quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Eu amo a minha sombra












Há poucos dias foi o lançamento oficial do último livro ilustrado por mim. Chama-se "A minha amiga Sombra", foi escrita por Luís Carmelo e editada pelos CTT - Correios de Portugal. Este livro faz parte de um coleção que foi inaugurada o ano passado com o livro "A magia das cartas", escrito pela Margarida Fonseca e Santos e belamente ilustrado pela minha amiga Carla Nazareth.

Um livro que vai pô-los a olhar para as superfícies que nos cercam por todo o lado e a meditar sobre aquelas criaturas assombradas que nelas vivem que, ironicamente, nascem sempre de coisas que são iluminadas por uma fonte de luz. Uma dessas criaturas será a vossa melhor amiga, que vos seguirá incondicionalmente para todo o lado.

Eu amo a minha sombra... e vocês? 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Uma oficina que rimou com cafeína


















Ainda no âmbito do evento Braga em Risco - Encontro de ilustração, fui convidado a fazer uma pintura ao vivo e ainda uma pequena oficina com os miúdos e os graúdos dos miúdos que ainda adoram ser miúdos, a que muito a propósito batizei de "Uma oficina que rima com cafeína". Tudo isto no dia 13 de Novembro. 

Seguindo a tendência das minhas últimas sessões de pintura ao vivo, voltei uma vez mais a mergulhar no mundo dos materiais de pintura inusitados. Falo de café, de vinho reduzido, de açafrão, de pimentão-doce, de pó de carvão (...). E porque teimo eu neste materiais? porque são divertidos, algo anárquicos, belos, baratos / democráticos, naturalmente harmoniosos entre si, aromáticos, desconcertantes e visualmente dinâmicos conforme vão envelhecendo na tela (uma homenagem ao livro O retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde).

A inspiração para a imagem a ilustrar chegou-me com grande intensidade pelas palavras do saudoso cavalheiro Leonard Cohen - por quem sempre nutri um enorme carinho - no tema "Anthem", a quem muito humildemente quis prestar uma sentida homenagem:

"There is a crack, a crack in everything 
That's how the light gets in."

Esta frase tem sido para mim um mantra ao qual tenho recorrido ultimamente para sobreviver à escuridão e ao caos que parecem estar a cobrir uma vez mais a humanidade.


Este tipo de ilustrações, feitas ao vivo e sem rede têm um carácter tosco e experimental que me agrada sobremaneira. Não são nem pretendem ser produtos acabados - muito pelo contrário - mas sim um esboço de uma eventual ilustração futura e, acima de tudo, um exercício de libertação pessoal, porque crescemos sempre que vamos para fora de pé. Esta é pois, mais uma imagem que sei, voltarei daqui a uns tempos.

Quanto à oficina, foi uma vez mais deliciosa, porque uma vez mais os miúdos não precisaram de mim para nada. O que pretendo com estes momentos não é ensinar qualquer coisa no sentido mais lato do termo... seria uma grande presunção da minha parte acreditar que poderia ensinar o que quer que seja a um espírito livre. O que pretendo unicamente é devolver aos miúdos o prazer imenso que é desenhar, pintar, rabiscar pelo mais puro e primitivo dos prazeres. Há 20.000 anos atrás já os nossos antepassados peludos marcaram para a posterioridade, nas paredes das cavernas, esse impulso mais forte do que a vontade. Não pretendo imagens bonitas (se bem que elas aparecem sempre... seja lá o que isso signifique), não pô-los a desenhar uma qualquer coisa previamente desenhado por mim, nem definir um tema nem sequer fazer comparações ou fomentar competições para ver quem esteve mais à altura. Isso já eles têm de sobra, para dar e vender, na escola.

É o prazer que eu quero (re)visitar. O prazer das texturas, dos cheiros, das manchas aparentemente casuais, das cores que se harmonizam naturalmente entre si, das mãos sujas, da surpresa com que descobrimos que existem infinitos materiais de desenho e pintura, do olhar que se perde nos pormenores das marcas que vamos imprimindo no papel e que a maior parte das vezes nem reparamos (experimentem pintar com um material qualquer, e depois observar com uma lupa). E, acima de tudo, quero plantar a semente da vontade... A vontade de voltar muitas vezes a esse Lugar. Porque é nesse Lugar que tudo o que vem a seguir deverá assentar.

Se conseguir fazer retinir essa corda numa só pessoa,
já ganhei o dia,
o mês,
o ano. 



A workshop that rhymed with caffeine

Still in the ambit of the event Braga en Risco - Illustration Meeting, I was invited to do a live painting and also a small workshop with the kids and the fathers of the kids who still love being kids, to which I very much called "A workshop Which rhymes with caffeine". All this on November 13th.

Following the trend of my last live painting sessions, I went back once more to immerse myself in the world of unusual painting materials. I speak of coffee, reduced wine, saffron, sweet pepper, coal dust (...). And why I stubborn in this materials? Because they are fun, somewhat anarchic, beautiful, cheap / democratic, naturally harmonious, aromatic, disconcerting, and visually dynamic as they age on the canvas (a tribute to Oscar Wilde's The Portrait of Dorian Gray).

The inspiration for thus illustration came to me with great intensity from the words of the late gentleman Leonard Cohen - someone i always had a great affection - on the theme "Anthem", to whom i very humbly wished to pay a heartfelt tribute:

"There is a crack, crack everything
That's how the light gets in. "

This phrase has been for me a mantra to which I have lately come to survive the darkness and chaos that seem to be covering humanity once again.

This type of illustrations, made live and without a net, has a crude and experimental nature that I like very much. They are not and do not pretend to be finished products - quite the contrary - but rather a sketch of a future illustration and, above all, an exercise in personal liberation, because we grow up whenever we go outside the box. So, this is an image that I know, I will return one day.

As for the workshop, it was once again delicious, because once again the kids did not need me at all. What I want to do with these moments is not to teach anything in the broadest sense of the term ... it would be a great presumption to believe that I could teach anything to a free spirit. What I intend to do is to return to the children the immense pleasure of drawing, painting, and scribbling as purest and primitive pleasures. Twenty thousand years ago, our hairy ancestors marked this impulse stronger than the will on the walls of the caves. I do not want beautiful images (although they always appear ... whatever that means), I did not make them draw something previously designed by me, nor define a theme or even make comparisons or encourage competitions to see who is the best. That they already have plenty of, to give and to sell, in school.

It's the pleasure that I want to (re)visit. The pleasure of the textures, of the smells, of the seemingly casual spots, of the colors that harmonize naturally with each other, of the dirty hands, of the surprise with which we discover that there are infinite materials for drawing and painting, of get lost in the details of the marks that are printing on paper and most of the time we do not even notice it (try painting with some material, and then observe with a magnifying glass). And, above all, I want to plant the seed of the will ... The will to return often to this Place. Because it is in this Place that everything that comes next should rest.

If i can strum this rope in just one person,
I'll have won the day,
the month,
the year.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A minha primeira ilustração Pop Up













Sou um pai babado... das minhas mãos saiu a minha primeira ilustração em técnica Pop Up. É certo que é simples, naíf e sem grandes mistérios técnicos mas, caramba, é a minha primeira ilustração em Pop Up. Já foi feita a algumas semanas, no âmbito do  evento Braga em Risco - Encontro de ilustração, mais precisamente para a a exposição "BRAGA 22x22", que foi inaugurada inaugurada no dia 12 de novembro na Casa dos Crivos, comissariada pelo grande Pedro Seromenho. De referir que todas as ilustrações desta exposição são fortemente inspiradas na cidade de Braga, uma das duas condições a cumprir na produção das obras... a segunda condição foi que todas as ilustrações deveriam ter 22x22 cm. Pois... como poderão ver nas fotografias, fui anárquico em relação a estas dimensões, mas de uma coisa posso assegurar... a base da ilustração, depois de aberta, tem exatamente essas dimensões.

E o que posso dizer sobre a minha fonte de inspiração? Adoro histórias de amor - especialmente as de amores trágicos e impossíveis (é o meu lado gótico... o que fazer?) - razão pela qual escolhi a Lenda de São João e do Longuinhos. Quanto ao cenário, quis representar um dos (muitos) espaços urbanos mais simbólicos da bela cidade de Braga... o Arco da Porta Nova, um monumento que está na base da famosa pergunta "És de Braga?" a quem deixa uma qualquer porta aberta.


My first Pop Up illustration

I'm a frumpy father ... my first illustration using Pop Up technique. It's simple, naïve, and without great technical mysteries, but by all means, it's my first illustration in Pop Up.
It was made as part of the event Braga en Risco - Illustration Meeting, more precisely for the exhibition "BRAGA 22x22", which was inaugurated on November 12 at the Casa dos Crivos, curated by the great Pedro Seromenho. It should be noted that all the illustrations of this exhibition are strongly inspired by the city of Braga, one of the two conditions to be fulfilled in the production of the works ... the second condition was that all illustrations should have 22x22 cm. For ... as you can see in the photographs, I was anarchic in relation to these dimensions, but one thing I can assure you ... the basis of the illustration, once opened, has exactly these dimensions.

And what can I say about my source of inspiration? I love stories of love - especially those of tragic and impossible love (it's my gothic side ... what i can do?) - which is why I chose the Legend of St. John and Longuinhos. As for the scenery, I wanted to represent one of the most symbolic urban spaces in the beautiful city of Braga ... the Arco da Porta Nova, a monument that is at the base of the famous question "Are you from Braga?" to whom leaves an open door behind.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Retratómatos






















Retratómatos from Paulo Galindro on Vimeo.



No passado dia 9 de Outubro (eu sei... eu sei... já foi há um mês e meio, e eu só agora estou a falar disto, mas os dias são teimosos, não arredam pé das limitadas 24 horas), foi o Dia D na Gulbenkian. Espetáculos, instalações, oficinas e concertos para todas as idades, houve de tudo um pouco no período das 10h30 às 18h00.
Tive o privilégio de integrar as atividades desse dia, fazendo parte da equipa dos Retratómatos. Perguntarão vocês que diacho é um retratómato...


(vá... perguntem lá... eu espero... sei que estão cheios de vontade)

Pois bem... um retratómato é uma máquina muito especial, e que por isso mesmo faz retratos muito especiais. Uma série de caixas de cartão (brilhantemente concebidas pelo meu grande amigo e designer de equipamento, Marc Parchow...tcharan!) escondem em cada uma delas um ilustrador, que nesse retiro espiritual tem como função desenhar retratos. Se essa tarefa já parece difícil (pelo menos para mim que não sou retratista), imaginem vocês que os retratos são executados tendo como base única e exclusivamente a descrição feita pelo retratado que em, frente a um espelho, vai-se descrevendo de forma tão rigorosa quanto os seus olhos (e a sua imaginação, porque olhar é também imaginar) o permitirem. Cabe ao ilustrador, que não tem qualquer contacto visual com o retratado, orientar e descodificar as descrições que vão sendo debitadas, traduzindo a imagem que se vai formando na sua cabeça num papel, utilizando os materiais à sua escolha. No fundo, todos desenhámos... o retratado com os olhos e a boca, eu com a minha mão esquerda. O sucesso depende por isso mesmo 2 pessoas. Alguma vezes aproximei-me da realidade, outras fiquei tão longe que cheguei a duvidar se não deveria estar a vender bolas de Berlim na praia.

Foi uma experiência única e muito mais extenuante do que poderia imaginar quando me convidaram para fazer parte deste evento.
Todos os retratos que sairam das minhas mãos foram executados em charcoal sobre papel de aguarela.

Eu e a minha mania de estar sempre a ir para fora de pé!



Last October 9th (I know ... I know ... it's been a month and a half now, and I'm just talking about it now, but the days are stubborn, they don't have more than 24 hours), it was The D-Day in Calouste Gulbenkian. Shows, installations, workshops and concerts for all ages, there was a bit of everything from 10:30 a.m. to 6:00 p.m.
I had the privilege of integrating the activities of that day, being part of the Retratómatos team. You'll be asked what the hell is a Retratómato...


(Go ... ask ... I'll wait for you... I know you want to know)

Well ... a Retratómato is a very special machine, and that's why it makes very special portraits. A series of cardboard boxes (brilliantly designed by my great friend and equipment designer, Marc Parchow ... tcharan!) that hide in each of them an illustrator who, in this kind of spiritual retreat, has the function of drawing portraits. If this task already seems difficult (at least for me, I am not a portraitist), imagine that the portraits are executed on the sole and exclusive basis of the description made by the person portrayed in front of a mirror. Rigorous as his eyes (and his imagination, because to look is also to imagine) allow it. It is up to the illustrator, who has no visual contact with the picture, to orient and decode the descriptions made, translating the image that is forming in his head on a paper, using the materials of his choice. In a matter of fact, we all drew ... the one with the eyes and the mouth, me with my left hand. Success, therefore, depends on 2 persons. Sometimes I got close to the reality, other times I got so far away that I doubted if I should be selling Berlin balls on the beach.

It was a unique experience and much more strenuous than I could have imagined when I was invited to take part in this event.
All the portraits that left my hands were executed in charcoal on watercolor paper.
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