quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os fios que nos ligam



Pormenor da ilustração
"Um lugar iluminado, que vive dentro de ti"
por Paulo Galindro
Acrílico, lápis-de-cor, lápis-de-cera, pastel e canetas Posca
sobre MDF de 3 mm, 0.80 x 1.22 metros
Novembro 2011
 
"With one breath, with one flow
You will know
Synchronicity
A sleep trance, a dream dance,
A shared romance
Synchronicity

A connecting principle
Linked to the invisible
Almost imperceptible
Something inexpressible
Science insusceptible
Logic so inflexible
Causally connectible
Yet nothing is invincible

If we share this nightmare
Then we can dream
Spiritus mundi
If you act as you think
The missing link
Synchronicity

We know you, they know me
Extrasensory
Synchronicity
A star fall, a phone call
It joins all
Synchronicity

It's so deep, it's so wide
You're inside
Synchronicity
Effect without a cause
Sub-atomic laws, scientific pause
Synchronicity....."

The Police "Sychronicity"


Desde que me lembro que sempre senti uma atracção irresistível pelo lado invisível e etéreo daquilo que normalmente chamamos de Realidade. Esta atracção, aliada a uma sensibilidade à flor da pele, já me fizeram percorrer muitos caminhos no sopé desta montanha a que chamamos Vida, em busca do melhor trilho que me irá levar lá a cima, ao cume - ou pelo menos tão próximo dele quanto possível - onde tudo é mais cristalino, puro e arejado.Nesta busca que é de todos nós, conheci pessoas dos mais diferentes quadrantes. Muitas delas impregnadas de plena sinceridade na sua demanda. Muitas delas nem por isso. Conheci filosofias de vida tão alternativas que ainda hoje me custa acreditar que existam. Assisti a algumas coisas espantosas. Ouvi algumas coisas de tirar o fôlego. Livre por não ter qualquer ligação a grupos religiosos - não gosto de Religião - cruzei-me com textos cientificos, sagrados, profanos, místicos, oraculares, monoteístas, politeístas, panteístas e tudo o resto. Li Madame Blavatsky, Allain Kardec, Carl Sagan, krisnhamurti, Richard Hawkins, António Damásio, Fernando Pessoa, Lao Tze, Stephen Hawking, Dalai Lhama, Osho, Sogyal Rimpoche e sei lá mais o quê. Iludi-me. Desiludi-me. Voltei-me a iludir. Desiludi-me de vez. Aos poucos, fui depurando a minha visão da espiritualidade. Sujeitei-a ao filtro da minha intuição. Despojei-a do acessório, penerei-lhe o essencial. E na verdade, sinto que apenas escalei alguns metros da montanha. A vida, para ser aprendida, deve ser vivida ao máximo. Não se aprende a viver nos livros. Estes são como tabuletas ao longo do nosso percurso, que nos contam e cantam outros caminhos alternativos, por vezes tão paralelos e próximos ao nosso que parecem ilusoriamente coincidentes. Outras vezes tão diferentes e longínquos, que sem os livros nunca saberíamos da sua existência. Mas as estradas que se estendem para lá destas tabuletas, cabe-nos a nós decidir se queremos, para onde e como vamos percorrê-las.
De tudo aquilo que acreditei ao longo da minha vida, são muito poucas as coisas que me restam. Ficou o essencial... meia dúzia de Pilares que estruturam a minha Catedral Interior. Mas na verdade, este processo de depuração ainda não terminou. Alguns desses pilares vão tremer, alguns vão ruir, alguns sairão reforçados, outros poderão ser reconstruídos. Porque viver é tremer pelas bases, é pôr à prova o nosso edifício, sujeitá-lo ao sismo constante da Vida. É cair e levantar. Demolir e reconstruir. Errar e corrigir.
Um desses pilares, construído em pedra maciça, é a consciência da Sincronicidade. Carl Jung esculpiu-lhe o nome, para falar de acontecimentos que se dão não por relação casuística, mas por relação de significado. Dito de outra forma, a sincronicidade é a experiência de ocorrerem eventos que coincidem não de uma forma aleatória (o acaso nunca acontece por acaso) mas de uma forma plena de significado para ou as pessoas envolvidas, para as quais esse significado esconde um padrão subjacente. E sabem... a partir do momento em que trazemos para a consciência esta relação de significação entre tudo o que nos envolve, a magia acontece. Encontramos respostas às nossas perguntas das formas mais surreais. Pode ser uma música que saí de um pequeno rádio de um sapateiro, a conversa entre dois desconhecidos, uma notícia de um jornal com 2 semanas que vem até nós arrastado pelo vento, um livro que parece brilhar mais do que qualquer outro numa livraria, uma resposta do I Ching, um telefonema de alguém que estamos a recordar nesse preciso momento, um pedaço de papel com um excerto de um poema. A sincronicidade é para mim tão incontornável que por vezes abandono-me em jogos de adolescente, onde a resposta a uma determinada pergunta ou decisão virá através - por exemplo - do facto de, na próxima hora, o acaso-que nunca-acontece-por-acaso e o meu leitor de MP3 reproduzirem aleatoriamente uma determinada música escolhida mentalmente por mim, entre 2545 outras músicas que poderiam tocar aleatoriamente nesse momento. Sei que para muitos de vocês este comportamento poderá parecer uma infantilidade... E sabem que mais? É mesmo uma infantilidade, e das grandes.  Processem-me por atentado à maturidade. Pode ser que o juiz goste de jogar ao berlinde.
Outras vezes, quando me deparo com decisões que podem ser arestas na minha vida,consulto o I Ching -também conhecido por Livro das Mutações, e aí estou protegido por todos aqueles que há milhares de anos o fazem. Para quem não sabe, foram e são muitas as pessoas que consultam este livro em busca de respostas para as dúvidas que os assolam (John Cage, Phillip H. Dick, George Harrison, Pink Floyd e Herman Hesse foram algumas delas).
Também podem usar o clássico malmequer... Eu, pessoalmente, confesso que desde os meus 10 anos que não o faço. E o pobre do malmequer não tem culpa nenhuma.

Estamos Todos interligados por finos fios transparentes. Na verdade, "Todos" não é palavra correcta... é "Tudo". Por vezes temos um relampejo dessas subtis ligações, mas na maior parte do tempo movimentamo-nos no espaço e no tempo completamente alheios a esta teia. Há fios que se repetem e que se vão tornando mais fortes ao longo da vida. Outros são tão voláteis como uma chama de uma vela ao vento. Alguns fazem laços... outros nós. Algumas vezes os padrões formados por estes fios são caóticos. Outras têm a beleza e a perfeição de um cristal de floco de neve. Mas as ligações, essas existem sempre. E neste tapete, as respostas parecem surgir diante dos nossos olhos... mas na verdade, elas vivem sempre dentro de nós. A sincronicidade é por isso mesmo um número infinito de metáforas aparentemente exteriores a nós, que corporizam aquilo que nós já sabemos e sentimos cá dentro.


"To see a world in a grain of sand
and a heaven in a wild flower
Hold infinity in the palm of your hand
and eternity in an hour."

William Blake



1 comentário:

Sílvia Mota Lopes disse...

Agora fiquei sem palavras...penso o mesmo e sinto o mesmo:)
sabes a nossa vida é como um arco íris.Não sabemos onde começa e onde acaba! mas o mais importante é o meio...disso temos consciência e a responsabilidade pelo que somos, pelo que fazemos...pela nossa vida.Ainda bem que conheço pessoas maravilhosas que deram e dão mais cor à minha vida e eu como pessoa madura que sou tenho esse dever para com os que me rodeiam. E sabes uma coisa..também tenho infantilidades...e sou infantil...e ainda bem! :)mas nem por isso deixo de ter maturidade e ser madura...maturidade essa que falta a muita gente.
obrigada Paulo pelo que és...Beijinhos Gosto muito de ti

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