranhas
Permitindo, porém, a inscrição de uma marca quase atemporal.
Lápis, em único testemunho do nascimento, da vida e da morte da árvore,
Bem podes orgulhar-te da tua origem na terra,
Do teu crescimento para o céu,
Da tua formação com o fogo,
E da tua aliança transformadora com a água.
Como uma árvore genealógica, inscreves em ti o genograma dos quatro elementos vitais,
Das quatro componentes fundamentais que estruturam um conto,
Ancestral, magnífico, imemorial.
Na tua essência encontra-se a fusão dos princípios, eros e tanato,
Mas também a aliança, sem falha, alfa e ómega, dos elementos,
Para que estes escrevam outras histórias de vida.
Lápis que risca, que marca, da tua rigidez nasce o movimento;
Lápis que esboça, que desenha, da tua negrura irradia a cor, surge a luz;
Lápis que estrutura, que constrói, da sua solidez emerge o esqueleto de um plano, a coluna vertebral de um projecto;
Lápis que planeia, que projecta, da tua redução pelo fogo brota o futuro, tão amplo, abrindo o universo dos possíveis.
Lápis de cor, lápis de cera, lápis de olhos, lápis de lábios,
De mina mole ou dura, rija ou tenra,
Sublinhas um detalhe, contornas um limite, evidencia um de muitos aspectos,
Com um traço, sempre único, talvez belo ou nem por isso.
Lápis vermelho, apontas o erro, desvalorizas a tentativa;
Lápis azul, censuras a ideia, aniquilas a diferença.
Lápis grande, pequeno,
Largo, delgado,
Redondo, achatado ou pentagonal,
Decorado ou banal,
Comum ou especial,
Liso ou com borracha,
Escorregadio ou anti-deslizante,
Para o operário, para o general,
Para o simples ou o genial,
Para o estudante e o doutor,
Na mão, direita ou esquerda,
No pé, até,
Nos bolsos, de todas as formas e feitios,
Ou atrás da orelha
O merceeiro, o carpinteiro e o poeta,
Estes guerreiros do quotidiano e da alma,
Precisam de ti,
Pois assinalas o diário como o fenomenal,
O vulgar e o espiritual.
Lápis, lapiseira,
Grafite, grafema,
Afias o decorrer do tempo,
Aparas a distribuição do espaço,
Desafias sempre a percepção do sentido.
Lápis novo, usado e mesmo velho,
Permites a transformação do natural em funcional,
Do branco da página em arte,
Das letras em mensagens,
Do vazio da folha em vastos espaços espaçosos,
Da textura real, da gramagem do papel em viagens indeléveis,
Do caos em memória estruturada.
Lápis, pouco importam, afinal,
As tuas cores, as tuas formas, as tuas texturas, os teus tamanhos e até mesmo a tua idade,
Pois exorcizas o genograma,
Explicando a genealogia das origens,
A conjuntura do presente
Onde se fundiu – diluído ou espesso – o passado ainda activo.
Lápis, novo ou já todo roído,
Gostaria que traçasses projectos de amor – sempre planos de construção – erguidos a dois e em duro…
Que destruísses todo e qualquer muro
Que não fosse de ternura um abrigo
E que arvorasses sonhos alcançáveis
A partir de uns simples traços
Como o bom e o belo, fortes e ligeiros,
Assim transformados em laços,
Então unidos em abraços…




A 5ª edição do Encontro Nacional de Ilustradores de São João da Madeira é já esta semana, e estas foram as das ilustrações que concebi para o tema deste ano, que como já devem ter percebido pelo texto acima, é essa varinha mágica chamada...

Lápis

O que vem bem a propósito. Caso não saibam, a Viarco está sediada desde sempre em São João da Madeira, e o tema é, por isso mesmo, também uma homenagem a esta fábrica de lápis que faz parte da nossa memória colectiva. E ainda por cima é linda... se não a visitaram, estão a perder uma verdadeira viagem no tempo, tanto para o passado como para o futuro, já que a Viarco conseguiu o equilíbrio perfeito entre tradição e inovação.

Quanto ao programa, podem consultar aqui.
Quanto às novidades, podem acompanhá-las no Facebook.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Parabéns Afonso





O Afonso Cruz ganhou mais um prémio. Desta vez foi o Prémio da União Europeia para a Literatura, pela obra A Boneca de Kokoschka (Quetzal, 2010). Já o disse aqui várias vezes - e já lho disse pessoalmente - sou fã incondicional deste moçoilo. Pelo seu trabalho desenvolvido na área da ilustração. Pelo seu trabalho desenvolvido na área da música, com os Soaked Lamb (que já agora, todos nós lá em casa também somos fãs), e acima de tudo, pelo seu trabalho desenvolvido na literatura (já li quase todos os livros que escreveu. São muito, muito bons). Ainda não tive o privilégio de poder analisar o seu trabalho desenvolvido como mestre cervejeiro, mas a julgar pela colheita provinda dos outros seus inúmeros talentos, não deverá ser menos do que muito boa. Em suma, o Afonso é para mim o ser que conheço pessoalmente que mais se aproxima do conceito de Homem Renascentista. Por tudo isto, não é surpresa para mim que tenha sido contemplado por mais um prémio tão importante, ainda para mais numa área que sei irá muito mais longe do que sequer se possa neste momento imaginar.
Para acabar, e para que fiquem a conhecer melhor este personagem singular, faço minhas a palavras do Booktailors, mais especificamente através da sua agência nacional de serviços de autor - Bookoffice - da qual tenho o privilégio de fazer parte:

"Por vezes admiramos a obra de um autor, mas a figura causa-nos alguma resistência. O Afonso, felizmente e a par de todos os autores que representamos, não é um desses casos. A um talento ímpar, o Afonso junta uma tranquilidade, uma boa disposição, uma simpatia e delicadeza desarmantes. Apresenta ainda uma invulgar erudição que não raramente nos orgulha (e humilha um pouco – a nós, que não viajámos por 60 países, que não temos a sua voz grave, que não damos concertos, que não escrevemos os seus livros, que não conseguimos dissertar horas sobre cerveja sem defraudar a assistência)."


Parabéns, Afonso

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Emigrantes






"Emigrantes em busca de um futuro melhor, refugiados políticos, deslocados de guerra... esta novela gráfica sem palavras de Shaun Tan é uma magistral homenagem a todos aqueles que empreenderam uma viagem definitiva, física e existencial, nas suas vidas. O protagonista de “Emigrantes” deixa o seu lar e a sua família, uma cidade mergulhada na crise, e é acolhido por um país onde enfrenta uma língua desconhecida, costumes diferentes e incertezas. A obra plasma também a nostalgia pelos entes queridos, as experiências de outros emigrantes, o duro processo de adaptação à nova realidade, a passagem do tempo e a hospitalidade da povoação."


Talvez porque as nossas vidas estão a mudar drasticamente, à escala do dia. Da hora.
Talvez porque todos os dias assistimos a actos de terrorismo que ameaçam destruir permanentemente tudo o que até aqui tínhamos conquistado lentamente.
Talvez porque nos roubaram a capacidade de sonhar, e com ela a vontade de acordar de manhã, porque todos precisamos de um caminho para percorrer. Um destino para chegar, mesmo que nunca cheguemos, porque é a viagem que conta. E até o prazer dessa viagem nos estão a roubar.
Talvez porque a necessidade de emigrar - de procurar um lugar onde nos permitam viver com alguma dignidade e oferecer aos nossos filhos um futuro - volta a ser uma realidade omnipresente e transversal a todos nós.
Talvez por tudo isso, hoje tenha dado por mim a degustar com uma atenção infinita muito gourmet cada página deste álbum ilustrado por Shaun Tan - Emigrantes - que é uma obra prima arrebatadora. Pela técnica, pela história, pelo carácter cinemático, pelo sentido de lugar, pelo sentir cada emoção dos personagens. Shaun Tan é, para mim, um dos grandes ilustradores a nível planetário. 
Talvez por tudo isso este livro me tenha arrancado algumas lágrimas, e me tenha deixado com o coração à flor da pele.
Talvez porque pressinta que muito, muito mais cedo do que poderia imaginar há alguns meses atrás, este possa vir a ser o meu destino. O destino de muitos de vós.