São Torpes, 28 de Agosto de 2010
O surf é tudo aquilo que está antes, durante e depois do surf.
São os preparativos. É o acordar cedo.
É o carregar da prancha pela escada abaixo, por não caber no elevador.
É a preparação de sandes de atum e afins.
É a viagem.
É o destino.
É a angústia de não haver ondas.
É a angústia de haver ondas grandes de mais.
São as brincadeiras com os miúdos.
São os pêlos das pernas arrancados ao vestir o fato.
É o wax peganhento devido ao calor.
É a primeira água que entra dentro do fato e que nos arrepia a pele.
São os amigos, os grandes amigos.
São as conversas sobre tudo e sobre nada, em cima das pranchas.
É o gesto de adeus que os meus filhos me fazem a partir da areia.
São as figuras tristes que fazemos.
É o escaldão na careca.
São as grandes ondas que fazemos sem saber como.
São os peixes que por vezes saltam a um metro de nós.
É o andar enrolado na onda sem saber onde fica o sol e o céu.
É o nariz a pingar como se um oceano inteiro coubesse lá dentro.
É a pele salgada (céus, como gosto de a manter assim, temperada, durante várias horas).
São os pêlos das pernas arrancados ao despir o fato.
É o sentimento de profunda harmonia com o mar, com o universo.
É o querer voltar.