terça-feira, 12 de março de 2013

There is a light that never goes out

"There is a light that never goes out"
por Paulo Galindro
Belém, 12 de Janeiro de 2013

Faz hoje precisamente 60 dias que estou em casa, desde que tive alta do Hospital onde estive internado. 60 dias de calendário, que dos outros, daqueles que são medidos pelo relógio que vive dentro de mim, desses já há muito perdi a conta. Digamos que de acordo com o meu tempo interno, estou em suspenso há uma eternidade e algumas horas. Talvez esta dilatação se deva ao meu coração já ter visto melhores dias a marcar com precisão o ritmo dos meus minutos. Ao fim deste tempo todo, o Centro de Mim continua a dar sinais que algo continua a não estar bem... Nada bem. É dificil não ficar preocupado, não me deixar ir pela imaginação, por pensamentos mais negros e tristes. Não ter ter medo. Bem tento é certo. Há dias que até tenho algum sucesso. Mas ao mais pequeno esforço ou irritação - e às vezes até mesmo sem razão nenhuma - o Centro de Mim transforma-se, irrita-se e arritma-se. Passa de música clássica para ambientes rave, de Black Metal para baladas rock dos anos 80, tudo isto em segundos e não necessariamente pela mesma ordem.
Por vezes, o meu peito arde um pouco e parece querer agigantar-se... nesses momentos gosto de pensar que esses são sintomas agradáveis noutras ocasiões, quando colónias de borboletas instalam-se na nossa barriga. Mas infelizmente não é nada disso. Outras o peito parece comprimir-se, como se quisesse esconder-se. É... O meu Coração já viu dias melhores.
Durante todo este tempo que se tem arrastado a um ritmo pastoso, nada li sobre o que tenho. Quis com isto evitar dramatismos desnecessários e descontextualizados que em nada ajudariam a minha recuperação. Agora temo que não o ter feito possa ter-me levado a subestimar a situação em que me encontro. Merda... O Caminho do Meio é das coisas mais difíceis de atingir, pelo menos para uma pessoa vulcânica e estratosférica como eu.
Estou à espera que médicos me vejam, olhe, cá para dentro e me digam que está tudo bem, que o que sinto faz parte de um processo de construção e não de desconstrução. Até lá tentarei ficar quieto. E acabar devagarinho as ilustrações de um livro que tenho em mãos, que no meio desta tempestade tem sido simultaneamente ponto de encontro de mim comigo mesmo e um parto muito difícil e arriscado.


Quieto...



Penso em Faróis... e na sua Luz.

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