Não vou esconder, foi para mim uma imensa honra ilustrar uma história de tão digníssimo autor. Diria até que teve o seu grau de surrealismo pessoal, já que nunca poderia imaginar, há uns anos atrás, enquanto me arrepiava com o maravilhoso "O velho que lia romances de amor", que um dia viria a dar corpo a uma história do mesmo autor.
As ilustrações deste livro foram concebidas numa das piores fases de toda a minha vida... o momento em que meu Centro de Gravidade tremeu pelas bases. Num dos momentos mais difíceis de ultrapassar, cheguei mesmo a ter a certeza de que jamais terminaria este projecto. Não por falta de força anímica, mas sim porque nesse instante todo o processo criativo deste livro me pareceu uma demanda para lá das minhas possibilidades. Mas esta história teve um final feliz... e os escaparates das livrarias estão aí para o provar.
A história, não me canso de dizer, é doce, doce, doce. De Sepúlveda, amante das coisas boas e simples da vida, não se esperaria outra coisa. Fala de amizade. Fala de lealdade. Fala do imperativo de não se deixar ninguém para trás. Fala de glória de se estar vivo, e de se viver cada momento como se fosse o último. Fala da tragédia dos sonhos interrompidos, e da epifania dos sonhos reencontrados. Fala de voos interiores, e de voos ao ar livre. Fala de um ratinho mexicano que é um dos personagens mais apaixonante e fleumático que tive de dar corpo. E, acima de tudo, fala do poder do Coração, que rima com Criação, com Paixão e com Dedicação. A equação perfeita:
Coração = Cor + Ação
Sei que é um lugar comum. Um chavão que qualquer autor recorre quando fala do momento em que o melhor de si mesmo ganha asas e sai à rua. Mas é a mais cristalina das verdades... este livro deixou, neste preciso momento, de ser meu. É vosso. Todo. Capa e contracapa. Índice, miolo e ilustrações. Tenho a certeza que o Luís Sepúlveda pensa da mesma forma. É essa a resposta à eterna pergunta que me fazem quando vou a escolas, a palestras e afins:
O que é que sinto quando vejo um dos meus livros num escaparate de uma qualquer livraria?
Um vazio imenso, que apenas poderá ser preenchido durante o processo de concepção de um próximo livro. É essa a suprema beleza e maldição de tudo isto, pelo menos no que a mim diz respeito. É uma droga. Um estado alterado de consciência. Uma paixão assarolhopada, incondicional e avassaladora. Uma trip psicadélica de cor, de letras, de palavras, frases e de ideias que se atropelam umas às outras até que as fixemos atrapalhadamente num qualquer bloco de desenho. Tudo isto num mandala construído com as infinitas imagens que se foram atravessando à frente dos meus olhos, ao longo da minha existência. E no fim de tudo isto... um imenso vazio. Não um vazio-vazio. Mas sim um imenso vazio-cheio.
E agora... como é que saio deste imbróglio filosófico. É que nem vou tentar. Não vale a pena.
Espero que gostem do livro.
Espero que o Luís Sepúlveda goste do livro (1 e 2 de Junho irei saber pelo próprio, já que iremos estar juntos na feira do Livro de Lisboa).
O meu coração adorou. Fez-lhe bem. De certo modo talvez o tenha salvo.
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