Páginas

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Prometido é devido

"Sala de Espera"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre painel de MDF 1.22x0.61m
Maio de 2013


Este foi um compromisso que fiz comigo mesmo em Fevereiro de 2009, quando a nossa querida Ruth se crepusculou. Nesse dia que cá por casa recordamos com um enorme sentimento de perda, mas também de gratidão por termos sido honrados com a experiência de partilhar um pouco da nossa curta existência neste mundo louco e cheio de contrastes com um ser tão luminoso. A Ruth era de facto um Ser de Luz, sem asas é certo - pelo menos daquelas que conseguimos ver nas aves e nos anjos barrocos - mas com pêlo em quantidade suficiente para colmatar essa falha biológica. Foram muitas as vezes que olhei para ela, e pressenti que numa qualquer outra vida, a Ruth talvez tenha sido um ser humano maravilhoso que ao reencarnar nasceu como um ser ainda mais evoluído.

Nesse momento muito triste prometi a mim mesmo que prestaria duas homenagens, através daquilo que melhor sei fazer... Ilustração: à nossa amiga Ruth, e ao meu grande amigo Miguel Carreira, que também é o melhor veterinário que conheço. E esta constatação estende-se a toda a equipa dele, que o acompanha no Centro de Medicina Veterinária Anjos de Assis, no Barreiro. De facto, ainda que represente para nós uma viagem algo longa cada vez que lá vamos, é só nesta equipa que confiamos sem reservas. E acreditem, quando realmente amamos um animal, essa confiança é imprescindível e a única coisa que nos resta, quando naquele preciso momento que ninguém que sequer imaginar, nos dizem que o melhor para a nossa melhor amiga é a eutanásia... a solução mais misericordiosa e humana face a um sofrimento incomportável e sem solução.


4 anos se passaram, e muita coisa aconteceu, das quais destaco a promessa de que jamais voltaríamos a ter um cão, e mais tarde o amor à primeira vista com uma bolinha branca e preta com pouco mais de 20 cm chamada Skye, que tratou de nos mostrar de forma nada subtil que nunca deveremos dizer nunca.
Recentemente a Skye teve um acidente que lhe lhe podia ter custado a pata frontal direita: numa manhã quente de domingo e sem que eu pudesse evitar, a Skye atirou-se para dentro de um espelho de água de um jardim perto da nossa casa. No momento em que vi uma auréola da sangue a espalhar-se em torno dela, percebi que algo estava errado. Muito errado. Dois cortes - um deles muito grave - de um pedaço de vidro, custou-lhe um dedo da pata frontal esquerda, que gangrenou mais tarde e resultou num ENORME problema só sanável com uma quantidade enorme de medicamentos e alguma sorte. E uma vez mais, pude comprovar que a equipa do Miguel Carreira foi a melhor coisa que podia ter acontecido à Skye. Decidi por isso, em modo de profundo agradecimento por todos estes anos, fazer a tal ilustração que acima referi e mostro. A Ruth, como não poderia deixar de ser (afinal, foi ela o verdadeiro mote desta ilustração) aparece por lá, mas só será visível aos mais atentos.
Demorou aproximadamente 20 horas a ser executada, e no final fica uma enorme sensação de paz interior por ter cumprido uma promessa perante a nossa grande amiga, no momento em que fechava os olhos. O Miguel Carreira não faz a mais pequena ideia que amanhã à noite irá receber este presente, e espero sinceramente que se alguém porventura o conhecer, não vá denunciar os meus intentos.

"Skye watching the Sky"
por Paulo Galindro
Ilustração digital em iPad
Abril de 2013

Entretanto, a Skye já saiu da zona de perigo. Ainda carrega ao pescoço um malfadado cone, que ela já não pode ver nem que o mesmo se transformasse num cone de queijo flamengo revestido a lâminas de presunto com 9 meses de cura. Cá por casa já a comparámos a um abajur, a um copo de Martini com uma azeitona preta e branca lá dentro, a uma grafonola e a um aspirador. No entanto, há umas noites atrás, enquanto a catraia fazia um cócózito (que foi devidamente apanhado com um saco, como aliás todos os donos de animais deveriam fazer) e olhava atenta para cima, para um céu estrelado e um luar gloriosos, dei por mim a pensar que ela afinal parece um...

... radiotelescópio.

Com esta ilustração tentei congelar esse momento mágico, uma imagem que só por si já valia uma história inteira.


2 comentários:

  1. Amigos incondicionais. Bonitas homenagens!

    Os meus estão aqui: diariodawendy.blogspot.com

    ResponderEliminar
  2. Ui! Comovi-me! Belos textos. Parabéns. Eu ainda estou na fase do nunca, embora secretamente saiba que este nunca é só, e apenas, até um dia...

    ResponderEliminar

Muito obrigado pelo seu comentário.