Usei aqui uma tradução livre de um excerto do livro "Tao te ching" do filósofo Lao Tsé que fala do eterno retorno e dos ciclos que se repetem ao longo de toda a nossa existência, porque foi exactamente isso que senti na passada terça-feira. Às 22:30, eu, o Paulo Ferreira da Booktailors (a empresa que me agencia) e o Guilherme da editora Booksmile fomos chamados à gráfica Printer para vermos as provas de cor dos meus dois últimos livros. Assim que entrei naquele ambiente - que vibra de trabalho 24 horas por dia - o cheiro das tintas, o som das máquinas, os montes de papel de grande dimensões perfeitamente empilhados, a azáfama dos operadores das máquinas, tudo, absolutamente tudo conspirou para que, num ápice, eu voltasse a ter 6 anos. E não falo metaforicamente. O efeito foi exactamente o mesmo de sentir o cheiro de café de cevada acabado de fazer e de repente ter a minha avó à minha frente, com todos os detalhes bem claros. O meu pai trabalhou em artes gráficas (quando as artes gráficas eram uma verdadeira ARTE, pois tudo era feito sem a sofisticação dos computadores, por intuição e profundo conhecimento empírico... ou resumindo, a nobre arte do "olhómetro") durante toda a vida adulta dele, e por isso mesmo as máquinas Heidelberg, os rolos em alta velocidade, as tintas, os papeis e um milhão de cheiros sem nome sempre fizeram parte da minha existência. Hoje sei que foi esse universo que me guiou até este preciso momento, e agradeço esse privilégio cada vez que pego num pincel.
Por tudo isto, durante as duas horas que lá estive voltei a ser criança, e a sentir aquele fascínio raro de estarmos a ver tudo pela primeira vez... aos 40 anos de idade, estes instantes tornam-se epifanias, e por isso mesmo, mais valiosos que uma mina cheia de diamantes.
Quanto ao que fomos lá fazer, tudo começou bem e acabou ainda melhor. As provas de cor foram afinadas (ou melhor, harmoniosamente dasafinadas, porque em artes gráficas, a afinação perfeita não existe... o que é bom para uma imagem pode revelar-se uma má escolha para outra, o que se torna um problema quando essas duas imagens estão num mesmo plano de papel), e os dois livros que aí vêm vão finalmente ver a luz do dia. Posso desde já levantar um pouco do véu... chamam-se "Sabes que também podes ralhar com os teus pais?" e "Sabes como é que os teus pais se conheceram?", fazem parte de uma colecção mais vasta a editar pela Booksmile. Os textos são da jornalista Maria Inês de Almeida, e posso desde garantir que o resultado final me deixou absolutamente... bem, deixo essa bola do vosso lado.
O lançamento está programado para o dia 14 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro, mas disso falarei aqui mais tarde. Estão desde já convidados.
2 comentários:
14 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro... aceito o convite... ;-)... ah, as gráficas!... abraço...
Desde então tem um belo modo de ver o mundo. Talvez isso é o que te faz tão bom artista. Pela minha parte decirche que me fiseches chorar com o texto (não me faça muito caso, minha esposa diz que sou um choromicas) é lembrar-me do meu irmão o que boto muito de menos. Abraços. Muita alegria na sua vida
Enviar um comentário