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quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Árvore da Vida



















Hoje fui ver o último filme do realizador de culto Terrence Malick, "A Árvore da Vida". Há meses que esperava este momento. Eu e alguns milhões de pessoas pois este é já é considerado um dos grandes momentos cinematográficos do ano. E as expectativas coleccionadas ao longo de todo este tempo de espera foram largamente ultrapassadas.

Ultimamente têm-me faltado palavras para descrever momentos da minha vida particularmente belos. Não que o tivesse conseguido de forma particularmente brilhante noutras ocasiões.... antes pelo contrário. É preciso dominar-se com mestria a arte das palavras, ser-se poeta. No entanto, fica a nobreza de ter tentado. Mas ultimamente, confesso, tenho me resignado a nem sequer tentar, talvez ciente que descrever um momento verdadeiramente belo é como tentar medir simultaneamente, em física quântica, a velocidade e a posição de uma partícula de luz... simplesmente é impossível. Ou sabemos a velocidade ou sabemos a posição, nunca os dois. Com a beleza passa-se exactamente o mesmo... um mero acto de tentar explicar e o momento dissipa-se, volatiza-se para sempre. Para além disso, a beleza e o estado de espírito elevado que dela advém tem de ser vivida na primeira pessoa. Tentar partilhá-la é simplesmente inútil.
Este filme foi, para mim, um desses momentos belos, inesquecíveis. Digo para mim porque muitos foram os que abandonaram o filme a meio. O som dos dedos a esgravatar os baldes de pipocas e o som dos dentes a mastigá-las talvez não tenham ajudado quem já estava com dificuldades em digerir o filme (que me perdoem uma ideia polémica, mas há filmes que simplesmente não deviam permitir a entrada de pipocas... se as pessoas não têm a sensibilidade para o perceber, alguém deveria ter por elas!). E é verdade, o filme não é fácil, nada fácil mesmo. Diria que é uma caixa de Pandora que apenas se abre a quem abandonar a ideia de que vai ver um produto de entretenimento com 138 minutos, e abrir bem os olhos e o coração e o pequeno furacão que nele gira.

Por ter considerado este um momento de grande beleza, e seguindo a tendência atrás referida, deveria simplesmente não dizer mais nada, ou então escrever


S        U        B        L        I        M        E


Mas como sou tenaz na nobre arte de falar pelos cotovelos (vulgo chato), vou fazer uma tentativa, ainda que vã, de descrever este filme:

Fala sobre o amor
Fala sobre o Deus das Pequenas e das Grandes Coisas
Fala das dores de crescimento
Fala das relações entre irmãos
Fala das marcas, boas e más que os pais nos deixam e que nós deixamos nos nossos filhos
Fala do Bem e do Mal, e de tudo o que não está no meio porque afinal também não existem os Extremos
Fala de tudo estar interligado,
Fala do Universo, de estrelas a morrer e a nascer, e de amebas
Fala do início dos tempos, e do fim dos tempos, da Criação e do Apocalipse
Fala sobre a morte e tudo o que está do lado de lá, e do lado de cá, ou de lado nenhum porque não há lados.
Fala sobre o céu, não o religioso a que só os chatos e os que pagam o dízimo chegam, mas o azul... aquela imensidão gloriosa que nos rodeia e que nem nos lembramos de olhar
Fala de árvores, de borboletas e de constelações a 5.000.000.000 de anos luz
Fala dos subúrbios
Fala de partículas de pó que atravessam raios de luz, e de raios de luz que iluminam planetas mortos
Fala da contraluz que se reflecte na nossa pele e produz um halo que nos contorna e nos confere, ainda que por momentos, uma imagem divina.
Fala de momentos irrepetíveis, fugazes, mas que definem com rigor a verdadeira essência e razão da nossa existência
Fala da crueldade, da dor, do perdão e da redenção
Fala do Caminho da Graça e do Caminho da Natureza
Fala de mim, de ti, e de todos nós, que somos só Um
Fala daquele ínfimo átomo algures dentro de mim que sofreu um pequeno salto quântico depois de ver este filme. É pequeno, invisível aos olhos, mas está lá, e mudou-me um pouco. E isso, meus amigos, é dizer muito.


E agora sim, posso afirmar que foi simplesmente

S        U        B        L        I        M        E

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