"Sala de Espera" por Paulo Galindro Técnica mista sobre painel de MDF 1.22x0.61m Maio de 2013 |
Este foi um compromisso que fiz comigo mesmo em Fevereiro de 2009, quando a nossa querida Ruth se crepusculou. Nesse dia que cá por casa recordamos com um enorme sentimento de perda, mas também de gratidão por termos sido honrados com a experiência de partilhar um pouco da nossa curta existência neste mundo louco e cheio de contrastes com um ser tão luminoso. A Ruth era de facto um Ser de Luz, sem asas é certo - pelo menos daquelas que conseguimos ver nas aves e nos anjos barrocos - mas com pêlo em quantidade suficiente para colmatar essa falha biológica. Foram muitas as vezes que olhei para ela, e pressenti que numa qualquer outra vida, a Ruth talvez tenha sido um ser humano maravilhoso que ao reencarnar nasceu como um ser ainda mais evoluído.
Nesse momento muito triste prometi a mim mesmo que prestaria duas homenagens, através daquilo que melhor sei fazer... Ilustração: à nossa amiga Ruth, e ao meu grande amigo Miguel Carreira, que também é o melhor veterinário que conheço. E esta constatação estende-se a toda a equipa dele, que o acompanha no Centro de Medicina Veterinária Anjos de Assis, no Barreiro. De facto, ainda que represente para nós uma viagem algo longa cada vez que lá vamos, é só nesta equipa que confiamos sem reservas. E acreditem, quando realmente amamos um animal, essa confiança é imprescindível e a única coisa que nos resta, quando naquele preciso momento que ninguém que sequer imaginar, nos dizem que o melhor para a nossa melhor amiga é a eutanásia... a solução mais misericordiosa e humana face a um sofrimento incomportável e sem solução.
4 anos se passaram, e muita coisa aconteceu, das quais destaco a promessa de que jamais voltaríamos a ter um cão, e mais tarde o amor à primeira vista com uma bolinha branca e preta com pouco mais de 20 cm chamada Skye, que tratou de nos mostrar de forma nada subtil que nunca deveremos dizer nunca.
Recentemente a Skye teve um acidente que lhe lhe podia ter custado a pata frontal direita: numa manhã quente de domingo e sem que eu pudesse evitar, a Skye atirou-se para dentro de um espelho de água de um jardim perto da nossa casa. No momento em que vi uma auréola da sangue a espalhar-se em torno dela, percebi que algo estava errado. Muito errado. Dois cortes - um deles muito grave - de um pedaço de vidro, custou-lhe um dedo da pata frontal esquerda, que gangrenou mais tarde e resultou num ENORME problema só sanável com uma quantidade enorme de medicamentos e alguma sorte. E uma vez mais, pude comprovar que a equipa do Miguel Carreira foi a melhor coisa que podia ter acontecido à Skye. Decidi por isso, em modo de profundo agradecimento por todos estes anos, fazer a tal ilustração que acima referi e mostro. A Ruth, como não poderia deixar de ser (afinal, foi ela o verdadeiro mote desta ilustração) aparece por lá, mas só será visível aos mais atentos.
Demorou aproximadamente 20 horas a ser executada, e no final fica uma enorme sensação de paz interior por ter cumprido uma promessa perante a nossa grande amiga, no momento em que fechava os olhos. O Miguel Carreira não faz a mais pequena ideia que amanhã à noite irá receber este presente, e espero sinceramente que se alguém porventura o conhecer, não vá denunciar os meus intentos.
"Skye watching the Sky" por Paulo Galindro Ilustração digital em iPad Abril de 2013 |
Entretanto, a Skye já saiu da zona de perigo. Ainda carrega ao pescoço um malfadado cone, que ela já não pode ver nem que o mesmo se transformasse num cone de queijo flamengo revestido a lâminas de presunto com 9 meses de cura. Cá por casa já a comparámos a um abajur, a um copo de Martini com uma azeitona preta e branca lá dentro, a uma grafonola e a um aspirador. No entanto, há umas noites atrás, enquanto a catraia fazia um cócózito (que foi devidamente apanhado com um saco, como aliás todos os donos de animais deveriam fazer) e olhava atenta para cima, para um céu estrelado e um luar gloriosos, dei por mim a pensar que ela afinal parece um...
... radiotelescópio.
Com esta ilustração tentei congelar esse momento mágico, uma imagem que só por si já valia uma história inteira.
... radiotelescópio.
Com esta ilustração tentei congelar esse momento mágico, uma imagem que só por si já valia uma história inteira.
Amigos incondicionais. Bonitas homenagens!
ResponderEliminarOs meus estão aqui: diariodawendy.blogspot.com
Ui! Comovi-me! Belos textos. Parabéns. Eu ainda estou na fase do nunca, embora secretamente saiba que este nunca é só, e apenas, até um dia...
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