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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 6


Como referi num post anterior, "(...) esta criatura é uma contadora de histórias, viajou pelo mundo inteiro. Qualquer contador de histórias que se preze tem uma mala de viagem cheia de livros, adereços e surpresas. E esta nossa amiga não será obviamente excepção.". Com estes esboços, tenho estado à procura da solução ideal para este adereço. Tenho no entanto algumas certezas... vai ser "feita" a partir de uma lata de conserva de atum (das antigas) e vai estar cheia de livros.
Uma observação de última hora... lembrei-me agora mesmo que a tampa destas latas abre-se sempre na diagonal. Tenho de incorporar esse pormenor nos meus próximos desenhos.

Paulo Galindro

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 5


Este ultimo desenho é até ao momento, o que mais se aproxima da versão final. No entanto esta aproximação é apenas no papel, uma vez que se trata de uma personagem que será ampliada para uma dimensão vertical do tronco de aproximadamente 1 metro (por isso já dá para imaginar as dimensões dos cogumelos), o que significa que, durante a execução da ilustração na parede, muitos características e pormenores que aqui não estão ainda previstos, irão decerto aparecer.Neste desenho surgem já algumas das características que, desde sempre, persegui no desenho: uma criatura híbrida, mistura de duende/ gnomo / fada / insecto; um forte carácter vegetalista, pagão e panteísta; um ar doce, frágil, maternal e delicado e acima de tudo, a concepção de um ser pleno de magia. As antenas, a rodela de laranja como gargantilha, o chapéu feito a partir de uma vagem de ervilhas envolvida por uma tiara de frutos silvestres, o vestuário feito a partir de uma patchwork de remendos foram estratégias a que recorri no sentido de atingir os meus objectivos.Como grande evolução desta nova proposta, chamo ainda a atenção para as asas da personagem... deixaram de ser "meras" asas iguais a tantas outras já vistas neste tipo de criaturas, e tornaram-se páginas de um livro. Este conceito será reforçado pela digitalização em alta definição de páginas de um livro – ainda a seleccionar – que serão posteriormente manipuladas e deformadas em Photoshop até atingir a forma desejada, e finalmente, ampliadas para a sua dimensão final.Esta criatura é uma contadora de histórias, já viajou pelo mundo inteiro. Qualquer contador de histórias que se preze tem uma mala de viagem cheia de livros, adereços e surpresas. Esta não será obviamente excepção. O passo seguinte será a criação de uma mala de viagens a partir de uma lata de atum em conserva. Mas isso fica para um novo post neste blogue.

Paulo Galindro

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 4



Durante o processo criativo, por vezes acontecem destas coisas. Inicialmente um duende masculino (será que os duendes, tal como os anjos, não têm sexo? … ou melhor, género?). Foi sempre esta a minha ideia quando fechava os olhos e visualizava o espaço de intervenção. No entanto, o lápis ganhou vida, e dos traços de carvão nasceu um outro ser…

... uma linda duende! Ou será uma fada? Ou será as duas coisas? Bem, nesta altura confesso que ainda não estava preocupado. Apenas sabia que, o que é que quer que fosse que se estava a manifestar no papel através do meu lápis, seria extremamente interessante levá-lo até ao fim sem quaisquer receios. O curioso é que a primeira manifestação desta criatura deu-se através do seu chapéu, uma linda vagem de ervilhas rodeada por uma tiara de framboesas / amoras. Daí para uma imagem extremamente feminina, foi apenas um passo.
Paulo Galindro

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 3

Nestes primeiros esboços, estudei a forma como se poderiam executar os biombos que irão isolar o espaço, e, simultaneamente, transmitir a ambiência pretendida. A execução aqui reveste-se de particular importância, não só por questões de segurança, mas também porque se pretende que estes elementos sejam facilmente transportáveis.Como solução final, optei por dois painéis de MDF assentes sobre uma estrutura também de madeira, formando uma moldura reforçada por uma trave oblíqua. Ao meio, duas ou três dobradiças em inox.

Esta foi uma das primeiras abordagens à ilustração que irá figurar neste espaço: um duende com um enorme e antigo livro ao colo conta uma história em cima de um enorme cogumelo. Aliás, em prol da verdade, o cogumelo não é enorme, quem se encontra neste espaço é que vai ser muito pequeno.

Paulo Galindro

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 2




A ideia base subjacente à intervenção proposta assenta na transposição, para este espaço, da ambiência vivida numa clareira de um qualquer bosque, numa clara homenagem a um tipo de espaço que inúmeras vezes surge nas histórias infantis (e não só!). Não se trata no entanto de uma clareira qualquer, mas sim de um espaço entre as ervas e as flores, onde o infinitamente pequeno surge a uma escala muito humana. Num abrir e fechar de olhos, quem transpuser o pórtico de entrada deixará de estar no espaço de biblioteca, e ver-se-á aconchegado por entre ervas, flores e cogumelos enormes, onde pululam aqui e ali alguns insectos que assistem surpreendidos ao repentino surgimento no seu espaço secreto desse povo bípede de estranhos costumes chamado Humanos.
Ao centro, sobre o chão relvado, uma toalha de piquenique e um cesto de vime cheio de livros convida os visitantes a sentarem-se em torno do contador de histórias, e deixarem que os seus os ouvidos se transformem em asas. E por falar em asas, um pequeno passarinho junta-se a esta celebração do imaginário e do encantamento À esquerda, contra um céu azul repleto de nuvens brancas / algodão, um imenso cogumelo vermelho pintalgado domina o horizonte mais próximo, aconchegando e protegendo ainda mais este espaço e quem nele se refugia. No topo deste cogumelo, um pequeno grande duende lê-nos mais uma das suas infinitas histórias, no seu livro de infinitas páginas. E no fim… no fim ninguém se lembrará de que não chegou a sair da Biblioteca Municipal de Carnaxide, nem que afinal não tem as dimensões de uma minhoca ou de uma abelha. Muito menos alguém se aperceberá de que, logo ali por detrás das ervas, ao fundo da clareira, se encontram objectos tão prosaicos como uma secretária, uma cadeira e um computador.
Paulo Galindro

Biblioteca Municipal de Carnaxide: Passo-a-Passo 1

Este projecto consiste num conjunto de intervenções que pretendem enriquecer a futura Sala do Conto da Biblioteca Municipal de Carnaxide, criando um ambiente estimulante e mágico, propício à formação de novos leitores. Como não poderia deixar de ser, o universo dos livros e da sua capacidade de nos transportar – num simples abrir de página – para lugares distantes e oníricos, será explorado, procurando deste modo tornar a visita à biblioteca numa experiência única e inesquecível, um verdadeiro convite a voltar… e voltar… e voltar...e voltar…e voltar… e voltar… e voltar…
Paralelamente, o contacto, in loco, das crianças com ilustrações originais de autor, executadas em técnica mista, com todos os pormenores e imperfeições (marcas de pinceladas, marcas digitais, camadas de tinta, borrões, etc.), normalmente não observáveis em simples fotografias ou impressões das mesmas, humanizará ainda mais todo o espaço da biblioteca, transformando-o literalmente num livro de histórias gigante.

Paulo Galindro

Aiaiaiaiaiaiaiaiaiai!

Devido a um problema técnico cientificamente conhecido por "Tontice", acabei agora mesmo de apagar - sem querer - 8 posts sobre a intervenção na Biblioteca Municipal de Carnaxide. Prometo que ainda hoje vou recuperá-los.

Paulo Galindro

O estranho caso de Benjamim Botão


The curious case of benjamin button from hake on Vimeo.

Grande... grande... grande,
e também épico,
glorioso,
trágico,
terno,
e mágico...

... como a vida.

Nunca me esquecerei deste filme.

Paulo Galindro

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ilusão óptica?

Sou mau fisionomista. É um facto. Consigo encontrar parecenças físicas entre o Mick Jagger, a Maria Callas e uma couve-flor. Na verdade, nunca acerto uma tentativa de relacionar objectivamente duas faces, sejam elas propriedade de quem for. E contudo, neste caso, parece-me uma daquelas raras vezes em que fará sentido afirmar que estes dois senhores são muito parecidos fisicamente. Terei razão, ou será mais uma partida da minha mente?

Eu acho que são mesmo muito parecidos, o que até nem chateia nada pois gosto muito dos dois senhores, muito especialmente do primeiro. O segundo ainda está em estágio na minha lista de preferências!

Paulo Galindro

Slumdog Millionaire


Slumdog Millionaire Trailer from vinber on Vimeo.

Hoje fomos ver o filme de que todos falam. Ficámos absolutamente sem palavras. E continuamos absolutamente sem palavras. E quando não há palavras, não há posts. Fica o nosso silêncio, que, neste caso, diz tudo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sonhos

Não, não é o Complexo de Peter Pan. É apenas a noção do quanto a vida é finita, e de quanto o tempo que dispomos é escasso. Matematicamente, tenho 38 anos, mentalmente e fisicamente, sinto-me com menos uma década. E é verdade! Simplesmente adoro esta idade, nem mais nem menos do que todas as idades pelas quais passei.
A vida não é quantitativa, mas sim qualitativa. Não obstante este facto, posso afirmar que, em teoria e estatisticamente, estou sensivelmente a meio da minha vida. Tudo o que vier para além disso é lucro. Por isso, há cerca de 4 anos que prometi a mim mesmo cumprir todos os sonhos que fui coleccionando ao longo da minha existência. Alguns são irrealizáveis, mas não menos importantes. Outros são tão pequenos (mas não menos importantes!) que simplesmente seria um pecado não os cumprir. Alguns deles já os realizei, outros estão em vias de o ser: fazer surf (mesmo que sofrivelmente!), comprar uma guitarra (ainda vou aprender uns acordes!), fazer skate e patins em linha, escrever e ilustrar um livro (já lá vão dois, com promessas de mais no horizonte) são alguns dos eleitos. Pelo caminho ficou o passeio na superfície lunar e em órbita, assim como pilotar um jacto (ainda não desisti de nenhum deles!).

Hoje cumpri mais um… passear de bicicleta na areia da praia, e muito especialmente dentro de água. Partilhei este momento com o pequeno Miguel, o que tornou esta experiência ainda mais intensa.
Simples não é? Mas demorei 30 anos a fazê-lo!

Paulo Galindro

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sir John Kóyas Gal'yndro I, "O cavaleiro Indomável"


O que antes eram apenas rumores sussurados aos quatro ventos do Reino de São Domingos de Rana, é agora uma notícia oficial. Sir John Kóyas Gal'yndro I "O cavaleiro Indomável", ganhou o grande concurso de máscaras da sua escola, na categoria de rapazes do 2º ano.

Paulo Galindro

Blog em obras

Há cerca de três dias decidi fazer um upgrade ao nosso blog, com o objectivo de o tornar mais funcional e prático na inserção de conteúdos. Após horas intermináveis a lidar com os modelos pré-definidos do Blogger, cores, fontes e HTML (sim, outra vez o maldito HTML) e com problemas inesperados como a perda inexplicável de alguns posts iniciais, finalmente dei por finalizada esta árdua tarefa.
Aparentemente, está na mesma. Mas só aparentemente! Tem música (Nada receiem! Esta nova funcionalidade não vai assustá-los ao meio da noite nem o vosso chefe vai descobrir que estão a ver blogues na hora de serviço!... o leitor está definido para não tocar automaticamente quando se entra no blog), tem discos que nos tocam, tem livros que nos prendem, tem etiquetas (e que grande ferramenta esta!) que nos orientam, tem blogues e sites que nos cativam, tem as fases da lua para os aluados, lunáticos e apaixonados e tem uma ferramenta de tradução para os que nos lêem no deserto do Kalahari.

Paulo Galindro

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Viagem ao Centro de Mim

Técnica mista sobre MDF, por Paulo Galindro, em Julho de 2007

"Existe uma lenda acerca de um pássaro ferido que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a Terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E morrendo, sublima a sua própria agonia e solta um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento... Pelo menos é assim que diz a lenda"
Pássaros feridos
Collen McCullough

Vou fazer uma viagem, um mergulho ao interior de mim mesmo,
e também a algumas da paisagens mais belas do nosso país.
Na minha solidão perder-me-ei em mim, e encontrar-me-ei
encontrarei alguma paz interior... algum ponto de referência no oceano turbulento em que há muitas vidas navego.
Na magia dos grandes espaços abertos fundir-me-ei com os elementos. Mesmo que por uns efémeros instantes, tornar-me-ei no vento, no sol e na chuva - que como dádivas divinas, me envolverão o corpo - serei o Deus da Areia e das Dunas, o Senhor das Ondas e das Marés.
E, com um pouco de sorte, encontrarei o meu Deus da Pequenas Coisas.
Levarei comigo muito pouco, apenas o essencial, porque para uma viagem destas temos de nos sentir muito leves. Levarei uma pequena tenda, um saco-cama, uma guitarra (sim, vou finalmente aprender os meus primeiros acordes), aguarelas, uma caneta, um Moleskine, a roupa essencial, a bicicleta, a minha Malibu 6.7" e meu fato de neoprene.
levarei também o livro acima referido, para me aquecer.
Durante esta peregrinação, por razões óbvias, não publicarei qualquer post neste blogue.

Por Paulo Galindro

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sobre a sinceridade e a lealdade

A propósito do dia de hoje, republico e reescrevo um comentário que fiz ao post "Pessoas" no blogue A janela de Alberti, que tanto gosto de seguir:

Metafóricamente, todos nós somos como galáxias em rota de colisão. Existem estrelas de cada uma das galáxias que se harmonizam entre si no momento do embate, outras que entram em colapso total por não encontrarem um ponto de equilíbrio orbital, acabando por se destruírem mutuamente. A sinceridade e a lealdade são, nesta metáfora, o ponto de equilíbrio dinâmico desejado. Um estado em que duas galáxias / pessoas se fundem, se harmonizam, e dançam uma valsa cósmica, sem no entanto perderem a identidade que as define. Se a harmonia for não menos do que perfeita, desta dança cósmica nascerá uma super-galáxia muito maior do que as sua partes constituintes.

Sem os sentimentos de sinceridade e lealdade nunca existirá uma verdadeira e honesta interacção... transformamo-nos em rochas mortas e solitárias a vaguear no vazio universal.

Paulo Galindro

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Colégio "Miúdos Radicais": The End!

Este trabalho foi terminado em 12 de Dezembro de 2008. Infelizmente, razões de índole pessoal impediram-me de ter disponibilidade para compilar e editar as respectivas imagens que faltavam desde o último post sobre o projecto. Foi um projecto extenuante e fonte de um prazer infinito em termos criativos, e esgotante em termos físicos. Exigiu de mim, e de toda a família que, durante muitas, muitas e longas noites e alguns fins-de-semana, se viu privada da minha presença. Para a execução deste trabalho, foram necessárias 197 horas, as quais se adicionam 24 horas para dar à luz os personagens e 49 horas em deslocações, num total aproximado de 270 horas. Foram percorridos 2450 km apenas em deslocações. Muitas destas horas foram despendidas no período das 21 horas às 1.30 horas da madrugada. Infelizmente, não contabilizei os litros de café e água consumidos, as pizzas e outras comidas de plástico. Não contabilizei as centenas de pastilhas elásticas mastigadas, nem os momentos de angústia que um trabalho desta natureza sempre acarreta. Aqui não se trata só de vencer "o medo do papel branco"... há também a parede, que obviamente, nem sempre é branca.

Os personagens abaixo apresentados, tais como os primeiros já referidos neste blogue, ainda não estão baptizados. Para tal, confesso que terei de me distanciar um pouco deste projecto, já que foi verdadeiramente extenuante.

Este
cowboy foi a primeira ilustração a ser executada no piso 1, e encontra-se no Hall junto ao elevador. A ideia surgiu por oposição ao índio que se encontra exactamente no mesmo local, um piso abaixo. Deste modo o ciclo clássico dos westerns completa-se. Só que, neste caso, são grandes amigos e companheiros de viagem na longa demanda pelo conhecimento.


A segunda
ilustração a ser executada foi esta. Localiza-se na sala de refeitório e inspirou-se directamente na minha própria pessoa, e na paixão que tenho por livros. Para mim um livro será sempre uma óptima refeição!


Esta
menina foi especialmente criada para a Sala de Actividades de 1 e 2 Anos, e de todos as personagens, é mesmo a mais jovem. O conceito de multiculturalidade e multirracialidade foi mais uma vez aqui explorado. Para as roupas e padrões fiz uma pequena pesquisa na net. Sempre me senti muito atraído pelo calor emanado dos padrões africanos.

Por fim, guardei esta ilustração para o final do projecto. As razões foram várias, mas acima de tudo teve a ver com a energia despoletada pela mesma. Para mim, foi quase como um fogo de artifício que marca o fim de um ciclo e o início de outro. Basicamente, estilhacei uma das paredes da Sala de Actividades de 2/3 Anos em centenas de fragmentos, deixando antever, lá longe, no meio da neve, um lar aconchegante, mesmo que feito de gelo. Do seu interior sai um ligeiro aroma a pão acabado de fazer, que impregna toda a atmosfera gélida. Pelo buraco aberto na parede, um urso polar observa a sua amiga de brincadeiras, uma menina esquimó passou através dela e entrou apressadamente na sala, para não perder nem um minuto da aula.

Por Paulo Galindro

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Eu?


"Mas uma vez ele dissera uma coisa que lhe ficara na cabeça:«Robert, há um ser dentro de ti, que eu não consigo trazer à superfície , que não consigo trazer à superfície, que não tenho força para alcançar. Por vezes sinto que já cá estás há muito tempo, mais do que uma vida, e que já estiveste em sítios com que ninguém sequer sonha. Assustas.me, embora sejas carinhoso comigo. Se eu não fizesse um esforço para me controlar quando estou contigo, sinto que poderia perder o juizo e nunca mais o recuperar». Num sentido algo ambíguo, ele compreendia o que ela ela estava e dizer. Mas ele também não tinha controlo sobre a situação. Tinha aqueles pensamentos flutuantes, um melancólico sentido do trágico misturado com um intenso poder físico e intelectual, desde que era criança (...) Pescava, nadava, passeava e deitava-se na erva a ouvir vozes ao longe, que achava que só ele podia ouvir. «Há feiticeiros por aqui,» costumava dizer para consigo. «Se uma pessoa estiver suficientemente calada e atenta, consegue ouvi-los e eles estão lá.»"


As Pontes de Madison County

Robert James Waller


Ao ler isto, foi com um arrepio na espinha que senti que alguém, algures, me conhece muito bem.


P.S. Meu amigo Mário Resende!, Se alguma vez leres este blogue, informo-te que é com um enorme prazer que te oferecerei o original desta ilustração. Um muito obrigado por me teres ajudado a dar início a uma longa viagem dentro de mim... "Uma Viagem no Branco". Obrigado por existires!


Por Paulo Galindro

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Uma breve iniciação ao Coração

O coração.
Simplesmente um músculo, um "motor", dizem-nos os médicos... e ainda por cima ecológico, pois move-se a energia eléctrica.
O centro das emoções, dizem-nos os românticos, os "pirosos" e os sofredores por amor.
A localização física do 4º Chacra ou Anahata, cuja energia é emocional e representa a nossa capacidade de entrega, dizem-nos os místicos e os Homens-sábios.

No Egipto antigo, representava o órgão da consciência, e o seu peso comparado com o peso de uma pena - no momento do julgamento após a morte - media a real dimensão dos actos, bons ou maus, cometidos em vida.
Para a cultura indiana, o coração era a sede do absoluto. Para os católicos, em chamas, representa o amor divino.

Mas afinal, que é o coração?
Tem a dimensão de um punho, não do meu punho que tenho as mãos pequenas, e o meu coração é grande... eu sei disso, e ponto final! Bate cerca de 100.000 vezes por dia, e numa criança de um ano já bateu 30 milhões de vezes.
Ás vezes, porém, estas dimensões varia bruscamente. Pode ficar tão pequeno como a mais pequena das nozes, ou, em caso mesmos graves, uma simples e humilde azeitona. Nesse momento, o seu ritmo é quase inaudível, imperceptível, ninguém dará por ele. O infeliz que sofre do "Síndrome do Coração-pequeno" mirra, seca, torna-se numa armadura emocional, fecha-se num mundo só seu e aos outros. Pior, fecha-se a ele mesmo. Torna-se como que um buraco negro, que tudo atrai à sua volta e nada dá em troca.
Outras vezes o coração fica muito grande... tão grande! Como se tivesse sido insuflado por todos os ventos do mundo, provenientes de todos os pontos cardeais. Nessa alturas, deixa de estar contido dentro do seu embrulho natural, a caixa torácica, e expande-se, passando a conter o seu felizardo portador. Como um balão iluminado por dentro, o felizardo torna-se um Sol no centro do universo, uma estrela pulsante que tudo oferece sem pedir nada em troca. Com as emoções ao rubro, o abençoado paciente do "Síndrome do Coração-infinito" torna-se numa antena que sente cada emoção irradiada pelos seres que o rodeiam. Chora por um tudo-nada como se fosse um bebé, ri-se como um tolo, e o seu compasso cardíaco fica tão acelerado que o ouvido humano apenas consegue ouvir um longo som contínuo.
Pelo meio destes dois estado limites, ficam os estado intermédios, umas vezes normal, outras vezes assim-assim, outras tantas mais ou menos, outras nem por isso.
O coração tem também uma aplicação muito prática, a de barómetro de emoções. Para sabermos a nobreza de um sentimento que nos leve às lágrimas basta perceber se o aperto que se sente se localiza no coração ou na zona do pescoço. Apenas no primeiro caso se poderá afirmar sem qualquer sombra de dúvida que os sentimentos provêem directamente da alma e não do ego. Simples não é?
Por fim, quais são os cuidados a ter com o nosso coração. Na verdade não são precisos muitos, atendendo à sua importante função de nos manter vivos, e acima de tudo, de nos manter VIVOS.
Basta regá-lo todos os dias com quantidades infinitas de AMOR (de que falarei um dia neste blogue). Não existe qualquer perigo de sobredosagem. Não existe qualquer limite, mesmo depois de se notarem claras melhoras, e por fim, não existem quaisquer efeitos secundários.

Para informações complementares, e favor fechar-se num quarto à média-luz, colocar uma música que adore, e, sentado confortavelmente, ouvir o que o seu coração lhe está a dizer.

Por Paulo Galindro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Life goes on!



Bom, a vida continua! Há uma semana que nada se produz cá no reino do pintarriscos, e há tanta coisa a fazer. Só alguns exemplos:
  • Redefinir este blogue de forma a não estar constantemente a recorrer à linguagem HTML cada vez que quero adicionar, por exemplo, um novo contacto;
  • Conceber um novo blogue que irá funcionar como loja, onde iremos ter desde ilustrações até todo o tipo de objectos concebidos pela Natalina (e devo dizer que são mesmo muitos e cada vez mais variados, como por exemplo cachecóis - de que falarei aqui mais tarde - e malas de napa, idem), passando por artigos em saldo.
  • Refazer o site, tornando-o mais simples, directo e leve, mantendo no entanto a banda sonora gentilmente cedida pela banda islandesa MÚM (sim, é mesmo verdade! A viverem na altura num farol a 600 km da terra habitada mais próxima, deram-me autorização por mail a utilizar os temas mágicos que estão no site);
  • Acabar o manual de violino para crianças que estou a ilustrar / paginar há cerca de um ano para cá... um projecto que se revelou muito mais complexo do que alguma vez poderia imaginar, e de que falarei aqui no blog nos próximos tempos;
  • Dar início à intervenção na Biblioteca Municipal da Carnaxide, da qual já se falou aqui no blog, e de que muito vamos falar e mostrar nos próximos tempos;
  • Etc...etc...etc...etc...etc...
Nota final:
A imagem acima apresentada não é uma aventura do pintarriscos no universo de Pollock. É apenas um pano de flanela onde limpámos os pincéis durante o trabalho de execução do Colégio Miúdos Radicais, do qual ainda falarei neste blogue. Gostámos tanto do efeito que se encontra em lugar de destaque na nossa casa.

Por Paulo Galindro

Luz


Luz!

Fiat lux!

Por Paulo Galindro

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dor & Luz


Ontem foi o passado.
Amanhã será o futuro.
Hoje é uma benção,
por isso lhe chamam o PRESENTE.

Bill Keane


Praia de Carcavelos,8.30 A.M. A água está tão gelada... meu Deus, como está gelada! Sinto os todos meus ossos doerem, alguns deles nem me lembro de os ter estudado na aulas de Ciência da Natureza. Uma placa de fibra de vidro branca decorada com flores havaianas azuis
e um fato de neoprene de 4mm. Eis tudo o que tenho neste preciso momento.

E, na verdade, neste preciso não preciso de mais nada. Agora, aqui, quero estar só com a chuva que cai, com as ondas que como dragões imensos passam sob mim (e às vezes sobre mim!), com o sal que me endurece a pele, e com o sol que por vezes se deixa ver por entre algumas janelas das nuvens.

Neste momento, neste preciso segundo em que consigo montar um destes dragões, sou verdadeiramente feliz porque sou simplesmente eu. Com todas as minhas qualidades e defeitos, com tudo o que de bom e de mau me define.

Hoje é Domingo e perante o céu tempestuoso desta praia sinto que finalmente a minha tempestade pessoal está a atenuar-se.
Amanhã decerto estarei muito, mesmo muito melhor.
e no dia seguinte, mais ainda.
lá longe outras tempestades poderão se aproximar. Mas o que é que isso interessa.
A vida é mesmo assim! É simplesmente tudo aquilo que nos acontece enquanto esperamos que algo nos aconteça.

No horizonte da minha memória, os últimos batimentos cardíacos dela - que se escoaram lentamente por entre os meus dedos - e o último olhar que ela me ofereceu antes do seu derradeiro momento, transformam-se lentamente em milhares de imagens de profunda felicidade, de momentos únicos e irrepetíveis passados na sua companhia, que por serem isso mesmo são tão tragicamente belos.

Foi um processo duro, muito duro,
mas podemos finalmente deixar-te ir.

Adeus, amiga!

Por Paulo Galindro

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Dor IV


h... aruti mureu, foi póxéu!"
Miguel,
espontaneamente,
sem ainda ninguém lhe ter explicado nada!

Por Paulo Galindro

Dor III


... na natação com o meu filhote Miguel.
Ele já sente a pulsação da água,
sei porque os movimentos dos pés e das mãos estão mais harmoniosos,
já flutua,
e mergulha sozinho
E ri-se, ri-se com a boca e os olhos cheios de água.
É um prazer imenso para ele e isso é o mais importante.
Céus, como a pele dele é macia...
e o cheiro... reconhecia-o de olhos vendados.
Nunca o senti tão dentro do meu coração como hoje.
A morte tem destas coisas,
põe-nos em contacto com a vida,
na sua forma mais poderosa.
Amar a morte para amar a vida,
eis o principio basilar do Budismo.
Nunca o percebi tão bem como hoje!


Reagir...



...viver...

Que saudades!


Por Paulo Galindro

Dor II





E, no entanto,
hoje de manhã,
lá longe, na linha onde acaba o mundo,
o Sol ergue-se novamente em toda a sua glória!

Reagir...

Viver...

Por Paulo Galindro

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Dor




Céus... como esta casa é grande!
E o silêncio....




... é ensurdecedor!

Socorro!

Por Paulo Galindro

Uma luz na escuridão

Há no entanto, nos momentos de dor, luzes que mesmo que pequenas, nos ajudam a avançar na escuridão.

Perante o manto de tristeza que cobriu a nossa casa e as nossas faces molhadas de lágrimas, o meu filho João, com 7 anos, mostrou-nos o quanto os adultos são tontos e ignorantes face ao ciclo da vida:

"- Deixa lá mãe...", enquanto lhe dava palmadinhas nas costas, "não chores mais, a vida é mesmo assim!"

Palavras para quê!

Por Paulo Galindro

Requiem por uma AMIGA


Ela não era um cão.
Vivia num corpo de um cão,
comia comida de cão,
dormia como um cão,
ia ao lixo como um cão,
durante a noite fazia barulhos estranhos como um cão (e até como uma pessoa, pois ela ressonava!),
e fazia as necessidades como um cão.

Mas não, ela não era um cão,
pelo menos um "cão normal".
A alma da ruth é uma alma muito antiga e sábia.
Já deve ter estado cá um milhão de vezes.
Diria até que a Ruth já foi uma pessoa,
depois evoluiu e reencarnou como um animal.

A Ruth mostrou-nos:

a humildade perante a dor,
o amor incondicional,
o perdão incondicional,
a devoção eterna,
a bondade,
o silêncio (sim a Ruth não gania nem ladrava, mesmo perante dores imensas)
...

Hoje penso, aliás, SEI
sem entrar no mundo da religião,
que a Ruth sempre foi, é e será um anjo da guarda
que nos foi gentilmente oferecida pelo Universo
para nos ensinar a divina trindade:

a vida
o amor
e a morte.

Eu, no meu caso, sei precisamente o que ela me veio ensinar! Só espero ter aprendido.

Descansa em Paz, AMIGA!
Um dia, quem sabe, talvez possa passear contigo outra vez.


Por Paulo Galindro

Elegia

Foi uma decisão difícil,
demorou a ser tomada.
Aguardámos pacientemente que se operasse um milagre.
O milagre não chegou... e a natureza seguiu o seu curso,
previsível,
silenciosa,
perfeita.
A esperança dissipou-se,
desfez-se em mil fragmentos que se perderão no eterno ciclo da vida e da morte.


Hoje, pelas 10 horas, a nossa querida Ruth passará finalmente para o outro lado,
e o seu sofrimento...
esse ficará para trás.

Dói a alma e o coração!

Por Paulo Galindro

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Viagem no tempo III

Hoje recebi este SMS do meu filho João com 7 anos:

"Meu amigo Pai, queria te mandar muitos beijinhos. Adeus". Exactamente assim, sem erros nem omissões, puro com um cristal.

Senti-me um "cota" com 38 anos mas com um coração transbordante de alegria, com se tivesse nascido hoje mesmo (e o cabelo... nada! como quando nasci!)

Por Paulo Galindro

Viagem no tempo II

Amiina - Souvenir (OMD cover) (BL Rewind2)

E já que estamos em maré de viagens no tempo, oiçam esta cover do tema "Souvenir" dos Orchestral Manoeuvres In The Dark (OMD) pelos Amiina, companheiros de viagem dos Sigur Rós. Sinto-me novamente com 16 anos, mas com um toque de 38 (mas continuo sem cabelo!)

Esta é uma das razões porque amo música!

Por Paulo Galindro

Love is Blindness + I can´t help falling in love



Zoo TV. Foi em 15 de Maio de 1993, e eu estive lá (com um pouco mais de cabelo!). Foi um dos melhores concertos a que assisti, juntamente com Sigur Rós, Massive Attack e Ludovico Einaudi.
Hoje tropecei nestes dois temas, e senti-me novamente com 23 anos (mas com menos cabelo e ainda menos juizo!)

Por Paulo Galindro