3 meses se passaram desde que o meu coração me trocou as voltas (curioso... Lembrei-me agora de um velho ditado árabe: "queres ouvir Deus dar uma gargalhada? Conta-lhe os teus planos!").
Durante este período (re)aprendi o Tempo. Não o tempo linear e euclidiano. Esse existe só nos livros. Falo do Tempo emocional, relativo, que Einstein no seu modesto bloco de notas tão bem intuiu, ainda que subindo a montanha do conhecimento pelo trilho da ciência. Este Tempo não é matemático. Nele não se somam e subtraem segundos, minutos, horas, dias, anos. Sendo uma dimensão não euclidiana, comprime-se ou dilata-se ao ritmo do nosso coração. Divide-se na resiliência da esperança. Multiplica-se na fraqueza e na fragilidade. Subtrai-se na delicadeza e raridade dos instantes de pura felicidade. Soma-se na desesperança dos momentos menos bons. Este ritmo obedece apenas a uma única regra... O Tempo de um momento é directamente proporcional ao quanto esse momento é agradável ou desagradável. É essa a suprema ironia da vida: os instantes mais intensos e mágicos da nossa vida são os mais fugazes e efémeros, mas são também aqueles que nos mudam para sempre. Trágico e belo.
Agora que penso melhor nisso, acho que vou reformular a frase com que iniciei este post... Uma eternidade se passou desde que o meu coração me trocou as voltas
90 dias em casa, onde nada pareceu acontecer e no entanto, agora que olho para trás, tanto aconteceu. E como tudo o que é realmente importante ao coração é invisível aos olhos, muitos desses "eventos" ocorreram a um nível profundo, visceral, indizível. Não tentarei aqui sequer descrevê-los até porque não conseguiria. Não tenho a musculatura poética que me garanta o sucesso dessa demanda. Tudo o que me resta é naturalmente deixar que isso se reflicta naquilo que faço, naquilo que pinto.
Agora que terminei o livro, cumpre-se uma vez mais o ritual de desapego, de desprendimento do livro. Aos poucos, ele deixará de ser meu e passará a ser de todos vocês que o folhearem. Um processo que terá seu términos no exacto momento em que o livro estiver impresso.
Esta é a sinopse do livro:
"Max vive em Munique com os seus pais e irmãos — e com Mix, o seu inseparável gato preto com uma mancha branca na barriga. Amigos desde a infância, quando Max cresce e decide mudar de casa, leva Mix consigo. Mix adora viver no novo apartamento. Mas quando Max começa a trabalhar e não pode estar tanto tempo em casa, Mix, que está a envelhecer e a perder a visão, sente-se cada vez mais sozinho.
Um dia, Mix ouve uns passinhos suaves vindos da despensa e descobre que há um ladrão a comer os cereais crocantes do dono. Esperto, Mix deixa-se ficar quieto e, de repente, com a rapidez de outros tempos, estica a pata e sente o corpo trémulo de um minúsculo ratinho. Mex, como é batizado, é um ratinho mexicano, muito medroso e charlatão. Mas os verdadeiros amigos apoiam-se um ao outro e juntos aprendem a partilhar o que de melhor têm dentro de si.
Baseado num episódio da vida de um dos filhos de Luis Sepúlveda, a História de um gato e de um rato que se tornaram amigos oferece-nos uma vez mais uma fábula singela e divertida sobre o verdadeiro valor da amizade. "
E o melhor de tudo?
Agora, depois de todos os exames que voltei a fazer, sei que está tudo bem com o meu coração. E que bate mais forte do que nunca.
4 comentários:
Eu não acredito em deus, mas sem dúvida que no teu templo sagrado houve um sismo para te lembrar que é frágil e que precisa de cuidados. Foi um aviso da vida do corpo. Não te esqueças quando fores na tua alta velocidade: nas pequeninas velocidades há muito mais tempo para observar a imensidão que temos disponível para sentir. Para além da adrenalina há a dopamina, a serotonina, a ocitocina e todas as minas transformadoras explosivas do nosso ser.
Bem hajas, Paulo!
Essas minas todas que tu também conheces, é claro!
Se conheço, a.mar, se conheço... Engraçado como há tanta gente à procura de drogas poderosas que os elevem ao céu, mas que depois os atiram para o inferno (imagens meramente metafóricas, pois não acredito nem em um nem no outro), e não se apercebem que o nosso corpo produz naturalmente substâncias poderosas que essas mesmas drogas simulam, sem os efeitos secundários das mesmas.
Parabéns pelo seu novo trabalho.
O parto foi difícil mas ao primeiro olhar...tornou-se inspirador e cativante. Já tenho vontade de comprar o livro.
Seja bem vindo,
Sandra Couto
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