sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cócó

Há alguns dias, dediquei aqui um post a uma vitória recente do meu filhote Miguel, no que às necessidades físicas de carácter liquido diz respeito. Pois bem, já que o querubim está em maré de pequenas grandes vitórias, é com um imenso prazer que informo que nesse glorioso dia que foi o 29 de Maio de 2009 D.C., Sua Majestade, Príncipe e Cavaleiro Miguel II "O Maroto" fez o seu primeiro Cócó no bacio real (vulgo penico), marcando oficialmente a sua demanda na busca pela independência desse objecto inestético, poluente e muito infantil chamado Fralda.

Cuecas ao poder!

A ilustração acima apresentada é de um livro fabuloso chamado "A arte do penico" e é da autoria do ilustrador Jean Claverie. Foi editado em Portugal pela editora Terramar. Recomendado a todos aqueles que se interessam pelas considerações filosóficas de uma criança em torno deste objecto de culto.

Por Paulo Galindro

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sonho 3: Música

"Guitarra" por pablo Picasso em 1913


Eu amo música. Não interessa o género, o ritmo, o estilo ou qualquer outra gaveta onde se possa categorizá-la. Qualquer conjunto de notas musicais que faça ressoar as cordas da minha alma como se de um diapasão se tratasse, terá a minha devoção total, sem reservas. Isto não significa, como é óbvio, que as cordas que tenho dentro de mim vibrem com qualquer coisa que por instantes rapte os meus ouvidos. Na verdade, exijo da música muito mais do que esse pequeno delito. Exijo que me rapte todos os sentidos, os cinco e todos os outros que não se vêem. Exijo que me tome por inteiro e que me transporte para outros lugares, outros tempos, outras culturas. Exijo que me eleve e enleve. E quando isso acontece, "It´s a kind of magic".
Por tudo isto, decidi finalmente ser algo mais do quer mero agente passivo. Quero ser música... experimentá-la pessoalmente, sentir no peito notas produzidas por mim, por isso vou mergulhar no meu sonho de infância de aprender a tocar guitarra, e também alguma teoria musical. Não é uma cítara, violoncelo, contrabaixo ou saxofone, os meus instrumentos de eleição, mas tem um som lindo e aconchegante, é transportável e relativamente fácil de aprender.

A primeira aula já está marcada.
Paulo Galindro

sexta-feira, 22 de maio de 2009

XIXI


Perdoem-me o título meio estranho deste post, mas já que falamos das vitórias dessas pequenas e lindas criaturas que saíram de dentro de nós, e que infelizmente não trazem manual de instruções (suspeito mesmo que muitos dos manuais que estão à venda foram escritos por quem nunca os teve!) , gostaria de deixar aqui registado que o nosso Miguel (2 anos e 7 meses) já fez o seu primeiro xixi na sanita. As pinguinhas foram poucas e a muito custo, mas o orgulho irradiado pela sua cara foi imenso.

A ilustração acima é da autoria de um ilustrador e autor de BD Galego chamado Kiko da Silva, de que gosto muito. Um dos livros ilustrado por ele - e que tem o sugestivo e oportuno título "Cando Martiño Tivo Ganas De Mexar Na Noite De Reis", editado pela editora Kalandraka - foi um dos livros preferidos do João quando era mais pequeno. Devo ter lido umas 50.000 vezes.

Paulo Galindro

terça-feira, 19 de maio de 2009

Caçador de talentos

Hoje descobrimos talentos novos cá em casa...


Em pontas, o Miguel revela orgulhosamente talento para o Bailado Moderno, numa coreografia que poderia ser assinada por Olga Roriz, e intitulada "Blues contemplativo para talher de plástico azul dissonante perdido em gaveta aberta cheia de talheres de metal e palhinhas para beber o leite".



Armado com lápis de cera, o João apresenta uma proposta interessante de apropriação das paredes da casa de banho, numa reinterpretação pós-moderna e abstracta da sua mãe e de um dragão (Freud iria adorar!), com fortes influências de um trompe l'oeil neo-barroco com pozinhos de cubismo.

Nada mau para um dia só!


Paulo Galindro

segunda-feira, 18 de maio de 2009

2º Encontro Nacional de Ilustração no Masculino




Como se não chegassem as 800 milhas (cerca de 1287 quilómetros) percorridos neste últimos dias em terras de William Wallace, Robert de Bruce e da banda Snow Patrol (e em contramão, já que lá se conduz à esquerda), assim que pisei terras lusitanas tive logo de me fazer à estrada para participar no 2º Encontro Nacional de Ilustração no Masculino, em São João da Madeira (aproximadamente a 300 quilómetros de Lisboa). Mas a viagem valeu bem o esforço, já que foram 3 dias fabulosos onde tive a honra de conhecer muitos ilustres ilustradores cujo trabalho sempre admirei. Durante este período aconteceram inúmeras palestras, foram realizadas pelos ilustradores várias oficinas/workshops em escolas e para o público em geral, e foram lançados diversos livros. Dos laços que se criaram entre os ilustradores, surgiram imensas tertúlias onde se trocaram experiências, saberes e técnicas. Não podia ter sido melhor.

Tivemos a oportunidade de visitar algumas das várias fábricas de renome que povoam a região, das quais destaco a nossa querida Viarco, (uma viagem inesquecível no tempo); a Cartonagem Trindade, (uma verdadeira surpresa... uma empresa ultramoderna e dinâmica, extremamente conhecida internacionalmente, à qual muitas das marcas topo-de-gama que conhecemos recorrem para a execução das embalagens que emolduram os seus produtos) e a Fepsa (uma fábrica de feltros para a indústria de chapelaria, de onde saem os chapéus, - entre outros - para a Royal Canadian Mounted Police, para a comunidade Amish e para grande parte dos chapéus que povoam as cabeças texanas).

Um grande agradecimento a todos quantos se dedicaram de corpo e alma à realização deste evento, ao Sr. Carlos Manuel da Silva Coelho, Presidente da Junta de Freguesia, e à Sylviane Rigolet, Comissária do evento. Uma palavra de apreço para a Ana Lúcia, que foi incansável na coordenação de uma míriade de detalhes que um evento desta envergadura envolve.

Quero ainda agradecer a todos aqueles que me solicitaram a realização de um Workshop. De facto, o receio de não conseguir ter tempo para me preparar levou-me e recusar o convite para realizar workshops e palestras - uma decisão de, confesso, que me arrependi bastante. Foi pois com grande surpresa e comoção que assisti a um movimento espontâneo de um grupo de pessoas que manifestou o seu interesse em participar num workshop realizado por mim. E foi espontaneamente que acabaria por fazê-lo... em 3 horas tivemos a oportunidade de abordar um manancial de assuntos de interesse para todos os participantes (a maioria eram professores), e pude ainda realizar uma ilustração onde expliquei muitas das minhas técnicas. Um muito obrigado por este momento. Espero que tenham gostado.

Paulo Galindro

domingo, 17 de maio de 2009

Já cá estamos!

Vista aérea de Edimburgo em 1920. National Galleries of Scotland


Pois é! Chegámos às 22.30 de quarta-feira, dia 13. Como se costuma dizer, tudo o que é bom ou faz mal, ou é pecado, ou acaba depressa. Neste período tivemos o privilégio de nos embrenharmos num país de cortar a respiração. Agora, à distância de alguns dias desta experiência única, quando penso naquilo que desfilou diante dos nossos olhos, a palavra que me rapidamente me ocorre é ETERNIDADE. A Escócia parece viver eternamente suspensa entre dois mundos: De um lado, o mundo arrojado da modernidade, do dinamismo e da sofisticação do 3º milénio. Do outro, um mundo antigo, panteísta, ligado à terra e a deuses antigos, onde a qualquer momento as montanhas podem ganhar vida própria e os lagos são espelhos mágicos, portas de entrada para mundos repletos de fadas, duendes, druidas, damas de lagos, lutas entre clãs, espadas pesadíssimas e histórias de amor suspensas no tempo. Acreditem, sentir esta dualidade na pele foi uma experiência verdadeiramente arrebatadora.
Mais não direi porque nos próximos dias - assim que os trabalhos que tenho em mãos o permitirem - conto poder colocar aqui um pequeno diário da viagem com fotografias.
Paulo Galindro

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sonho 2


Halò, Ciamar a tha thu/sibh? Madainn mhath (1)

Não, não me tornei disléxico, nem consumi qualquer substância proibida! Também não estou avariado pela falta de horas de sono. Estou apenas a treinar uma língua - muito fácil por sinal - que vamos ouvir nos próximos 6 dias. Vou dar algumas pistas:
  • O dialecto chama-se gaélico e é falado numa ilha algures no meio do atlântico;
  • As saias aos quadrados são uma indumentária muito apreciada pelos homens, que também adoram tocar gaita (esta agora!?!?!?) de foles (ah!).
  • Um dos pratos mais típicos chama-se Haggis, e é uma mistela hipercalórica feita à base de pulmões, coração e fígado de borrego picados e misturados com aveia;
  • É a terra de uma bebida alcoólica muito apreciada em todo o mundo, e que traduzida para a nossa língua chama-se Água da Vida;
  • É o lar de um dos monstros mais mediático do mundo;
  • O número de castelos assombrados por metro quadrado é, neste país, verdadeiramente assombroso.
Já descobriram? Pois é isso mesmo... a Escócia!

Nos próximos 6 dias vamos cumprir um sonho de longa data. Vamos passar 8 horas 4 aviões, 2 dias a percorrer a linda cidade de Edimburgo, e nos restantes dias vamos alugar um carro e mergulhar nas Highlands (volante à direita, condução à esquerda, rotundas ao contrário, milhas em vez de quilómetros... vai ser giro vai!).

Como é óbvio, durante este período, não haverá posts, e se porventura os houver, serão em gaélico.

Pòg! Tìoraidh an-dràsta! (2)

Nota do Autor:
(1) Olá! Bom dia!
(2) Beijos! Adeus!


Paulo Galindro

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Um Blues para mim


"Sonha como se vivesses para sempre; vive como se fosses morrer hoje."

James Dean

Isto de ter duas profissões, mesmo - que goste muito de uma delas e ame outra - tem muito que se lhe diga. Estes dois mundos colidem constantemente de forma titânica, e estes por sua vez colidem com a família, num emaranhado caótico em que na maior parte das vezes me perco. Neste capítulo, confesso que invejo as mulheres, que conseguem sempre fazer uma montanha de coisas simultaneamente, e ser ainda mães presentes, de alma e coração. Eu, por mim, assumo a minha incompetência em métodos organizacionais. Tenho um monte de trabalhos em mãos - o que é obviamente muito bom. O mais complicado e prioritário de todos é um livro de iniciação ao violino em que ando a mergulhar desde há 15 meses para cá, cujo carácter extremamente técnico já me deu mais "água pela barba" do que qualquer outro trabalho que já tive em mãos. A cereja no topo do bolo é quando a menina-dos-olhos de Bill Gates decide fazer das suas (não!!! A sério?), e dar-me cabo do trabalho de semanas. E com este trabalho, isso já aconteceu algumas vezes (acho que ainda me vou mudar para maçã ratada!).


Se eu fosse um personagem de um videojogo, com toda a certeza os gráficos que mediriam a minha energia disponível estariam em baixo, no vermelho. Estou completamente exausto! Ando a dormir 3 a 4 horas por dia, o que nem é bom nem se recomenda. Esta rotina faz-me sentir num constante torpor que nem a cafeína ajuda a espantar. Sou capaz de jurar que hoje de manhã, quando entrei na casa-de-banho, estava lá a Catherine Hepburn a pentear-se. No entanto, durante o meu primeiro café da manhã, questionei o Elvis Presley sobre o sucedido ele, disse-me que talvez fosse outra pessoa.
Mas a vida é bela, e hoje é mais um dia, e lindo por sinal. Quem se pode sentir Blues perante um yellow luminoso de um dias destes.

Paulo Galindro

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vasco Granja (1925 - 2009)


Muitas da crianças chamavam-te "O pai da Pantera-cor-de-rosa".
Para muitos da minha geração, foste o primeiro professor de artes visuais.
Para muitos talvez o único Professor de Educação Visual digno desse nome.
Primeiro na magia monocromática do preto e branco, um universo infinito no qual cabiam todas as cores e matizes imaginadas pelos meus olhos de criança.
Mais tarde através desse milagre que foi a televisão a cores, onde finalmente conheci as verdadeiras cores de Bugs Bunny, do Coyote e do Piu-Piu. Excepção à Pantera-cor-de-rosa, que já sabia a cor.
Tal como muitas outras crianças, também eu te enviei montes de desenhos, com a esperança de os ver apresentados por ti na caixa-que-mudou-o-mundo.
Ensinaste-me a ver a arte da animação com verdadeiros olhos críticos.
Mostraste-me animações de vanguarda,
verdadeiras obras de culto de cortar a respiração.
Ensinaste-me a olhar o mundo com olhos de criança, sempre.

Que o sítio para onde vais seja tão colorido quanto o mundo que nos mostraste.
"That´s All Folks!"

Paulo Galindro

Olhar nos olhos: Ortígia Rosa Galindro



O universo da minha mãe, Ortígia Rosa Galindro, em 09.4.11


Minha mãe, onde guardaste
o retrato de um bebé
que tu dizes que era meu
e agora já não é?

Minha mãe, onde guardaste
as botas de cabedal
que tu dizes que eram minhas
e onde não cabe o meu pé?

Minha mãe, onde guardaste
o raminho de alecrim
que tu dizes que eu te dei
para o receberes de mim?

Minha mãe, onde guardaste
a caixinha das tolices
que tu dizes que eu troquei
por um saco de meiguices?

Minha mãe, onde guardaste
os sonhos que eu não sonhei
que tu dizes que eram meus
e agora já não são?

Maria Alberta Menéres

Amo-te, Mãe!

Paulo Galindro
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...