"Uma viagem no branco" por Paulo Galindro Uma interpretação do poema de João Paulo Cotrim Tinta da China e guache sobre cartão Novembro de 2004 |
There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams yet slips away
from us
Who wants to live forever
Who wants to live forever....?
There's no chance for us
It's all decided for us
This world has only one sweet moment set aside for us
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Who dares to love forever?
When love must die
But touch my tears with your lips
Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Forever is our today
Who waits forever anyway?
Queen, "Who wants to live forever?"
Ontem morreu-me um familiar. Não foi um familiar directo, é certo, mas por afinidade, por via da Natalina. Hoje, durante a cerimónia de despedida, dei por mim a pensar como nunca no que será o sentido da vida e da morte. Ao longo da minha existência já perdi algumas pessoas para a Senhora de Negro, algumas da quais novas de mais, cedo de mais, e bem mais próximas do que a pessoa em referência, que ainda assim era alguém com quem privei muitas vezes, e por quem tinha uma grande estima. Em todas elas a dor foi enorme, mas nunca como hoje senti tão perto e de forma tão intensa a Força e a Fragilidade da Vida. O mergulho para dentro de mim mesmo foi tão intenso que naquele momento senti um vontade urgente de ter tintas ou letras que me iluminassem o caminho de volta. Não tinha. Tive por isso de me manter lá no fundo, até agora que estou em frente ao computador.
O que é a Vida? Qual o seu sentido? E a Morte? O que significa? Qual o propósito de algo tão volátil, tão delicado e simultaneamente tão poderoso? Para o Homem, a morte tem sido desde sempre o derradeiro mistério. A última travessia para a Eternidade. Para a Terra do Nunca. Ou para Lugar Nenhum. Para mim, que não visto a camisola das religiões - e que sem fazer juizos de valor considero ser condição determinante para manter um certo discernimento - a Morte é acima de tudo um salto quântico. Uma transmutação alquímica. Ou, por analogia a fenómenso que vemos no nosso dia-a-dia, uma simples mudança de estado.
Gelo. Água. Vapor. Água.
Gotas. Lagos. Rios. Oceanos.
Acima de tudo, água... simplesmente água.
Seja como for, sinto que à escala das nossas vidas, a aparente separação entre estes estados - a Vida e a Morte - tem um propósito... o de vivermos o Aqui e o Agora.
Assim sendo, resta-nos dar uma atenção redobrada ao estado em que nos encontramos neste momento. Vivos.
Resta-nos a força dos laços que criamos com todos aqueles que nos rodeiam. Restam-nos a eternidade dos sonhos e das ideias. Resta-nos poder criador das emoções. Resta-nos a capacidade de tocar positivamente a vida dos outros. Resta-nos o Amor e a Criatividade. Resta-nos a matemática não euclidiana onde 1+1=1, aquela que nos permite enlaçar duas jóias de forma helicoidal e criar Vida, num processo que se renova a si mesmo. Resta-nos o poder desse instante chamado Presente - um camada tão fina de tempo que quando o acabamos de soletrar já é passado - aproveitando ao máximo cada minuto como se fosse o último.
Sinto que é isso que fica de nós quando o corpo adoece e se desmaterializa. É aí que reside a semente da eternidade. O resto? Bem... o resto são meros adereços, acessórios que a maior parte das vezes nos desfocam os sentidos.
Tudo o que desejo é ter a clarividência de transformar este mantra em actos concretos e diários. Em gestos e em palavras que façam sentido como um todo superior à soma das suas partes. E isso, ironicamente, é o mais dificil.
E que vem a seguir? Bem, o que vem a seguir todos nós, um dia, descobriremos. É a única coisa verdadeiramente justa e democrática que conheceremos nesta vida.
Carpe Diem
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