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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
2013
2012 foi uma viagem e tanto. Teve momentos maravilhosos, e outros nem tanto. Mas no fim, o que fica é o que nos fez voar.
Quero manifestar aqui a minha total admiração por todos vocês que estão aí desse lado. São vocês que dão cor a tudo o que faço.
Um imenso agradecimento pela vossa magia, e que tenham um muito bom ano de 2013.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
A Luz que me tatua os olhos
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Boas Festas
"O Natal acontece onde e quando se desejar" por Paulo Galindro Técnica mista sobre painel de MDF de 44x61cm Dezembro de 2012 |
Quanto ao tema, nem vai ser preciso descrevê-lo.
Uma nota final para os bicharocos que aqui aparecem... eram para ser suricatas. Juro pela eternidade da minha alma que sim. Mas das minhas mãos saíram estas criaturas apenas levemente parecidas com esses animais adoráveis. Ficam as boas intenções. Sei que o inferno está cheio delas, mas ainda assim continuam a ser importantes.
Ah... e já agora,
Boas Festas!!!
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
A Luz que me tatua os olhos
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
104 x Manoel de Oliveira
"Uma homenagem a Manoel de Oliveira" por Paulo Galindro técnica mista sobre MDF Novembro de 2012 |
“Aniki Bebé, Aniki Bobó
Passarinho Totó
Birimbau, cavaquinho
Salmonão, Sacristão
Eu sou polícia, tu és ladrão
Eu não quero ser ladrão
Tenho medo à prisão
Aniki Bebé Aniki Bobó”
Há umas semanas atrás, a marca Princess Pea, com quem já colaboro desde o seu início, desafiou-me a conceber uma ilustração de homenagem ao cinema português, e muito especialmente ao seu mestre - embaixador, Manoel de Oliveira. E nada melhor do que mostrá-la aqui no dia em que ele celebra a magnífica idade de 104 anos.
Esta ilustração bebeu inspiração no filme Aniki Bóbó - que eu já vi um sem número de vezes e que é das coisas mais doces e inocentes que já me passaram pelos olhos - muito especialmente no personagem Pompeu (interpretado pelo actor Feliciano david), que tem uma imagem adorável. É pois um cruzamento entre os sonhos do menino Manoel de Oliveira e dos personagens que criou, porque no fundo, é exactamente isso que se passa... criador e criação culminam num mesmo vértice da pirâmide criativa.
Esta ilustração tem um segredo, um enorme segredo, que eu só revelarei daqui a uns dias.
Até lá, sigam sempre pelo bom caminho!
Parabéns Manoel de Oliveira
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Vamos reciclar o espírito de Natal?
"Reciclar o espírito de Natal" por Paulo Galindro Acrílico sobre painel de MDF de 30x40cm Dezembro de 2012 |
Temos de reciclar o espírito de Natal... é esse o mote desta ilustração, que foi especialmente concebida para a promoção do concurso de árvores de Natal recicladas, que irá acontecer durante o mês de Dezembro, promovido pela Câmara Municipal do Barreiro.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
A vida é um sopro
Hoje morreu, aos 104 anos de idade, Oscar Niemeyer, uma das maiores referências da arquitectura moderna. Nem sequer tentarei ter a presunção de descrever em poucas palavras o quanto a vida deste homem renanscentista foi rica, assim como é riquíssimo o legado que nos deixou. Seria imperdoável da minha parte, nem o saldo do meu léxico me chegaria para um tamanho investimento. Apenas posso afirmar que o seu amor exacerbado pela vida ("Amo a vida e a vida me ama. Somos um casalzinho insuportável."), e a forma como o transpôs para a sua obra tão multifacetada - organica e sensual - me inspirou de todas as formas possíveis... Como arquitecto, mas acima de tudo como ilustrador. O meu amor pelas linhas sinuosas e pela fluidez no traço devo-o em muito a ele, que uma vez afirmou:
"O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que no encontro sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curva é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein"
Não me sinto triste, nem lamento a morte de Oscar Niemeyer. Como sentir isso de alguém que viveu tanto e de forma tão apaixonada a vida, e que morreu a viver a sua lenda pessoal tão intensamente. Os últimos projectoS de arquitectura datam mesmo de 2010.
É... tal como ele afirmou, "A vida é um sopro". Algumas vezes mesmo um singelo suspiro. Mas neste caso, foi um soprar imenso e intenso - a plenos pulmões - para encher de uma vez só esse imenso balão chamado VIDA. E quando este Balão está cheio, os nossos pés deixam de tocar a terra de uma forma quase imperceptível.
Obrigado ON, e até sempre
PS: Para conhecerem alguns dos seus edifícios mais belo, voem até aqui.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
A Luz que me tatua os olhos
"... é a Luz que te corta, Lisboa" por Paulo Galindro Praça do Comércio, 3 de Dezembro de 2012, pelas 16:30 |
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXVI"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXVI"
Heterónimo de Fernando Pessoa
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Carta aberta aos avós
"Carta aberta aos meus avós" por Paulo Galindro Técnica mista sobre MDF 29,7x21cm Agosto 2012 |
Queridos avós,
Gostamos muito de vocês, por isso escrevemos esta carta como forma de nunca esquecermos os momentos maravilhosos que temos passado juntos. Cuidam de nós com muito carinho, desde que nascemos. Sabemos que estamos sempre dentro do vosso coração. Transmitem-nos segurança, conhecimentos e enchem-nos de mimo e de ternura. Com a vossa compreensão e tolerância, estão sempre prontos a perdoar qualquer traquinice.
Quando vamos para vossa casa, sentimos carinho no ar e isso deixa-nos felizes, pois adoramos todos os momentos que passamos juntos. Desde os cozinhados, os passeios, os piqueniques, as histórias e um sem fim de outras aventuras e partilhas... Lembramos com emoção, quando nos ensinaram a andar de bicicleta ou quando partilhamos grandes momentos na cozinha. As anedotas que contam, fazem-nos rir às gargalhadas e animam-nos quando estamos tristes. A paciência que demonstram ao transportar netos e merendas das avozinhas, faz-nos sentir que crescer convosco é descobrir em cada momento capacidades que desconhecíamos desde a paciência, a ajuda ao próximo, o espírito de sacrifício…
Lembramo-nos com emoção e agradecemos alguns dos momentos que partilhamos: andar às cavalitas do avô na piscina, plantar margaridas e girassóis para oferecer nos anos da mãe, os passeios de barco para ver os patos e os peixinhos, as anedotas que contamos, os jogos que nos ensinam, os docinhos que confecionamos e as douradas e os robalos que nos assam na brasa. Confessamos, avós, que até gostamos mais de bifes, mas os peixes representam um maior sacrifício, pois levantam-se bem cedo e é com a vossa cana que os tiram do mar!
São vocês que, na ausência dos nossos pais, nos vão buscar ao colégio, nos acompanham nos trabalhos escolares e nos explicam tudo o que for preciso. De vez em quando, lá temos as nossas zangas, mas acabamos sempre por resolvê-las.
Como é bom ter a família toda reunida na vossa casa!
Ah!!! Quase nos esquecíamos de vos agradecer por terem os filhos mais maravilhosos do mundo, isto é, obrigado por nos darem os melhores papás do universo!
Mil beijinhos doces para os nossos amigos especiais,
Os netos
Colégio Nossa Senhora do Rosário
Porto
Esta é mais uma ilustração oferecida à Associação Ajudaris, a qual integrou o livro "Pequeno Gestos grandes Corações - Histórias da Ajudaris 2012" - lançado no passado dia 18 de Novembro no Hotel Sherato, apadrinhado pelo Nuno Markl e Ana Galvão - este ano integralmente dedicado a esses maravilhosos seres que são os nossos avós. Esta foi uma oportunidade para também eu dedicar um poema gráfico de amor aos meus avós, que infelizmente já não estão entre nós.
Nesta 4ª edição (podem ver as minhas outras contribuções aqui) foi endereçado uma vez mais o convite a uma série de ilustradores para se inspirarem em textos especialmente escritos para o efeito por várias escolas, aliando deste o estímulo da paixão pela leitura e escrita, a sensibilização para as artes visuais, o cultivo da criatividade e da solidariedade em prol de um mundo melhor.
Sempre acreditei, e ainda acredito, que a arte e a sensibilização para a beleza gera seres humanos mais tolerantes, sensíveis, responsáveis e empáticos. É nesse sentido que acredito com cada fibra do meu corpo que Arte e a Criatividade podem salvar o mundo. E esta iniciativa da Ajudaris materializa o espírito desta ideia.
Como todos já decerto repararam - impossível seria o contrário - todos os dias somos bombardeados pelos media com a imagem de algumas (infelizmente não poucas) criaturas menores, mesquinhas, devotas fervorosas da tecnocracia e dos modelos matemáticos destituídos de alma e de calor - para o quais eu e vocês não passamos de uma pequena e muito escondida célula de uma folha de cálculo - que não se têm poupado a esforços para minar definitivamente a nossa esperança e capacidade de sonhar, que são os motores da vida. Mas isso não irá acontecer. Não se não os deixarmos.
Não acontecerá.
No final, prevalecerá a Humanidade.
Fiat lux!
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Nós, na Lx Factory
Hoje ao fim do dia, vamos estar na 9ª edição do Openday da Lx Factory, a convite da Verse Store. Apareçam... vai ser fixe. Podem ler o programa aqui.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Um gato e um extraterrestre na televisão
O gato Gatuno e o ET mais estranho do universo deram um salto até ao programa Ler+ Ler Melhor. Este é o vídeo.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
O Aqui, e o Agora
"Uma viagem no branco" por Paulo Galindro Uma interpretação do poema de João Paulo Cotrim Tinta da China e guache sobre cartão Novembro de 2004 |
There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams yet slips away
from us
Who wants to live forever
Who wants to live forever....?
There's no chance for us
It's all decided for us
This world has only one sweet moment set aside for us
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Who dares to love forever?
When love must die
But touch my tears with your lips
Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Forever is our today
Who waits forever anyway?
Queen, "Who wants to live forever?"
Ontem morreu-me um familiar. Não foi um familiar directo, é certo, mas por afinidade, por via da Natalina. Hoje, durante a cerimónia de despedida, dei por mim a pensar como nunca no que será o sentido da vida e da morte. Ao longo da minha existência já perdi algumas pessoas para a Senhora de Negro, algumas da quais novas de mais, cedo de mais, e bem mais próximas do que a pessoa em referência, que ainda assim era alguém com quem privei muitas vezes, e por quem tinha uma grande estima. Em todas elas a dor foi enorme, mas nunca como hoje senti tão perto e de forma tão intensa a Força e a Fragilidade da Vida. O mergulho para dentro de mim mesmo foi tão intenso que naquele momento senti um vontade urgente de ter tintas ou letras que me iluminassem o caminho de volta. Não tinha. Tive por isso de me manter lá no fundo, até agora que estou em frente ao computador.
O que é a Vida? Qual o seu sentido? E a Morte? O que significa? Qual o propósito de algo tão volátil, tão delicado e simultaneamente tão poderoso? Para o Homem, a morte tem sido desde sempre o derradeiro mistério. A última travessia para a Eternidade. Para a Terra do Nunca. Ou para Lugar Nenhum. Para mim, que não visto a camisola das religiões - e que sem fazer juizos de valor considero ser condição determinante para manter um certo discernimento - a Morte é acima de tudo um salto quântico. Uma transmutação alquímica. Ou, por analogia a fenómenso que vemos no nosso dia-a-dia, uma simples mudança de estado.
Gelo. Água. Vapor. Água.
Gotas. Lagos. Rios. Oceanos.
Acima de tudo, água... simplesmente água.
Seja como for, sinto que à escala das nossas vidas, a aparente separação entre estes estados - a Vida e a Morte - tem um propósito... o de vivermos o Aqui e o Agora.
Assim sendo, resta-nos dar uma atenção redobrada ao estado em que nos encontramos neste momento. Vivos.
Resta-nos a força dos laços que criamos com todos aqueles que nos rodeiam. Restam-nos a eternidade dos sonhos e das ideias. Resta-nos poder criador das emoções. Resta-nos a capacidade de tocar positivamente a vida dos outros. Resta-nos o Amor e a Criatividade. Resta-nos a matemática não euclidiana onde 1+1=1, aquela que nos permite enlaçar duas jóias de forma helicoidal e criar Vida, num processo que se renova a si mesmo. Resta-nos o poder desse instante chamado Presente - um camada tão fina de tempo que quando o acabamos de soletrar já é passado - aproveitando ao máximo cada minuto como se fosse o último.
Sinto que é isso que fica de nós quando o corpo adoece e se desmaterializa. É aí que reside a semente da eternidade. O resto? Bem... o resto são meros adereços, acessórios que a maior parte das vezes nos desfocam os sentidos.
Tudo o que desejo é ter a clarividência de transformar este mantra em actos concretos e diários. Em gestos e em palavras que façam sentido como um todo superior à soma das suas partes. E isso, ironicamente, é o mais dificil.
E que vem a seguir? Bem, o que vem a seguir todos nós, um dia, descobriremos. É a única coisa verdadeiramente justa e democrática que conheceremos nesta vida.
Carpe Diem
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
A Luz que me tatua os olhos
Nós, na Verse Store
Já estão disponíveis na loja Verse Store reproduções de alta qualidade das minhas ilustrações e da Natalina. Por enquanto só verão cerca de 10 delas, mas daqui a uns dias estarão disponíveis muitas mais.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
A Luz que me tatua os olhos
"O Fogo caminha comigo"
por Paulo Galindro
Rio Tejo, 5 de Novembro de 2012 ás 17:44
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sábado, 3 de novembro de 2012
Anjo da guarda
"ClaraFila" Por Paulo Galindro Acrílico sobre pedaço de madeira flutuante Novembro de 2012 |
Anjo da Guarda,
minha doce companhia,
guarda a minha alma
de noite e de dia
Já aqui falei muitas vezes da Skye. Não me alongarei mais sobre o furacão que há 2 anos atrás nos entrou pela casa adentro, e nos revirou tudo do avesso. Metaforicamente, emocionalmente e fisicamente.
Quero apenas falar-vos um pouco do que é correr com esta menina.
Com a Skye, já corri aproximadamente 1100 km. Sempre no paredão de Oeiras. É muito tempo passado a correr com uma criatura que não é da minha espécie. Durante este tempo de esforço partilhado, são muito os laços que se foram criando, ao ponto de quase já nem precisar de lhe dar ordens. Sei exactamente os sítios onde ela irá os xixis, os cócós (devidamente apanhados e deitados no lixo, ao contrário do que fazem muitos humanos que por ali se arrastam). Sei quais os cantos que ela irá cheirar, os pontos em que ela irá ficar para trás até a deixar de ver e aqueles que ela irá correr que nem uma desalmada, muito à frente de mim (sabe-se lá porquê... talvez sejam variações no campo magnético da terra ou as emanações de algum antigo cemitério índio que por ali existiu).
Ela tem sido a minha única companhia. Estou tão habituado à sua silenciosa omnipresença que receio até que se algum dia participar numa qualquer corrida não farei nem 1000 metros se ela não estiver lá comigo.
98% dos quilómetros que corremos foram feitos à noite, algumas dessas vezes já perto da meia-noite. Como devem calcular, a essa hora não há muitos malucos como eu a correr. A Skye é, nesses momentos de solidão, um verdadeiro anjo-da-guarda. Não daqueles anjos-da-guarda assexuados e irreais das igrejas barrocas, mas sim um verdadeiro anjo-da-guarda, de carne e osso, daqueles que todos nós temos na nossa vida mas nem sempre nos apercebemos. Não voa, é certo. Também não toca harpa nem dispara setas (o único gadget que tem é uma luzinha daquelas que os espeleólogos usam na cabeça e que se vê a centenas de metros) mas a sensação de segurança que me transmite a sua presença é imensa, mesmo nas noites de grande tempestade, que são aquelas em que mais gosto de correr. Vá-se lá saber porquê, mas correr com vento, chuva a potes, ondas enormes a espalhar espuma e sal pelo paredão dá-me uma paz de espírito e um silêncio interior que não consigo atingir quando tento meditar no conforto o sofá.
A Skye tem uma fixação por paus, canas, garrafas de plástico. Enfim, qualquer coisa que ela possa morder enquanto corre. Pode estar completamente exausta, mas se porventura vislumbrar um bocado de madeira algures ela irá buscá-lo onde quer que esteja e vai andar com ele na boca até se fartar. Vai brincar com ele, atirá-lo ao ar e apanhá-lo em pleno voo, mordê-lo até não restar mais do que umas lascas. Pode ser um pedaço de madeira pequeno com algumas gramas, ou ter quase dois metros e pesar 2 quilos, o que provoca grande confusão e gargalhadas em quem porventura se cruzar connosco.
Pode até ser uma folha de palmeira, que como uma vassoura gigante, varre tudo o que encontra pela frente (pessoas inclusive).
Recentemente, a Skye encontrou o pedaço de madeira que apresento acima. Transportou-o na boca durante praticamente toda a nossa corrida, que são cerca de 10 km. Quando cheguei ao carro e ela me atirou para os pés, reparei que este pedaço de madeira velho, meio podre - com 62 cm e quase um quilo - e que talvez tenha flutuado milhares de quilómetros pelos oceanos, quem sabe desprendido de um qualquer galeão afundado há séculos, apresentava um desenho de veios lindíssimo, que nesse preciso momento me inscreveu nos olhos a imagem de uma deusa, a quem eu decidi chamar ClaraFila, uma das 12 deusas da floresta. E isto decidi eu também. Trouxe-a por isso para casa, e decidi pôr a descoberto o que os meus olhos já tinham visto.
E não! Antes que me perguntem, não fumei nem bebi nada.
A luz que me tatua os olhos
"Beach Sequence"
por Paulo Galindro
Carcavelos, 2 de Novembro de 2012
"Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade."
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
A luz que me tatua os olhos
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Vem aí um novo livro...
Esta é a capa e contracapa do novo livro ilustrado por mim. Chama-se "Histórias às co
O lançamento oficial será no bonito Palácio Valenças, já no próximo dia 10 de Novembro, pelas 15:00 h, no âmbito do evento 10º Encontro de Professores e Educadores do Concelho de Sintra sobre Bibliotecas Escolares.
A luz que me tatua os olhos
sábado, 27 de outubro de 2012
Uma tragédia silenciosa
"Alterações climáticas... uma tragédia silenciosa" por Paulo Galindro Acrílico sobre MDF 29x40 cm Outubro 2012 |
Esta é mais uma ilustração para a capa do destacável "Rebentos" que integra a publicação bimestral "Folha Viva", uma revista de ambiente do Centro de Educação Ambiental da Mata Nacional da Machada e Sapal do Rio de Coina, produzida pela Divisão de Sustentabilidade Ambiental da Câmara Municipal do Barreiro.
Desta vez o tema foi as Alterações Climáticas, e como sempre tive total liberdade para criar. Posso desde já dizer que esta é uma daquelas ilustrações cujo processo criativo me deixou triste. Muito triste. E o resultado transparece isso mesmo. Na história que esta ilustração conta, este urso não sobreviverá, como não sobreviverá nenhum urso que acabe confinado a um pedaço de gelo que se desprenda, e flutue à deriva no oceano, até ao seu completo e rápido derretimento. E são muitos... muitos mesmo aqueles que acabam por morrer afogados.
Não vou mentir. Esta foi para mim uma das ilustrações mais tristes que já saíram das minhas mãos. Pela solidão, pela ausência de esperança que se desprende deste pobre animal, pelo fim que avizinha, que é tudo menos um "(...) e viveu feliz para sempre!". Perdoem-me por isso alguma crueldade por baixo destas camadas de tinta. Mas há histórias que não se conseguem contar de outro modo. Ninguém as ouviria. E eu quero que todos oiçam esta minha história.
"Era uma vez um urso polar - branco como a neve - que vivia no Pólo Norte, coisa que ele nunca poderia saber, porque é um urso, e os ursos não usam bússola.
Floco, chamemos-lhe assim, tinha uma vida simples, e feliz. Caçava. Dormia. Cortejava. Procriava. Comer. E percorria os grandes horizontes, porque os ursos são livres como o vento, não ficam confinados à área que conhecem. Mas ele não poderia pensar sobre estas coisas, porque é simplesmente um urso. E os ursos, mesmo os muito grandes, não filosofam.
Floco não poderia saber que algures para lá da vastidão do oceano, seres com braços e pernas como ele, mas mais pequenos, menos brancos e inteligentes - não se preocupam com a Grande Casa Azul onde vivem, nem com a Grande Casa Azul que irão deixar às suas crias. Floco não poderia saber que estes seres se movem em caixas com rodas e albatrozes de metal que produzem lixo-que-voa. Que também produzem grandes quantidades de lixo-que-não voa-e-que-flutua-e-nunca-desaparece. Floco não poderia saber isso. Ele é apenas um urso que nunca viu nada dessas coisas, e mesmo que visse não poderia meditar sobre elas, porque os ursos não meditam. Não é essa a sua natureza.
Já aqui o disse, mas importa repetir... A sua natureza é viver, caçar, dormir, procriar, comer e percorrer sozinho grandes distâncias porque é um ser livre como o vento. Não é muito inteligente, é certo. Pelo menos não pelos padrões das criaturas além-mar. Mas em muitos aspectos é infinitamente mais inteligente. Viver era por isso o que ele estava a fazer quando o chão debaixo das suas patas vibrou, se desprendeu, e um enorme pedaço de gelo tornado ilha deu início à sua curta epopeia oceânica.
Os dias passaram lentamente. As noites, simetricamente, também. Floco não poderia saber o porquê de tudo isto. Sabia apenas... sentia apenas que nunca conseguiria nadar a distância enorme que cada vez mais o separava da sua grande casa de gelo. Não poderia saber que o um bloco de gelo derrete rapidamente, e que mais tarde ou mais cedo se torna aquilo que já é. Água. Nuvem. Chuva. Oceano. Água. Floco não poderia saber que neste ciclo infinito, ele é um apenas um pormenor de somenos importância. Um grão de pó na enorme máquina natural.
É... um urso não pensa nessas coisas. Não sabe nada sobre as mudanças que estão a acontecer na Grande Casa Azul. Não conhece as palavras Clima e Ozono, nem tão pouco CO2 ou Aquecimento Global. Não sabe nada sobre a Vida e a Morte e Tudo o que está Antes e Depois.
Em prol de uma história anímicamente mais rica, podemos até imaginar que algures no mais fundo da sua alva alma, Floco sentisse um pouco de tudo isto, ainda que de uma forma sem forma. Seja como for, nunca o saberemos, pois para Floco esta noite seria ...
...eterna."
Paulo Galindro, 27 de Outubro de 2012.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
ETerna Biblioteca
"ETerna Biblioteca" por Paulo Galindro Técnica mista sobre painel de MDF com 0,48x0,68 cm Outubro de 2012 |
Cartaz |
Capa do programa |
Programa |
Há algumas semanas atrás desafiaram-me a fazer o cartaz para o 10º Encontro de professores e educadores do concelho de sintra sobre as bibliotecas escolares, que irá acontecer nos próximos dias 9 e 10 de Novembro no lindo Palácio Valenças, em Sintra. Para este evento, também conhecido por ETerna Biblioteca já foram concebidos cartazes pelos ilustradores Pedro Leitão, Danuta Wojciechowska e pela Ana Sofia Gonçalves. Chegou agora a minha vez de meter as mãos nas tintas.
Para o efeito, inspirei-me no misticismo e na magia de Sintra, na inconfundível silhueta do Palácio da Pena (reconhecem-na na ilustração?) e nos azulejos que por lá abundam. O design / paginação do cartaz e do programa também são da minha autoria.
Este trabalho ganhou para mim um maior simbolismo porque o lançamento oficial do meu novo livro, com textos de António Mota vai acontecer no âmbito deste evento. Mas disto falarei num próximo post.
Os resultados finais foram estes.