sábado, 26 de dezembro de 2015

Que o próximo ano seja 12x melhor que o melhor ano das vossas vidas





Este ano vou plagiar. Aproveito o belo bolo feito pela empresa "Bolo Meu" (http://bolomeu.blogspot.pt) a partir do belíssimo livro da Natalina Coias e da Clara Cunha, "Feliz Natal Lobo Mau", para vos desejar a todos um maravilhoso Natal, e que o ano que vem seja 12x melhor do que o melhor ano das vossas vidas (se há coisa que não gosto de regatear é nos sonhos... se o fizermos, no fim a coisa insípida)..

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O vinho é poesia engarrafada


Já tinha experimentado em pequenos desenhos, aqui e ali, mas nunca antes tinha tido um desafio tão grande, utilizando como materiais de pintura o vinho e o café. A oportunidade surgiu por convite do Solar doVinho do Dão, no âmbito do 1º festival literário de Viseu - "Tinto no Branco" - um evento que teve como principal objectivo harmonizar o vinho e a literatura, coisa que na verdade nem me parece uma tarefa muito difícil. Facilmente estabeleço laços fortes entre estes dois universos.

Como não sou de virar costas a desafios, muito pelo contrário, há nestes momentos algo que me é irresistível, mesmo que isso implique sair da minha zona de conforto e ficar... desconfortável (daaah!), aceitei imediatamente. É minha firme convicção que primeiro deveremos aceitar o sonho, sem quaisquer restrições ou regateios, e só depois vem a preocupação com a forma como daremos substância a esse sonho. Se regateamos os sonhos logo no início, no fim pouco restará.

Passei por isso o último mês a fazer testes com diversos vinhos do Dão, procurando a melhor forma de conseguir pigmentos suficientemente intensos para criar uma ilustração. Comecei primeiro por fazer uma série de teste com o vinho tal como sai da garrafa, que apesar de ter uns tons bastantes interessantes, não era o suficiente para conseguir os claros escuros com que gosto tanto de trabalhar.
Fiz por isso uma série de pesquisas infindáveis na internet, onde descobri uma imensa e exclusiva tribo de artista que se dedica a pintar com esta nobre bebida. Descobri que se o vinho for reduzido em lume brando, com diversos tempos, resultará numa série de diferentes tons que se vão tornando mais opacos quanto mais tempo forem submetidos ao lume. No limite, uma grande quantidade de vinho pode resultar numa minúscula quantidade de uma massa espessa e caramelizada, com um tom vermelho escuro, e muito opaca (e peganhenta também). Confesso que no início ainda me preocupei com os diferente tons de cada marca de vinho (e são mesmo muitos tons). Mas no final, acabei por perceber que estaria a complicar o desafio, e misturei uma série de vinhos entretanto já preparados. Ao fim e ao cabo, apenas precisava de um meio tom (vinho reduzido em aproximadamente 20 minutos), um tom claro (vinho tirado directamente da garrafa) e um tom escuro (vinho reduzido em aproximadamente 60 minutos). Para os tons mesmo, mesmo escuros e claros, fiz "batota"... utilizei charcoal branco e preto. Para as áreas já pintadas e que por qualquer razão gostaria de as ver livres do pigmento, utilizei vinho branco como "borracha".

Uma vez que este evento teve uma forte presença infantil, desde o início preocupei-me com o facto de que estamos a falar da manipulação de uma bebida alcóolica... a última coisa que desejaria seria ter alguns pais irritados com o facto de os filhos molharem um pincel nos copos deles para pintar. Não obstante ter descoberto uma escola moldava que utiliza muito o vinho no ensino artístico infantil (podem ler aqui o artigo, e ver o vídeo... é mesmo muito interessante), decidi desde o início utilizar também um outro material belíssimo... café (ou melhor, cevada, chicória e centeio) solúvel em água. Ou seja, duas bebidas que adoro, juntas num só suporte.  E o mais giro de tudo... contra todos os meus receios, casaram tonalmente na perfeição.

A ilustração foi toda realizada sobre uma tela de 1,20 x 1,20 m, revestida a pano cru por mim (o papel de aguarela não se coadunava com os tempos de secagem e absorção rápida que eu pretendia), ao vivo e sem rede, o que é uma coisa que já fiz muitas vezes, mas que desta vez se revelou um pouco mais enervante e difícil. É que estava mesmo fora de pé, e infelizmente, o meu estado de espírito já viu melhores dias. A paz interior é fundamental para este tipo de coisas, e isso, é coisa que não tenho tido nos últimos meses.

Quanto ao resultado, sei que poderia ter ido muito mais longe, se tivesse mais tempo. Mas fiquei  totalmente apaixonado por esta abordagem, e tenciono voltar a ele dentro em breve, e quem sabe, levá-la até às escolas que visitarei.


I had experienced in small drawings here and there, but never before i had such a great challenge, using materials such as wine and coffee. The opportunity came with the invitation of Solar doVinho Dão under the 1st Viseu literary festival - "Red on White" - an event that had as main objective to harmonize wine and literature, something that in fact does not seem to me a very difficult task. I easily establish strong ties between these two universes.

I don't like to turn back the challenges, on the contrary, there is irresistible at these moments, even if it means getting out of my comfort zone and stay uncomfortable ... (daaah!) I accepted it immediately. It is my firm conviction that first we must accept the dream, without any restrictions or haggling, and then comes the concern with how we give substance to this dream.

I went through it last month to experiment with different wines from the Dao region, looking for the best way to achieve sufficiently intense pigments to create an illustration. I started by making a first test series with the wine as out of the bottle, which despite having a quite interesting tones, was not enough to get darks and whites that i like so much on my work.
I did so a series of endless internet searches, where I discovered a huge, exclusive artist tribe dedicated to paint with this noble beverage. I found that if the wine is reduced over low heat, with several times, it will result in a number of different shades that are becoming more opaque when is more reduced. In the limit, a large amount of wine can result in a tiny amount of a thick mass caramelized with a beautiful and opaque red tone (and also sticky). I confess that at first I still worry with the different shades of each brand of wine (and are even many tones). But in the end, I came to realize that i was complicating the challenge, and i decided to mix a variety of wines which i have already been prepared. After all, i only needed a half tone (reduced wine in approximately 20 minutes), a light tone (wine taken directly from the bottle) and a dark tone (reduced wine in approximately 60 minutes). For tones really, really dark and light, I "cheat" ... I used charcoal black and white. For areas already painted and that for whatever reason i would like to free from pigment, I used white wine as "rubber".

Since this event had a strong children's presence, from the beginning i worried with the fact that we are talking about manipulation of an alcoholic beverage ... the last thing I would want would be to have some parents angry about the fact that the children wetting a brush to paint in their cups. Nevertheless i have discovered a Moldovian school that uses wine in the children's art education (can read the article here, and watch the video ... it's really interesting), I decided from the beginning to use also another beautiful material ... Coffee (or better, barley, chicory and rye) soluble in water. Two drinks that I love, together in one stand. And the best of all... against all my fears, they married tonally perfectly.

The illustration was all done on a 1,20x1,20 m canvas covered with cotton cloth by me (the watercolor paper did not suit the drying times and rapid absorption than I intended), live and without a safety net, which is one thing I have ever done many times, but this time proved slightly more troublesome and difficult. Unfortunately, my state of mind has seen better days. Inner peace is essential for this kind of thing, and that is something I have not had in recent months.

As for the result, I know I could have gone much further, if I had more time. But I was totally in love with this approach, and I intend to return to it shortly, and perhaps take it up to schools i will visit in a future.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

7 Ilustrações para uma clínica dentária - Último capítulo








Esta é a sétima ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada num dos consultórios, esta ilustração chama-se "Sabes que tens o sorriso mais lindo do mundo?" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 50x70 cm, com 5 mm de espessura.
Entretanto, foi-me solicitada a concepção de uma nova ilustração para sinalizar de uma forma divertida as 3 salas de tratamentos, da qual não tive a oportunidade de filmar em timelapse.

This is the sixth illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in one of the treatment rooms, this illustration is called "Do you know that you have the most beautiful smile in the world?" and it was executed in mixed media on MDF 50x70 cm, 5 mm thick.
Meanwhile, they asked me to design a new illustration to signal in a fun way the 3 treatment rooms, which i haven't the opportunity to shoot in timelapse.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Vinho e café

No próximo dia 5, pelas 15:30, vou estar aqui, no Solar do Vinho do Dão, a pintar com dois materiais que adoro beber... Vinho e café (e talvez um pouco de carvão aqui e ali para acentuar pormenores, ou para poupar na tinta, se a vinhaça for boa... o que com toda a certeza será, não fosse esta uma terra de belos vinhos).

On June 5, at 15:30, I'll be at Solar do Dão Wine, painting with two materials that I love to drink ... wine and coffee (and maybe a little of charcoal here and there to accentuate details, or to save ink if the wine is good ... what surely will be...This is a land of beautiful wines).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Me by me



Sei que provavelmente nunca cumprirei o meu grande sonho de ser astronauta, mas vou-lhes contar um segredo: descobri vida extraterrestre no exacto momento em que nasci, há 45 anos, 4 meses e 21 dias. E não estou só a falar destas pequenas criaturas que aparecem na fotografia... Essas já por cá andam há milhares de anos a tentar fazer com que o Homem seja realmente uma espécie inteligente, evoluída  e acima de tudo, Humana (infelizmente sem sucesso, como podemos facilmente constatar). Estou a falar de mim mesmo, o cromo no centro da foto. A minha casa fica do outro lado da lua... aquela face que ninguém vê.

domingo, 29 de novembro de 2015

Mais uma ilustração para ajudar a Ajudaris




Esta ilustração é o meu humilde contributo para a ajudar a Associação Ajudaris, elaborada a partir de uma história criada por crianças do Jardim de infância da Moita do Boi, do Agrupamento de Escolas de Pombal. A história chama-se "O Coelhinho Joca", e fala-nos sobre uma linda amizade entre uma família de coelhos e um urso. E mais não posso dizer... se quiserem descobrir esta e outras histórias escritas por crianças e ilustradas por um monte de ilustradores que altruísticamente ofereceram o seu trabalho, basta comprarem aqui um dos 3 livros (ou todos os 3, inteiramente dedicados ao tema "Valores" que foram editados pela Ajudaris, este ano, com design e concepção gráfica da Pato Lógico). Cada exemplar custa 5 euros, que reverterão na íntegra para o grande objectivo desta associação sem fins lucrativos, sediada na freguesia do Bonfim, concelho do Porto:

actuar em áreas tão específicas como a do auxílio no combate à pobreza e às novas formas de exclusão social, que infelizmente, nos tristes dias que correm, são cada vez mais.

Numa sociedade verdadeiramente evoluída, ninguém deveria ficar para trás. E sabem de uma coisa? Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro. E para além disso, conhecerão vocês um presente que incorpore essa energia (infelizmente cada vez rara, e que ao contrário do que muita gente pensa, o sinónimo não é Cartão de Crédito) que se chama Espírito de Natal?

sábado, 28 de novembro de 2015

"Life is like a book son. And every book has an end."


"Life is like a book son. And every book has an end. No matter how much you like that book you will get to the last page and it will end. No book is complete without its end. And once you get there, only when you read the last words, will you see how good the book is."
"Only when you accept that one day you'll die can you let go and make the best out of your life. And that's the big secret. That's the miracle"

O que posso eu dizer sobre esta novela gráfica? Que há livros assim, que chegam no momento perfeito com o estado de espírito perfeito. Quando isto acontece, acredito que não fomos nós que escolhemos o livro, mas sim o livro que nos escolheu a nós. Não tenho uma religião, mas acredito que em cada instante da nossa vida, o universo nos confronta apenas com aquilo que de alguma forma conseguimos lidar. E este livro foi mesmo isso... não poderia ter vindo em melhor hora da minha vida. Uma experiência transcendental, dificilmente traduzível por palavras. Aliás, se o fosse, seria "meramente" mais um livro.

Se puderem, não deixem de o ler. Já faz parte de uma biblioteca muito especial que só existe no meu coração.


What can I say about this graphic novel? That there are few books like this, arriving in perfect time with the perfect frame of mind. When this happens, I believe that we didn't chose the book, but the book choose us. I have no religion, but I believe that in every moment of our life, the universe confronts us with just what we somehow, can manage. And this book is exactly like this... it couldn't have come at a better time in my life. A transcendental experience, hardly translatable into words. In fact, if it were, it would be "merely" another book.
This book is already part of a very exclusive library that exists only in my heart.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 6

O teu sorriso contagia-me from Paulo Galindro on Vimeo.




Esta é a sexta ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada num dos consultórios, esta ilustração chama-se "O teu sorriso contagia-me" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 50x70 cm, com 5 mm de espessura.


This is the sixth illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in one of the treatment rooms, this illustration is called "I love your smile is contagious to me !!!" and it was executed in mixed media on MDF 50x70 cm, 5 mm thick.



terça-feira, 24 de novembro de 2015

Luz e Escuridão



O pré-lançamento deste livro já tinha ocorrido no Fólio - Festival Internacional Literário de Óbidos, no passado dia 24 de Outubro. Exclusivamente nesse dia, foi vendido a todos aqueles que por lá apareceram.

O lançamento oficial do livro ocorreu este fim de semana, na lindíssima livraria Ler Devagar, na LX Factory. A apresentação ficou a cargo do inesquecível e carismático José Barata Moura, que dispensa qualquer apresentação.

Este livro é muito importante para mim. Todos os livros que até agora ilustrei o foram, mas este em particular, tocou-me de uma forma muito pessoal e visceral. E porquê?
  1. Porque desde a primeira letra da primeira linha do primeiro parágrafo que me identifiquei totalmente com o personagem principal, e com o seu mundo simultaneamente escuro e luminoso. Chama-se Óscar, e é um ser imperfeito (diz o David Machado que tem um fascínio por seres imperfeitos... descubram vocês mesmos nos belos livros dele), mas podia chamar-se PêGuê, que também é um ser imperfeito. Quem me conhece sabe que vivo com um pé em cada um destes mundos opostos que se complementam, que não vivem um sem o outro. Como tudo na vida, ter os pés nestas extremidades tem um lado bom e um lado mau. O bom, é porque é uma benção que nos torna fortes, criativos e por vezes em combustão expontânea como uma estrela, uma supernova. O mau, porque é uma maldição que nos torna frágeis, melancólicos e por vezes, tão escuros como um Buraco Negro de onde - dizem os astrofísicos - nem a luz escapa. Algures no meio andará a virtude  - o chamado "Caminho do Meio", pelos Budistas - que eu raramente conheci. Infelizmente, há muito que passei o meu prazo de garantia... já não posso ser devolvido à fábrica para ajustes.
  2. Porque nunca perdi o olhar infantil de uma criança que pela primeira vez olha para cima, para lá dos seus pais, e fica para sempre hipnotizada pelo oceano infindável de luzinhas intermitentes que nos cobre a cabeça desde o momento em que ainda éramos seres unicelulares a flutuar numa sopa caótica feita de vida, há uns meros milhões de anos. 
  3. Porque é sempre bom trabalhar com um escritor como o David Machado. Os nossos caminhos cruzaram-se uma vez mais - sem tubarões à mistura - e sei que vai voltar a acontecer, sabe-se lá como, e em que formato.
  4. Porque dediquei este livro à minha mãe, "(...) que se desmaterializou e se transformou numa linda estrela. Há luzes que jamais se apagam.". Desculpem-me Carl Sagan e Katsushika Hokusai, pela alteração de última hora, mas infelizmente, e pelas piores razões, tive de o fazer.


Este livro é todo para ti,
Mãe,
onde quer que estejas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Espirito do Vinho




Com tudo o que aconteceu nestes últimos tempos, são muitos os momentos em que me sinto lá em baixo, deprimido, triste e sem grande força anímica para criar algo que seja o oposto do inverno interior que me tem fustigado. Não é fácil sair desse estado de torpor... muitas vezes não o consigo. Mas quando o consigo, entro num estado de leveza tal que evito abrir janelas cá em casa, não vá ser arrastado pela pouca brisa deste novembro ensolarado que está a acontecer lá fora. Os pensamentos envoltos numa neblina pegadiça ficam lá para trás, e sinto um vazio bom dentro de mim. Silencioso. Apaziguador. Leve com um dente de leão ao vento.

Não sei como é que vocês lidam com estes momento menos bons da vida. Comigo, o segredo está no sujar das mãos. Quanto mais sujo as mãos, mais leve me sinto. O Paulo Etéreo ergue-se lentamente, muito lentamente, deixando para trás o Paulo Material, preso ao chão porque atualmente a sua matéria anda um pouco mais densa do que o desejável. Se eu fosse seguidor do espiritismo professado por Allan Kardec e Madame Blavatsky, este seria o momento em que diria que estes dois Paulos mantêm-se ligados entre si por um cordão "umbilical" prateado. Mas não... lamento desiludir os espíritas nesta matéria, mas aquilo que une o meu lado etéreo ao meu lado material é exactamente a sujidade que tenho nas mãos. A sujidade da cores das tintas. A sujidade dos carvões. A sujidade dos lápis de cera e dos pastéis. A sujidade que deixa rasto nos meus diários gráficos... trilhos feitos de impressões digitais que mais tarde me guiarão até aos sentimentos e às emoções que os produziram. Mesmo quando ilustro em ambiente digital, há um universo de esboços preparatórios nos meus cadernos que me deixam as mãos negras como a mais negra noite.

Curioso, agora que penso nisso... acabei de descobrir inadvertidamente que há um outro indicador nos meus esboços que me ajudam a traduzir a minha geografia emocional do momento: o grau de sujidade e de linhas sobrepostas, que se cruzam e se enleiam entre si até encontrarem aquilo que procuro. Ou seja... em bom português, quanto mais porcalhão, confuso e "peludo" (como diria o meu grande mestre, o arquiteto Miguel Mira, professor de desenho da faculdade que me ajudou a destruir todas as tretas que me foram transmitidas durante 12 anos de escola) é um esboço produzido por mim, mais denso e pesado me sinto no momento em que o fiz. Mais energia precisei para atingir a leveza que me salva das garras das tristeza. Tem lógica... os foguetões precisam de uma quantidade brutal de combustível para vencer a força da gravidade e o peso da atmosfera. De outro modo, não passam de foguetes nas festas de Agosto.

Portanto... resumindo, para mim tudo se resume a vencer o torpor e a inércia da tristeza, e sujar as mãos com um qualquer material que sirva para desenhar, pintar, garatujar ou borrar. Esse é o combustível que me ajudará a vencer a minha gravidade, e é dentro dessa lógica não newtoniana que ultimamente tenho andado a fazer experiências cromáticas com vinho, e por isso mesmo a sujar as mãos, digamos, de uma forma mais etílica. A boa e doce vinhaça portuguesa, que num acto de loucura, vai ser para mim um material de desenho e pintura durante um evento em que irei participar em Dezembro. Ando por isso em testes cromáticos com vários vinhos, para já de várias regiões, mais tarde de uma só. Testes com vinhos saídos da garrafa. Testes com vinhos reduzidos com e sem aditivos naturais por mim introduzidos. Tudo serve para descobrir as potencialidades cromáticas vinícolas (e não só), procurando deste modo conjurar o Espirito do Vinho, que espero me ajude neste desafio / loucura  em que aceitei participar.


E o mais giro disto tudo... não é todos os dias que podemos beber o material de pintura.





terça-feira, 10 de novembro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 5






Esta é a quinta ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada num dos consultórios, esta ilustração chama-se "Adoro quando me fazes rir" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 50x70 cm, com 5 mm de espessura.


This is the fifth illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in one of the treatment rooms, this illustration is called "I love when you make me laugh" and it was executed in mixed media on MDF 50x70 cm, 5 mm thick.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Instantes



Um novo livro, com aquele cheiro inebriante que só um recém-nascido feito de papel, tinta e amor consegue ter. Uma poderosa droga, com efeitos impossíveis de atingir por qualquer outra substância, lícita ou ilícita.

A new book with that exhilarating scent that only a newborn made of paper, ink and love can have. It's a powerful drug with effects impossible to achieve by any other substance, licit or illicit.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 4






A quarta ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada na futura sala de pediatria da clínica, esta ilustração chama-se "Quem tem boca vai a Roma, quem sorri vai a todo o lado" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 75,5x1,22 cm, com 5 mm de espessura.

This is the fourth illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in the future pediatric room, this illustration is called "Who as mouth goes to Rome, who smiles goes to everywhere?" and it was executed in mixed media on MDF 75,5x1,22 cm, 5 mm thick.

domingo, 18 de outubro de 2015

"9 anos, pouco juizo e muita arte"







O nosso Miguel fez 9 anos. Aproveitámos esta idade tão importante na vida de um homem para inaugurar cá por causa, a primeira exposição individual do rapaz, retrospectiva da sua longa e frutuosa vida e obra. Tirámos as ilustrações das paredes e enchemo-las com o universo pessoal do Miguel.

O lindíssimo bolo da vernissage ficou a cargo da dupla Margarida e Joana, da empresa Bolo Meu!, tendo como tema os desenhos animados preferidos do artista... o hipnótico, surreal, psicadélico "Hora de Aventuras"

Vida longa a todos nós e vós, para que possamos assistir às vitórias do Miguel!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 3

A Caçadora de Cáries from Paulo Galindro on Vimeo.





Esta é a terceira ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada no corredor de acesso aos consultórios, esta ilustração chama-se "A caçadora de cáries" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 122x218 cm, com 5 mm de espessura.



This is the third illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in the corridor leading to treatment rooms, this illustration is called "The cavities hunter" and it was executed in mixed media on MDF 122x218 cm, 5 mm thick.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 2

Esperas por mim? from Paulo Galindro on Vimeo.





Esta é a segunda ilustração, de um conjunto de 7, especialmente concebidas para dinamizarem os diversos espaços da novíssima clínica dentária MD Kids, localizada na Rua Castilho, em Lisboa.
Colocada na sala de espera da clínica, esta ilustração chama-se "Esperas por mim?" e foi executada em técnica mista sobre MDF de 200x100 cm, com 5 mesmo de espessura.
De todas as ilustrações que concebi para esta clínica, esta foi de longe a mais complexa e trabalhosa.

Qual a vossa opinião sobre este projecto?



This is the second illustration from a set of 7, especially designed to streamline the various spaces of the newest dental clinic MD Kids, located in Rua Castilho, Lisbon.
Placed in the clinic's waiting room, this illustration is called "Do you wait for me?" and it was executed in mixed media on MDF 200x100 cm, 5 mm thick.
This was by far the most complex and laborious of all illustrations conceived for this clinic.

What do you think of this project?

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

7 ilustrações para uma clínica dentária - Capítulo 1

MD Kids - Uma Boa Onda from Paulo Galindro on Vimeo.









Há uns meses atrás fui desafiado a conceber um conjunto de ilustrações, para dinamizarem os diferentes espaços da MD Kids... uma clínica dentária recentemente criada pela MD Clínica (na Rua Castilho, Lisboa) para um público infanto - Juvenil.
Executadas em técnica mista sobre painéis de MDF de várias dimensões (uma solução que permite a sua rápida remoção e reutilização sempre que necessário) e com uma espessura comum de 5 mm, a inspiração para estas ilustrações viria, como não poderia deixar de ser, da importância de adoptarmos bons hábitos de higiene dentária. Mas não só... com este trabalho procurei homenagear o Sorriso, essa maravilhosa invenção da genética humana que ajuda a criar e a fortalecer os laços invisíveis que a todos nos unem.

Para todas a ilustrações produzi vídeos em timelapse. Sei que este tipo de vídeo cria uma falsa ideia de facilidade e rapidez, o que não poderia estar mais longe da verdade. Algumas das ilustrações consumiram-me dezenas de horas que aqui aparecerão comprimidas em pouco mais de 5 minutos.
Mas em contrapartida, estes vídeos mostram, de uma forma fluida e lúdica, como tudo acontece no momento em que pinto (porque muitas mais coisas acontecem antes de pintar... mas essas tempestade cerebrais, infelizmente, não aparecem aqui). Fica a nota de Picasso, que sabia destas coisas:

"A inspiração existe, mas tem de nos encontrar a trabalhar".

Uma nota final. Este foi, com toda a certeza, um dos trabalhos mais difíceis de fazer. Não por qualquer questão de indole técnica mais complexa, mas sim porque o tive de fazer durante um gigantesco terramoto que fez e faz tremer as fundações da minha família. Não vou mentir... foram muitos os momentos em que tive de recorrer ao mais fundo do fundo da minha força de vontade, para reagir e andar para a frente com este projecto. Não foi fácil... nada fácil... por vezes até me pareceu uma impossibilidade. É por isso que posso afirmar que acima de tudo, este é um projecto que ficará para sempre tatuado na minha memória como uma homenagem à minha súbita capacidade de ser resiliente.

Nos próximos dias irei aqui mostrando cada uma das ilustrações, bem como o respectivo vídeo e a forma como ficou no espaço acima referido.

O que acham deste projecto?





A few months ago I was challenged to design a set of illustrations to decorate the different spaces of the MD Kids ... a dental clinic recently created by the MD Clinic (in Rua Castilho, Lisbon) specially for childrens.

Executed in mixed media on MDF panels of various dimensions (a solution that allows its quick removal and reuse) and with a common thickness of 5 mm, the inspiration for these illustrations come, as it should be, from the importance of adopting good habits of dental hygiene. But not only ... with this work I tried to honor the Smile, this wonderful invention of human genetics that helps create and strengthen the invisible ties that bind us all.

For all the illustrations I produced videos in timelapse. I know this type of video creates a false impression of ease and speed. Some of these illustrations consumed me dozens of hours that appear in these videos compressed in just over 5 minutes. But on the other hand, these videos show in a fluid and playful way, everything that happens when I paint (because a lot more things happen before painting ... but these brainstorms, unfortunately, do not appear here). As Picasso's, who knew these things, say:

"Inspiration exists, but it has to find us working."

One final note. This project was, for sure, one of the most difficult jobs to do. Not by any complex technical problem, but because I had to do it during a gigantic earthquake that shakes the foundations of my family. I will not lie ... there were many many times that i have do search the  deeper depths of my will, to react and move forward with this project. It was not an easy task... sometimes it even seemed an impossibility. That's why I can say that, above all, this is a project that will be forever tattooed in my memory as a tribute to my sudden ability to be resilient.

In the coming days I will show here each of this illustrations and their timelapse videos


What do you think about this project?


terça-feira, 22 de setembro de 2015

A cor ajuda na dor




Sempre acreditei que a Arte, a Criatividade, a Cor e o Amor podem salvar o mundo. Sei que para muitos, este discurso pode soar a uma pirosice sem igual, demodé e totalmente desadequado deste mundo cada vez mais esquizofrénico em que vivemos. E no fundo, talvez até tenham alguma razão. Vivemos alienados em tempos insanos e perigosos, onde as únicas cores que parecem imperar são os cinzas, o preto, o branco e o vermelho-sangue. Mas de facto... é exactamente na consciência da loucura em que estamos a cair que me fortaleço quanto aquilo em que acredito. Precisamos cada vez mais de Seres Maiores, gente maiúscula que contrarie esta terrível tendência humana para a entropia. E eu acredito veementemente que a sensibilização para os quatro vértices atrás referidos podem de facto ajudar a que isso seja uma realidade.

Recentemente, a tragédia abateu-se sobre a minha família. Sem estarmos minimamente preparados, fomos devastados pelo terramoto do falecimento da minha mãe. Estes últimos tempos têm sido por isso mesmo muito difíceis, numa busca incessante para encaixar esse acontecimento trágico na minha vida, e procurando colar cada pedaço do meu coração no seu lugar devido, sabendo de antemão que o resultado final nunca ficará 100% igual ao que era antes. Algumas peças deste puzzle cardíaco ficarão um pouco fora do sítio, e faltará sempre uma peça para o trabalho ficar completo. Mas a vida é mesmo assim... uma sequência infindável de quedas, de levantares, de destruições e reconstruções, das quais nunca saímos iguais ao que antes fomos.

É nestas alturas em que aquilo em que acreditamos visceralmente é posto à prova. E as minhas mais fortes convicções - as que atrás enumerei - não me deixaram ficar mal. Aliás... diria mesmo que têm sido aquilo que me mantém focado e equilibrado.

Desde Junho que tenho andado às voltas com um projecto de ilustração para a Clínica Dentária MD Clínica (localizada na Rua Castilho, em Lisboa) que recentemente abriu uma nova clínica - MD Kids - totalmente orientada para um público infanto - juvenil. Este projecto envolveu a concepção de um conjunto de 7 ilustrações de vários formatos, todas alusivas à saúde oral e aos cuidados que temos de ter para manter bonitos os nossos dentes. Este projecto estava em velocidade de cruzeiro até ser atingido por uma das piores fases da minha vida. Não foi uma tarefa nada fácil recomeçá-lo, com todas as minhas fibras a gritarem para nada fazer, nada pensar, nada viver. Na verdade... até cheguei a duvidar que alguma vez o conseguisse acabar. Mas assim que venci a inércia da dor, tudo se tornou mais fácil. É por isso que nos próximos dias, com um imenso sorriso de sol, mostrarei aqui todas as ilustrações e também os vídeos em timelapse que fui produzindo durante a sua execução.

Espero que gostem tanto daquilo que irão ver, quanto eu gostei de as fazer.



I have always believed that art, creativity, color and love can really save the world. I know that for many, this speech may sound kitsch and totally inadequate in this increasingly schizophrenic world in which we live. In fact, they might have some reason. We live in insane and dangerous times where the only colors that seem to prevail are the grays, black, white and blood-red. But in fact ... it's exactly on the consciousness of the madness  in which we are falling that i reinforce myself in what I believe. In fact, they might even have some reason. We live in insane insane and dangerous times where the only colors that seem to prevail are the grays, black, white and blood-red. But in fact ... it's exactly the madness of consciousness in which we are falling I brace myself as what I believe. We need more and more of Higher Beings contrary to this terrible human tendency toward entropy. And I strongly believe that the awareness of the four corners above can really help this to be a reality.

Recently, tragedy struck on my family. Without being minimally prepared, we were devastated by the earthquake death of my mother. These last days have been so difficult in a relentless quest to fit this tragic event in my life, and looking paste each piece of my heart in place, knowing beforehand that the end result will never be 100% equal to that It was before. Some pieces of this heart puzzle will be a little out of place, and always miss a piece for the work has been completed. But life is still ... an endless sequence of falls, get up, of destruction and reconstruction, of which we left never the same as they were before.

It is in these dark times when what we believe is tested. And my convictions - those enumerated ago - did not let me down. They keep me me focused and balanced.

Since June I have been dealing with illustration work for the Dental Clinic MD Clinic (located in Rua Castilho, Lisbon) which recently opened a new clinic - Kids MD - fully oriented towards a children's audience. This project involved the design of a set of seven illustrations of various shapes, all alluding to oral health and care we have to have to keep our teeth beautiful. This project was at cruising speed until I was hit by one of the worst phases of my life. It was not an easy task to resume it, with all my fibers shouting for doing nothing, thinking nothing, live nothing. Actually ... I even doubt that i will ever could end it. But as soon as I have overcome the inertia of pain, everything became easier. That is why in the coming days, i will show here all the pictures and also the videos in timelapse I was producing during its execution.

I hope you enjoy it as much I enjoyed doing it.



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A minha mãe tinha um nome enigmático.





Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva, 
arrastando 
os seus mantos na poeira das estrelas.



Animais sonâmbulos, 
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria 
é onde fazem o lume: 
ali têm casa. 
Em segredo, escondem 
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago 
negro do frio.

Longamente bebem 
o silencio 
nas próprias mãos.

O olhar 
desafia as aves: 
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam 
a escutar 
os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho 
para entrarem 
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos 
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel, 
o aroma do luar, 
o branco da rosa.

Quando o galo canta 
Desprendem-se 
para serem orvalho.



Eugénio de Andrade




A minha Mãe tinha um nome invulgar. Chamava-se Ortigia. Durante muitos anos questionei-me onde teriam ido buscar nome tão exótico. As teorias eram muitas... entre um eventual lapso de um funcionário do cartório entediado, até à possibilidade do nome ter sido sugerido por um qualquer familiar com maus fluidos, a verdade é que o nome da minha mãe sempre me fascinou. Quis o destino que eu apenas descobrisse uma das possíveis mas improváveis explicações para o seu nome, a poucos dias de ela nos deixar fisicamente. Na verdade, digo "possíveis mas improváveis explicações" porque duvido, muito sinceramente, que em pleno Alentejo de 1943, quando a maldita ditadura ceifava as vidas de milhões com a fome, a ignorância e a miséria - em nome de deus, pátria e a família - alguém tivesse a visão poética de dar um nome de uma bela ilha italiana a uma menina recém-nascida. Porque Ortigia é isso mesmo... o nome de uma pequena mas bela ilha italiana, o coração de Siracusa, na Sicilia (podem ler um pouco mais aqui).

Hoje a minha Mãe, que tem nome de uma bela ilha italiana, e também de perfume, deixou-nos. Desmaterializou-se. Abraçou o infinito. Cansou-se de sofrer na cama 18 da ala de pneumologia do Hospital do Barreiro, onde entrou há 40 dias atrás para nunca mais sair. A minha Mãe nunca foi uma pessoa forte. A força interior não era de facto um dos seus encantos. Mas lutou como ninguém contra um monstro silencioso, de origem desconhecida, que lhe secou os pulmões e lhe foi roubando o oxigénio do corpo, num processo assustadoramente fulminante e imparável, porque resistente a todos os medicamentos que lhe foram sendo administrados em doses que chegaram a ser máximas, a uma miligrama da eutanásia. A sua nobreza perante um cenário tão dantesco foi a sua redenção pessoal. Morreu como uma guerreira amazona que jamais mostra um ar de fraqueza perante o seu inimigo.
Mas não foi uma luta solitária. Durante a eternidade destes 40 dias, a minha Mãe, que tem nome de uma bela ilha italiana, foi acompanhada por um super-herói... o meu Pai. O meu Pai chama-se António, e é homem mais carinhoso, mais forte, mais corajoso, mais doce, mais presente do mundo. Deu-lhe tudo o que tinha e o que não tinha, e ainda lhe sobrou forças para ajudar os doentes das camas 19 e 20, que foram entrando e saindo enquanto a minha Mãe lutava pela sua vida. A sua dedicação à minha Mãe foi de uma abnegação e de um altruísmo como eu pensava já não existir no mundo. Com 73 anos, o meu Pai António deu-me duas lições práticas que jamais esquecerei:
Que a morte pode fazer origami com o nosso corpo mas jamais nos poderá roubar aquilo que nos torna humanos... a capacidade consciente de amar incondicionalmente alguém. Porque é uma escolha... e quando se segue esse caminho, somos de facto invencíveis imortais.
Que a humanidade ainda tem salvação, enquanto ainda existirem seres de luz como ele. 

Nos próximos tempos, eu e o meu extenuado pai - com a ajuda da minha família (Skye incluída) - vamos  reconstruir os nossos corações estilhaçados. Sei que é uma tarefa difícil, e que no meio de tantos cacos cardíacos, vamos com toda a certeza misturar os fragmentos sem saber de quem é o quê... mas isso só nos vai tornar mais fortes e unos. 

A certidão de óbito da minha Mãe diz-nos que morreu hoje, perto das 15 horas. Mas em bem de uma verdade mais profunda e invisível, a minha Mãe não morreu hoje. Tornou-se Maiúscula, Omnisciente e Omnipresente. Mas isso já ela era. Ela e todas as mães deste mundo. Portanto, pouco mudou... afinal "Morrer é apenas não se ser visto. Morrer é a curva da estrada", como tão bem disse Fernando Pessoa.

A ti Mãe... que agora ocupas todas as coisas e todos os lugares, incluindo uma pequena mas bela ilha italiana que tem o teu nome, e que nunca conheceste - obrigado por tudo.

Amo-te.

Até sempre.

Até já. 




quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ninja




Mais uma ilustração para a revista 360, da Federação Portuguesa de Futebol, desta vez para ilustrar o estranho desaparecimento das bandeirolas de canto nas vésperas do jogo Liverpool / AC Milan, em Instambul, no final de Maio de 2005.
Aproveitei o mistério e desenhei o meu primeiro ninja (se não sabem, deviam saber... ninjas e mordomos são sempre os culpados) que é sempre um momento importante na vida de qualquer ilustrador. Os psicólogos até têm uma designação técnica para este importante momento: "A fase em que um ilustrador desenha o primeiro ninja".


Another illustration for the Portuguese Football Federation, this time to illustrate the strange disappearance of the flags of the corners in the game eve Liverpool / AC Milan in Instambul at the end of May 2005.
I took the mystery and drew my first ninja (if you do not know, should know ... ninjas and stewards are always the guilty) which is always an important moment in the life of any illustrator. Psychologists even have a technical designation for this important moment: "The stage at which an illustrator draws his first ninja".

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Meu Chão / My Ground


Nasci há 45 anos nesta casa, onde os meus pais ainda moram. Foram incontáveis as horas que passei a brincar neste chão de cozinha. Nele vi paisagens singulares, estradas labirínticas e quarteirões de cidades. Nos buracos deste velho chão explorei crateras de planetas longínquos, e nas suas juntas vi carris por onde os meus comboios de berlindes deslizavam cuidadosamente para não descarrilar. Convivi com este chão dia e noite, durante 28 anos. Quase já nem dava por ele, até hoje, quando o olhei através da lente do meu telemóvel. Por um breve instante, vi-o pela primeira vez, como quando era criança... porque somos crianças enquanto temos a capacidade de ver, repetidamente, as coisas que nos rodeiam e que nos são familiares, pela primeira vez.

Quando quero descobrir os erros de uma ilustração ou um desenho no qual estou a trabalhar, observo-o através de um espelho. Nesse mundo invertido, o nosso cérebro viciado é enganado e tudo salta à vista com uma frescura e uma intensidade arrebatadoras.

Com o mundo que nos rodeia, talvez possamos fazer o mesmo... e quem sabe, por uns breves momentos, possamos ser crianças outra vez.

I was born 45 years ago in this house, where my parents still live. I spent countless hours playing on this kitchen floor. On it, I saw unique landscapes, mazy roads and blocks of cities. In the holes of this old ground I explored the craters of distant planets, and train made of marbles slid carefully on the rails of his joints for not derail. I lived with this ground day and night, for 28 years. I never looked it with real attention until this day, when I observed it through my cell phone lens. For a brief moment, I saw it for the first time, such as when i was a child ... because we are children while we have the ability to see, repeatedly, things that surround us and which we are familiar, for the first time.

When I want to discover the errors of an illustration or a drawing in which I am working, I observe it through a mirror. In this inverted world, our addicted brain is tricked and everything stands out with a freshness and sweeping intensity.

With the world around us, maybe we can do the same ... and maybe for a few brief moments, we may be children again.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Puro Prazer / Pure Pleasure









Há de facto muito poucos momentos que me dêem mais prazer e felicidade do que ver os meus filhos a brincarem com a Skye.

There are very few moments that give me more pleasure and happiness than to see my little kids playing with Skye.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Um novo livro / A new book



Algumas das muitas razões que me têm levado a estar um pouco longe deste meu blogue têm sido alguns projectos sobre os quais poderia até falar, mas depois teria de vos matar. Mas posso sempre levantar um pouco da ponta do véu de um deles... trata-se de um livro, cujo título é                           e foi escrito por                                    . E o que posso dizer sobre este novo livro? Bom... muita coisa... a história fala sobre uma                                   que                         , e de um menino que                    tudo faz para                                 no                     ..

É uma história lindissima, que me inspirou de uma forma mágica e intensa, e com a qual estabeleci um relação de profunda identificação,  da qual ainda recuperei totalmente. Dizem que sai lá para Setembro / Outubro, mas sobre isso falarei daqui a uns tempos.

Ah! Já me esquecia... este livro tem uma particularidade... é                                         .

Mal posso esperar para pôr os 6 sentidos em cima deste novo livro.


Here comes a new book illustrated by me. It's title his                   and it was written by                                            And what can I say about this new book? Well ... a lot ... the story talks about                       that              , and a boy who does everything to                                         on                                .

It's a very beautiful story that inspired me in a magical and intensely way, and with which I established a relationship of deep identification. They say that comes out on September / October, but I will speak about it in the near future.

Ah! Almost forgot ... this book has a very special feature... is  
                                        .

I can't wait to put my six senses upon this new book.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Futebol a quanto obrigas





Ultimamente tenho andado um pouco arredado deste blogue. Não porque esteja a desistir dele, mas porque são tantas as coisas que tenho andado a fazer, que confesso, são muitas vezes que me sinto estilhaçado e desfocado. Talvez sejam as vicissitudes de ser um gajo... segundo consta, nós os homens somos muito pouco eficazes no que se refere à multitarefa. Por vocês que estão aí desse lado (se é que ainda estão, ao fim de tanto tempo sem eu dar notícias), digníssimos representantes do nosso género, não poderei obviamente falar... mas no que se refere aqui à minha pessoa, posso desde já confirmar... sou mesmo um tótó quando tenho mais do que uma coisa para fazer. Pronto... está dito.

Ora vamos lá ver se encontro o fio à meada... Nos últimos tempos duas novas ilustrações para a Federação Portuguesa de Futebol (podem ver aqui o início desta colaboração), ambas para a rubrica "O golo da minha vida", onde jogadores de renome descrevem aquele que foi o seu GRANDE golo.
Nos casos em questão, foi o famoso golo de Ricardo no Euro 2004, frente à Inglaterra (vídeo aqui), e o golo de Pauleta ao serviço do Paris Saint-Germain, frente ao Marselha, em 2004 (vídeo aqui).

Não são trabalhos fáceis... obrigam-me a um período de exaustiva preparação, onde vejo vezes sem conta os respetivos vídeos, transformando-os numa série de frames estáticas que contam a história dos principais passos de cada golo.

E eu que não gosto de futebol.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Um novo livro ilustrado pela Natalina





















Chama-se "O País da Roupa". A história é da autoria de Maria de Lourdes Soares e foi editado pela Editora Paulinas.

E o que posso dizer sobre este livro?

Bom... posso dizer que as ilustrações foram totalmente, e quando digo totalmente... é mesmo



TOTALMENTE 


executadas com a técnica de corte e costura. É isso mesmo... uma salada russa portuguesa feita com linhas, pespontos, alinhavos, agulha, dedal, máquina Singer, ponto cruz, panos, botões, fechos, colchetes e alfinetes. De facto, depois deste livro a Natalina já não é ilustradora... é alfaiate.

O resultado ficou um espectáculo de se ver e de se tocar.




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