terça-feira, 20 de novembro de 2012

Carta aberta aos avós

"Carta aberta aos meus avós"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre MDF 29,7x21cm
Agosto 2012



Queridos avós,
Gostamos muito de vocês, por isso escrevemos esta carta como forma de nunca esquecermos os momentos maravilhosos que temos passado juntos. Cuidam de nós com muito carinho, desde que nascemos. Sabemos que estamos sempre dentro do vosso coração. Transmitem-nos segurança, conhecimentos e enchem-nos de mimo e de ternura. Com a vossa compreensão e tolerância, estão sempre prontos a perdoar qualquer traquinice.
Quando vamos para vossa casa, sentimos carinho no ar e isso deixa-nos felizes, pois adoramos todos os momentos que passamos juntos. Desde os cozinhados, os passeios, os piqueniques, as histórias e um sem fim de outras aventuras e partilhas... Lembramos com emoção, quando nos ensinaram a andar de bicicleta ou quando partilhamos grandes momentos na cozinha. As anedotas que contam, fazem-nos rir às gargalhadas e animam-nos quando estamos tristes. A paciência que demonstram ao transportar netos e merendas das avozinhas, faz-nos sentir que crescer convosco é descobrir em cada momento capacidades que desconhecíamos desde a paciência, a ajuda ao próximo, o espírito de sacrifício…
Lembramo-nos com emoção e agradecemos alguns dos momentos que partilhamos: andar às cavalitas do avô na piscina, plantar margaridas e girassóis para oferecer nos anos da mãe, os passeios de barco para ver os patos e os peixinhos, as anedotas que contamos, os jogos que nos ensinam, os docinhos que confecionamos e as douradas e os robalos que nos assam na brasa. Confessamos, avós, que até gostamos mais de bifes, mas os peixes representam um maior sacrifício, pois levantam-se bem cedo e é com a vossa cana que os tiram do mar!
São vocês que, na ausência dos nossos pais, nos vão buscar ao colégio, nos acompanham nos trabalhos escolares e nos explicam tudo o que for preciso. De vez em quando, lá temos as nossas zangas, mas acabamos sempre por resolvê-las.
Como é bom ter a família toda reunida na vossa casa!
Ah!!! Quase nos esquecíamos de vos agradecer por terem os filhos mais maravilhosos do mundo, isto é, obrigado por nos darem os melhores papás do universo!
Mil beijinhos doces para os nossos amigos especiais,

Os netos

Colégio Nossa Senhora do Rosário
Porto



Esta é mais uma ilustração oferecida à Associação Ajudaris, a qual integrou o livro "Pequeno Gestos grandes Corações - Histórias da Ajudaris 2012" - lançado no passado dia 18 de Novembro no Hotel Sherato, apadrinhado pelo Nuno Markl e Ana Galvão - este ano integralmente dedicado a esses maravilhosos seres que são os nossos avós. Esta foi uma oportunidade para também eu dedicar um poema gráfico de amor aos meus avós, que infelizmente já não estão entre nós.  
Nesta 4ª edição (podem ver as minhas outras contribuções aqui) foi endereçado uma vez mais o convite a uma série de ilustradores para se inspirarem em textos especialmente escritos para o efeito por várias escolas, aliando deste o estímulo da paixão pela leitura e escrita, a sensibilização para as artes visuais, o cultivo da criatividade e da solidariedade em prol de um mundo melhor.

Sempre acreditei, e ainda acredito, que a arte e a sensibilização para a beleza gera seres humanos mais tolerantes, sensíveis, responsáveis e empáticos. É nesse sentido que acredito com cada fibra do meu corpo que Arte e a Criatividade podem salvar o mundo. E esta iniciativa da Ajudaris materializa o espírito desta ideia.

A Ajudaris é uma associação sem fins lucrativos sediada na freguesia de S. Ildefonso, concelho do Porto, e que  actua em áreas tão específicas como a do auxílio no combate à pobreza e às novas formas de exclusão social, que infelizmente, nos loucos dias que correm, são muitas. Todas as receitas provenientes da venda deste livro revertem para este objectivo tão nobre. Custa apenas 5 euros, e pode ser encomendado através do tlf 222 013 159 ou 936 847 206 ou através do mail comunicacao@ajudaris.org. Sei que será também distribuído no circuito comercial mas ainda não tenho pormenores. Podem acompanhar todo o processo aqui no Facebook.

Como todos já decerto repararam - impossível seria o contrário - todos os dias somos bombardeados pelos media com a imagem de algumas (infelizmente não poucas) criaturas menores, mesquinhas, devotas fervorosas da tecnocracia e dos modelos matemáticos destituídos de alma e de calor - para o quais eu e vocês não passamos de uma pequena e muito escondida célula de uma folha de cálculo - que não se têm poupado a esforços para minar definitivamente a nossa esperança e capacidade de sonhar, que são os motores da vida. Mas isso não irá acontecer. Não se não os deixarmos.
Não acontecerá.

No final, prevalecerá a Humanidade.


Fiat lux!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Nós, na Lx Factory



Hoje ao fim do dia, vamos estar na 9ª edição do Openday da Lx Factory, a convite da Verse Store. Apareçam... vai ser fixe. Podem ler o programa aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um gato e um extraterrestre na televisão



O gato Gatuno e o ET mais estranho do universo deram um salto até ao programa Ler+ Ler Melhor. Este é o vídeo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Aqui, e o Agora

"Uma viagem no branco"
por Paulo Galindro
Uma interpretação do poema de João Paulo Cotrim
Tinta da China e guache sobre cartão
Novembro de 2004

There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams yet slips away
from us
Who wants to live forever
Who wants to live forever....?
There's no chance for us
It's all decided for us
This world has only one sweet moment set aside for us
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Who dares to love forever?
When love must die
But touch my tears with your lips
Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Forever is our today
Who waits forever anyway?

Queen, "Who  wants to live forever?"



Ontem morreu-me um familiar. Não foi um familiar directo, é certo, mas por afinidade, por via da Natalina. Hoje, durante a cerimónia de despedida, dei por mim a pensar como nunca no que será o sentido da vida e da morte. Ao longo da minha existência já perdi algumas pessoas para a Senhora de Negro, algumas da quais novas de mais, cedo de mais, e bem mais próximas do que a pessoa em referência, que ainda assim era alguém com quem privei muitas vezes, e por quem tinha uma grande estima. Em todas elas a dor foi enorme, mas nunca como hoje senti tão perto e de forma tão intensa a Força e a Fragilidade da Vida. O mergulho para dentro de mim mesmo foi tão intenso que naquele momento senti um vontade urgente de ter tintas ou letras que me iluminassem o caminho de volta. Não tinha. Tive por isso de me manter lá no fundo, até agora que estou em frente ao computador.

O que é a Vida? Qual o seu sentido? E a Morte? O que significa? Qual o propósito de algo tão volátil, tão delicado e simultaneamente tão poderoso? Para o Homem, a morte tem sido desde sempre o derradeiro mistério. A última travessia para a Eternidade. Para a Terra do Nunca. Ou para Lugar Nenhum. Para mim, que não visto a camisola das religiões - e que sem fazer juizos de valor considero ser condição determinante para manter um certo discernimento - a Morte é acima de tudo um salto quântico. Uma transmutação alquímica. Ou, por analogia a fenómenso que vemos no nosso dia-a-dia, uma simples mudança de estado.

Gelo. Água. Vapor. Água.
Gotas. Lagos. Rios. Oceanos.
Acima de tudo, água... simplesmente água.

Seja como for, sinto que à escala das nossas vidas, a aparente separação entre estes estados - a Vida e a Morte -  tem um propósito... o de vivermos o Aqui e o Agora.
Assim sendo, resta-nos dar uma atenção redobrada ao estado em que nos encontramos neste momento. Vivos.
Resta-nos a força dos laços que criamos com todos aqueles que nos rodeiam. Restam-nos a eternidade dos sonhos e das ideias. Resta-nos poder criador das emoções. Resta-nos a capacidade de tocar positivamente a vida dos outros. Resta-nos o Amor e a Criatividade. Resta-nos a matemática não euclidiana onde 1+1=1, aquela que nos permite enlaçar duas jóias de forma helicoidal e criar Vida, num processo que se renova a si mesmo. Resta-nos o poder desse instante chamado Presente - um camada tão fina de tempo que quando o acabamos de soletrar já é passado - aproveitando ao máximo cada minuto como se fosse o último.
Sinto que é isso que fica de nós quando o corpo adoece e se desmaterializa. É aí que reside a semente da eternidade. O resto? Bem... o resto são meros adereços, acessórios que a maior parte das vezes nos desfocam os sentidos.

Tudo o que desejo é ter a clarividência de transformar este mantra em actos concretos e diários. Em gestos e em palavras que façam sentido como um todo superior à soma das suas partes. E isso, ironicamente, é o mais dificil.


E que vem a seguir? Bem, o que vem a seguir todos nós, um dia, descobriremos. É a única coisa verdadeiramente justa e democrática que conheceremos nesta vida.


Carpe Diem





sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Luz que me tatua os olhos

"À porta do céu"
por Paulo Galindro
Lisboa, 9 de Novembro de 2012 às 17:03 h

"Heaven, heaven is a place, a place where nothing, nothing ever happens"

Talking Heads

Nós, na Verse Store



Já estão disponíveis na loja Verse Store reproduções de alta qualidade das minhas ilustrações e da Natalina. Por enquanto só verão cerca de 10 delas, mas daqui a uns dias estarão disponíveis muitas mais.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Luz que me tatua os olhos


"O Fogo caminha comigo"
por Paulo Galindro
Rio Tejo, 5 de Novembro de 2012 ás 17:44


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sábado, 3 de novembro de 2012

Anjo da guarda




"ClaraFila"
Por Paulo Galindro
Acrílico sobre pedaço de madeira flutuante
Novembro de 2012


Anjo da Guarda,
minha doce companhia,
guarda a minha alma
de noite e de dia



aqui falei muitas vezes da Skye. Não me alongarei mais sobre o furacão que há 2 anos atrás nos entrou pela casa adentro, e nos revirou tudo do avesso. Metaforicamente, emocionalmente e fisicamente.

Quero apenas falar-vos um pouco do que é correr com esta menina.
Com a Skye, já corri aproximadamente 1100 km. Sempre no paredão de Oeiras. É muito tempo passado a correr com uma criatura que não é da minha espécie. Durante este tempo de esforço partilhado, são muito os laços que se foram criando, ao ponto de quase já nem precisar de lhe dar ordens. Sei exactamente os sítios onde ela irá os xixis, os cócós (devidamente apanhados e deitados no lixo, ao contrário do que fazem muitos humanos que por ali se arrastam). Sei quais os cantos que ela irá cheirar, os pontos em que ela irá ficar para trás até a deixar de ver e aqueles que ela irá correr que nem uma desalmada, muito à frente de mim (sabe-se lá porquê... talvez sejam variações no campo magnético da terra ou as emanações de algum antigo cemitério índio que por ali existiu).
Ela tem sido a minha única companhia. Estou tão habituado à sua silenciosa omnipresença que receio até que se algum dia participar numa qualquer corrida não farei nem 1000 metros se ela não estiver lá comigo.
98% dos quilómetros que corremos foram feitos à noite, algumas dessas vezes já perto da meia-noite. Como devem calcular, a essa hora não há muitos malucos como eu a correr. A Skye é, nesses momentos de solidão, um verdadeiro anjo-da-guarda. Não daqueles anjos-da-guarda assexuados e irreais das igrejas barrocas, mas sim um verdadeiro anjo-da-guarda, de carne e osso, daqueles que todos nós temos na nossa vida mas nem sempre nos apercebemos. Não voa, é certo. Também não toca harpa nem dispara setas (o único gadget que tem é uma luzinha daquelas que os espeleólogos usam na cabeça e que se vê a centenas de metros) mas a sensação de segurança que me transmite a sua presença é imensa, mesmo nas noites de grande tempestade, que são aquelas em que mais gosto de correr. Vá-se lá saber porquê, mas correr com vento, chuva a potes, ondas enormes a espalhar espuma e sal pelo paredão dá-me uma paz de espírito e um silêncio interior que não consigo atingir quando tento meditar no conforto o sofá.

A Skye tem uma fixação por paus, canas, garrafas de plástico. Enfim, qualquer coisa que ela possa morder enquanto corre. Pode estar completamente exausta, mas se porventura vislumbrar um bocado de madeira algures ela irá buscá-lo onde quer que esteja e vai andar com ele na boca até se fartar. Vai brincar com ele, atirá-lo ao ar e apanhá-lo em pleno voo, mordê-lo até não restar mais do que umas lascas. Pode ser um pedaço de madeira pequeno com algumas gramas, ou ter quase dois metros e pesar 2 quilos, o que provoca grande confusão e gargalhadas em quem porventura se cruzar connosco.
Pode até ser uma folha de palmeira, que como uma vassoura gigante, varre tudo o que encontra pela frente (pessoas inclusive).


Recentemente, a Skye encontrou o pedaço de madeira que apresento acima. Transportou-o na boca durante praticamente toda a nossa corrida, que são cerca de 10 km. Quando cheguei ao carro e ela me atirou para os pés, reparei que este pedaço de madeira velho, meio podre - com 62 cm e quase um quilo - e que talvez tenha flutuado milhares de quilómetros pelos oceanos, quem sabe desprendido de um qualquer galeão afundado há séculos, apresentava um desenho de veios lindíssimo, que nesse preciso momento me inscreveu nos olhos a imagem de uma deusa, a quem eu decidi chamar ClaraFila, uma das 12 deusas da floresta. E isto decidi eu também. Trouxe-a por isso para casa, e decidi pôr a descoberto o que os meus olhos já tinham visto.

E não! Antes que me perguntem, não fumei nem bebi nada.

A luz que me tatua os olhos


"Beach Sequence"
por Paulo Galindro
Carcavelos, 2 de Novembro de 2012



"Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade."

Sophia de Mello Breyner Andresen








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