sábado, 16 de abril de 2011

Avançar significa ir longe. Ir longe significa regressar




Usei aqui uma tradução livre de um excerto do livro "Tao te ching" do filósofo Lao Tsé que fala do eterno retorno e dos ciclos que se repetem ao longo de toda a nossa existência, porque foi exactamente isso que senti na passada terça-feira. Às 22:30, eu, o Paulo Ferreira da Booktailors (a empresa que me agencia) e o Guilherme da editora Booksmile fomos chamados à gráfica Printer para vermos as provas de cor dos meus dois últimos livros. Assim que entrei naquele ambiente - que vibra de trabalho 24 horas por dia - o cheiro das tintas, o som das máquinas, os montes de papel de grande dimensões perfeitamente empilhados, a azáfama dos operadores das máquinas, tudo, absolutamente tudo conspirou para que, num ápice, eu voltasse a ter 6 anos. E não falo metaforicamente. O efeito foi exactamente o mesmo de sentir o cheiro de café de cevada acabado de fazer e de repente ter a minha avó à minha frente, com todos os detalhes bem claros. O meu pai trabalhou em artes gráficas (quando as artes gráficas eram uma verdadeira ARTE, pois tudo era feito sem a sofisticação dos computadores, por intuição e profundo conhecimento empírico... ou resumindo, a nobre arte do "olhómetro") durante toda a vida adulta dele, e por isso mesmo as máquinas Heidelberg, os rolos em alta velocidade, as tintas, os papeis e um milhão de cheiros sem nome sempre fizeram parte da minha existência. Hoje sei que foi esse universo que me guiou até este preciso momento, e agradeço esse privilégio cada vez que pego num pincel.
Por tudo isto, durante as duas horas que lá estive voltei a ser criança, e a sentir aquele fascínio raro de estarmos a ver tudo pela primeira vez... aos 40 anos de idade, estes instantes tornam-se epifanias, e por isso mesmo, mais valiosos que uma mina cheia de diamantes.

Quanto ao que fomos lá fazer, tudo começou bem e acabou ainda melhor. As provas de cor foram afinadas (ou melhor, harmoniosamente dasafinadas, porque em artes gráficas, a afinação perfeita não existe... o que é bom para uma imagem pode revelar-se uma má escolha para outra, o que se torna um problema quando essas duas imagens estão num mesmo plano de papel), e os dois livros que aí vêm vão finalmente ver a luz do dia. Posso desde já levantar um pouco do véu... chamam-se "Sabes que também podes ralhar com os teus pais?" e "Sabes como é que os teus pais se conheceram?", fazem parte de uma colecção mais vasta a editar pela Booksmile. Os textos são da jornalista Maria Inês de Almeida, e posso desde garantir que o resultado final me deixou absolutamente... bem, deixo essa bola do vosso lado.

O lançamento está programado para o dia 14 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro, mas disso falarei aqui mais tarde. Estão desde já convidados.

2 comentários:

Paulo Freixinho disse...

14 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro... aceito o convite... ;-)... ah, as gráficas!... abraço...

RuAn disse...

Desde então tem um belo modo de ver o mundo. Talvez isso é o que te faz tão bom artista. Pela minha parte decirche que me fiseches chorar com o texto (não me faça muito caso, minha esposa diz que sou um choromicas) é lembrar-me do meu irmão o que boto muito de menos. Abraços. Muita alegria na sua vida

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