segunda-feira, 25 de julho de 2011

Natalina II


Este era um post que estava guardado para o dia em que o nosso casamento fará 13 anos, no próximo dia 29 de Agosto. No entanto, cada vez mais sou apologista de que não devemos procrastinar naquilo que é essencial e por isso mesmo invisível aos olhos (obrigado Principezinho e Saint-Exupéry, pela repentina fonte de inspiração). Podemos simplesmente nunca mais ter a oportunidade de o fazer.

Fiz esta banda desenhada para oferecer à minha namorada há 22 anos, quando tinha a bela idade de 19 e a cabeça ainda coroada com uma bela cabeleira digna de um autor de telenovelas venezuelano.
Na altura estava a prestar provas para piloto da Força Aérea, e ainda não sabia o que o futuro me reservaria:
Não sabia ainda que a única coisa que os aviões e o meu destino tinham em comum seria o facto de um dia vir a andar sempre com a cabeça nas nuvens;
Não sabia ainda que viria a ser arquitecto;
Não sabia ainda que viria a ser ilustrador (apesar de secretamente sonhar com isso desde os 6 anos), e a arquitectura passaria para 2º plano;
Não sabia nem sequer podia conceber que um dia viria a ser careca;
Não sabia ainda que a namorada para quem esta banda desenhada foi criada viria a ser a minha mulher e mãe dos meus filhos.
Não sabia ainda 1.000.000.000 de pequenos nadas que por isso mesmo são tão importantes.

É, de facto não sabia nada de nada mas pressentia (intuição masculina?) que esta mulher era especial e que de alguma forma o meu destino passaria por ela. E por isso, dediquei-lhe algo que sempre gostei de fazer... um desenho, ao qual pomposamente gosto de chamar Banda Desenhada (peço desde já perdão aos verdadeiros autor desta nobre arte de contar uma histórias). Nestas 4 pranchas despejei tudo aquilo que sentia por esta mulher, de uma forma ingénua, naíf e ainda muito limitada pela minha idade e pouca experiência em desenho e no entendimento do sexo oposto (confesso que aos 41 anos continuo a ter um défice nestas duas áreas). Não obstante estas limitações, mesmo agora que sou ilustrador profissional, este é um dos meus trabalhos mais poderosos e sinceros.

Há poucos dias, enquanto procurava uma fotografia, encontrei por acaso os originais desta banda desenhada, e emocionei-me porque viajei no tempo ao interior do meu coração ainda adolescente, quando nada sabia mas tudo pressentia quando estava frente-a-frente com alguém que brilhava mais do que todas as outras raparigas com quem me relacionei.
A vida e a vidinha, a espuma dos dias, os problemas e os obstáculos levam-nos indubitavelmente ao esquecimento daquilo que é essencial e invisível aos olhos. Construir um casamento, uma relação ao longo dos anos, natal após natal, é um desafio constante. Duas galáxias que umas vezes colidem de forma épica, outras se harmonizam na perfeição, numa valsa que, no nosso caso, deu origem a duas pequenas estrelas. Nada é fácil nesta dança, muitos desistem pelo caminho, e muitas foram os momentos de fraqueza em que nós mesmos pensámos em desistir. O prémio é único e tentador... a construção, piso-a-piso, de um edifício que por ser tão alto, pode  chegar à lua. Mas, por vezes, temos de descer às fundações deste edifício, vislumbrar-lhe os pilares, reforçar onde é preciso, reconstruir parte da estrutura se necessário, para que lá em cima, junto ao céu, não abane tanto.

Hoje, ao ler estas 4 pranchas feitas por um rapaz onde ainda cabiam todos os sonhos do mundo, visitei as fundações do nosso arranha-céus, e apercebi-me que, apesar de tudo, elas estão fortes e para durar. Não sei se será a peso religioso e assustador do "Amar-te-ei até que a morte nos separe", e sinceramente nem quero saber. Por mim, prefiro muito mais a leveza e a transparência da poesia de Vinicius de Moraes:

"(...) Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure".

Hoje, 22 anos depois, reitero tudo o que aquilo que escrevi e desenhei nestas folhas já amarelecidas pelo tempo. Voltaria a fazer tudo outra vez. Muitas vezes. Contigo.



Amo-te


PS: Espero que não leves a mal nem te sintas constrangida pela transparência desconcertante deste post. Às vezes sabe bem subirmos a uma montanha e gritar bem alto.

5 comentários:

Natalina Cóias disse...

Agora deixaste-me mesmo sem palavras...

Anónimo disse...

Eu, como leitora deste blog, é que fico um bocadinho constrangida por estar agora a comentar, mas sei que será, no mínimo, agradável receber algum retorno por partilhar toda essa "transparência"...

Só quem não teve 19 anos é que não pode entender esta BD!... E que bom ter o talento para registar em desenho a ansiedade e a saudade do namoro, enquanto se faz uma declaração de amor... Os meus parabéns ao casal! :)

Ana Paula Oliveira disse...

O casamento é, realmente, uma valsa muito difícil de dançar. Quando os passos de descoordenam, quando o pé de um pisa o pé do outro, quando não se ouve a melodia da mesma maneira nem se sente o mesmo ritmo, quando, quando, quando…
Mas a BD tem o final feliz. Amor e ternura, compreensão e vontade fazem com que o ritmo se acerte, os passos se coordenem e a valsa seja levada até ao fim, com algum suor e cansaço, é certo, mas sem atropelos.
Felicidades é o que vos deseja quem já dança a mesma valsa há 28 anos (ainda não chegou o momento de mudar para o tango!!!).

Anónimo disse...

Parabéns!
Ausenda Nunes

Sofia Maul disse...

<3

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