terça-feira, 4 de agosto de 2015
O Meu Chão / My Ground
Nasci há 45 anos nesta casa, onde os meus pais ainda moram. Foram incontáveis as horas que passei a brincar neste chão de cozinha. Nele vi paisagens singulares, estradas labirínticas e quarteirões de cidades. Nos buracos deste velho chão explorei crateras de planetas longínquos, e nas suas juntas vi carris por onde os meus comboios de berlindes deslizavam cuidadosamente para não descarrilar. Convivi com este chão dia e noite, durante 28 anos. Quase já nem dava por ele, até hoje, quando o olhei através da lente do meu telemóvel. Por um breve instante, vi-o pela primeira vez, como quando era criança... porque somos crianças enquanto temos a capacidade de ver, repetidamente, as coisas que nos rodeiam e que nos são familiares, pela primeira vez.
Quando quero descobrir os erros de uma ilustração ou um desenho no qual estou a trabalhar, observo-o através de um espelho. Nesse mundo invertido, o nosso cérebro viciado é enganado e tudo salta à vista com uma frescura e uma intensidade arrebatadoras.
Com o mundo que nos rodeia, talvez possamos fazer o mesmo... e quem sabe, por uns breves momentos, possamos ser crianças outra vez.
I was born 45 years ago in this house, where my parents still live. I spent countless hours playing on this kitchen floor. On it, I saw unique landscapes, mazy roads and blocks of cities. In the holes of this old ground I explored the craters of distant planets, and train made of marbles slid carefully on the rails of his joints for not derail. I lived with this ground day and night, for 28 years. I never looked it with real attention until this day, when I observed it through my cell phone lens. For a brief moment, I saw it for the first time, such as when i was a child ... because we are children while we have the ability to see, repeatedly, things that surround us and which we are familiar, for the first time.
When I want to discover the errors of an illustration or a drawing in which I am working, I observe it through a mirror. In this inverted world, our addicted brain is tricked and everything stands out with a freshness and sweeping intensity.
With the world around us, maybe we can do the same ... and maybe for a few brief moments, we may be children again.
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Inspirações
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