segunda-feira, 30 de abril de 2012

Impressões de alta qualidade de "A Locomotiva"









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Estão finalmente disponíveis na loja da Qual Albatroz uma séria limitada de impressões de alta qualidade de todas as ilustrações que concebi para o livro "A Locomotiva". Cada impressão - em papel Rives de 250 gramas - mede 487 x 245 mm, com uma mancha de 416 x 183 mm. Todas as impressões são assinadas e numeradas por mim.

Uma curiosidade... adivinhem quem são os petizes que aparecem na última ilustração?

Dentro de dias haverá mais novidades, e das boas, em torno deste livro.



domingo, 29 de abril de 2012

inesquecível!







Palhaço!!!




Ontem fomos ver o espectáculo "Slava Snow Show", que está a decorrer no Casino de Lisboa, no Auditório dos Oceanos, até ao dia 20 de Maio.
O que é que eu posso dizer sobre esta experiência... sinto que, de algum forma, fui abençoado... fomos abençoados. Tenho 41 anos e já vi muitas coisas. Mas posso desde já afirmar que que este espectáculo já está guardado no meu coração, numa gaveta que lá tenho exclusiva para tudo aquilo que me arrebata e me levanta uns bons metros do chão. É uma gaveta ampla, que por isso mesmo nunca estará completamente cheia, e ainda bem. Por lá podem encontrar muitas coisas mágicas, como por exemplo Turak, Bernard Jeunet, Sigur Rós, Rebecca Dautremer e Os Gémeos (que curiosamente se inspiram no universo de Slava).
É que este espectáculo é qualquer coisa de... assim como que... ora bem... para lá de....

...bem... desisto.


Há coisas que não se explicam. São tão delicadas que correm o risco de se desvanecer à mais pequena tentativa de as transformar em palavras.
Mas posso falar um pouco sobre aquilo que senti.
Chorei a rir.... e ri a chorar. Enterneci-me. Arrepiei-me completamente. Elevei-me e aterrei bem de levezinho. Voltei a ter 97 cm de altura, e a ver o mundo em conformidade. Tive EARgasms e, porque não inventar uma nova palavra, EYErgasms. E houve momentos em que explodi em infinitos pedaços de mim, tantos quanto os papelinhos que nevaram sobre nós durante a performance e muito especialmente na tempestade que marca o grand finale, que é qualquer coisa de orgásmico.
Podem ver o espectáculo na íntegra, no vídeo primeiro vídeo que acima apresento, e que foi transmitido pelo canal Arte, mas ressalvo desde já que não é a mesma coisa, nem pouco mais ou menos. Mas pelo menos ficam com uma ideia aproximada.
Podem também ver a tempestade final, que ainda ressoa dentro de mim, no segundo vídeo acima incorporado. É

i     m     p    r    e     s    s    i    o    n    a    n    t    e    !    !    !



sexta-feira, 27 de abril de 2012

"A locomotiva": o filme

 

Este pequeno filme que apresenta o livro "A locomotiva" foi realizado, dirigido artísticamente e filmado pelo meu amigo e muito talentoso Paulo Braga, que sendo um Homem Renascentista, também compôs a música. Aos controles da luz esteve Pedro Campelo. O actor expressivo que nele aparece a ler e a interpretar o poema é Carlos Marques. A produção esteve a cargo de Marc Parchow, da Qual Albatroz. A difícil tarefa da tradução esteve a cargo de José Carlos e o poeta Gerardo Beltrán, que atendendo à complexidade do poema, fizeram pura magia.

Este é um dos grandes privilégios de fazer aquilo que faço... Partilhar este mundo com gente tão talentosa e multifacetada. Um muito obrigado a todos.

 

Lançamento do livro "A locomotiva"













Tal como já tinha anunciado aqui, a passada sexta-feira, 20 de Abril, foi o lançamento oficial do livro "A locomotiva".

Começou de manhã, pelas 12:00, na Escola Básica do Alto do Algés, onde foi oficialmente apresentado à 1ª Dama da Polónia, Anna Komorowska - país de origem do poema original, da autoria do famoso poeta Julian Tuwim - e à 1ª Dama de Portugal, Maria Cavaco Silva. A cerimónia foi simples, e apesar de ter um protocolo inerente a este tipo de eventos, acabou por decorrer com alguma informalidade. E ainda bem... tenho aversão a protocolos. O poema original foi magistralmente lido na língua materna por um grupo de crianças polacas, e em seguida, em português por um grupo de crianças portuguesas (de certeza que haveria uma forma mais simples de dizer isto sem me repetir, mas hoje estou com a verve literária meio avariada), o que acabou por se revelar uma experiência fascinante para quem gosta de línguas, já que foi possível encontrar pontos de contacto entre o português e o polaco... bastou um pouco de atenção.
Podem ver mais fotografias deste evento aqui.

Mais tarde, pelas 15:00, houve uma sessão de apresentação na sede da Comissão Europeia em Portugal, mais precisamente no Espaço Europa. Este evento foi aberto ao público, e teve a participação de várias crianças que não se coibiram de colocar todo o tipo de perguntas aos vários intervenientes neste livro. Foi ainda apresentado o filme sobre o liveNo final foram distribuídos livros por todos os participantes neste evento.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Liberdade é preciso



"Salgueiro Maia"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre papel
Maio de 2007



Este blog não é político, nem nunca o será. Não obstante considerar que é um mal mais ou menos necessário, tenho de confessar em bem da verdade que não gosto de política, nem tenciono gostar. Pelo menos daquela que vemos diariamente nos media, porque da outra, a πολιτεία ou Politeía, que nasceu na Grécia e que Platão tão bem escreveu, dessa pouco já resta. Como dizia, não gosto de política, e sempre que posso tento manter-me afastado dela. Sei que é omnipresente, mas ainda assim posso sempre mudar de canal para ver um bom programa sobre animais ou uns desenhos animados, que têm manifestamente mais substância do que muitos dos discursos ridículos a que assistimos diariamente. Mas fiz esta ressalva porque esta data que se comemora hoje - o 25 de Abril - tem vindo a ser apropriada pelo discurso político, como se de uma vitória política se tratasse. Tenho 41 anos, e tinha 3 1/2 anos quando se deu a revolução que me daria a liberdade de poder escrever o que aqui estou a escrever, sem correr o risco de ser cozido em óleo quente ou ser sujeito à horrível tortura do sono, ou a quaisquer outras sevícias que os sádicos da PIDE (que segundo consta, ainda andam por aí a ocupar alguns cargos importantes) se entretinham a praticar com quem não partilhava os ideias vigentes. 3 1/2 anos apenas. Mas lembro-me perfeitamente da alegria que se via nas ruas. Lembro-me das palavras de esperança, do brilho dos olhos das pessoas. Lembro-me do meu pai cantar os hinos da revolução. Lembro-me de passar o tempo a cantar na varanda da minha casa, juntamente com todos os meus amiguinhos que estavam nas outras varandas o tema "Somos livres (uma gaivota voava)" de Ermelinda Duarte, porque antes não se podia fazer uma coisa tão ofensiva.
A memória é curta... tão curta. E apesar de às vezes nos tratarem como se fôssemos uma manada, é pena não sermos elefantes. Porque esses têm uma memória à prova do tempo. É que Salazar foi Ministro das Finanças. Político portanto. Político com armas por trás como muitos outros ditadores, mas ainda assim político. Nunca se esqueçam disso meus amigos. Por isso, hoje, porque sou livre - pelo menos por enquanto - reservo-me o direito de não ouvir uma única palavra que venha da boca de um político. Porque o 25 de Abril foi uma vitória do anónimo, do cidadão comum, dos eternamente lixados antes e depois. foi uma vitória da inteligência sobre a ignorância. Não teve cor. Nem a vermelha dos cravos, que é flor que eu não gosto.

E para aqueles que por qualquer razão não sabem do que estou a falar, podem ler por exemplo o livro"Levantado do Chão" de José Saramago, para compreenderem um pouco melhor a vida dos vosso pais e avós. Eu compreendi tão bem.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Mandar a Galp para as couves


Há poucos dias os miúdos manifestaram interesse em aprender a andar de patins em linha. Atendendo aos preços actuais dos combustíveis e às mudanças climatéricas que estamos a assistir, e que eles ainda assistirão mais. pareceu-me uma muito boa ideia. Os patins foram comprados no domingo, e comecei a contar as horas para o próximo feriado, dia em que contava ensiná-los com o quase nada que sei, a curtir esse modo de transporte ecológico e ultra-divertido. Porque adoro aprender e depois ensinar-lhes estas coisas malucas.
Era com isto que contava... com alguns dias de desafios pela frente, especialmente no caso do João, que é muito cuidadoso no que se refere à intrepidez. Nada me poderia preparar para uma surpresa ao fim do dia, ao chegar a casa. Uma surpresa que me arrancaria gargalhadas desbragadas e me insuflaria o coração até aos limites do suportável.

E agora... como é que eu fico! Bom... pelo menos tenho os melhores professores do mundo.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Fados & Brasas

Maria do Mar Sardinha Amparo
Tenório Sardinha




"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas (...)"

Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa), in Livro do Desasossego






Nem mais... Bernardo Soares / Fernando Pessoa roubou-me as palavras da boca. Retocou-as e tornou-as belas como só ele sabia fazer. Gosto de escrever. Isso não significa que o que escrevo valha grande coisa. Significa apenas isso... que tal como desenhar e pintar, adoro escrever. E ao fim e ao cabo, não é tudo a mesma coisa? O concurso "Desenha a tua sardinha" permitiu-me fazer tudo isto num mesmo lugar, num mesmo momento. Só por isso já valeu a pena a minha participação. Por isso, tomo a liberdade de colocar num mesmo post todos os textos que fui desenhando no Facebook, durante o processo de votação da shortlist para apurar as 150 propostas mais votadas. Não houve qualquer outro objectivo que não fosse o puro prazer de escrever e de oferecer uma mitologia, uma história, une raison d'étre a este casal tão carismático. O irónico é que gostei tanto que cheguei a ansiar pelo fim do dia, momento em que no comboio e ouvi o que eles me queriam contar e passei para o papel.
Se alguém tiver pachorra para ler as tontices que me saíram da cabeça durante a semana passada, aqui vão todos os texto que redigi durante esse periodo.
Aos eventuais resistentes que ainda estejam aí desse lado do ecrã no final deste post... um muito obrigado por não desistirem





 

"Miúda. Sei que me desejas até à espinha. Vislumbrei isso quando os nossos olhos se cruzaram na lota. A culpa não é tua, descansa. A culpa é minha que sou irresistível. É mais forte do que eu, o que fazer? Não lutes contra o desejo. É uma luta inglória. Só adiarás o inevitável. Comigo na minha lata redonda com espelhos no tecto, nadarás nas barbatanas do desejo. Hoje serás minha. Deixarei a chave na recepção. O quarto é o 75. Espero por ti, com uma garrafa de ómega 3."

Carta redigida por tenório Sardinha a uma fiel admiradora, deixada na recepção do famoso Hotel des Bains



"Olá! Sou uma jovem morena, genuinamente portuguesa, 20 cm de mau caminho. Tenho mais curvas que a autoestrada de Cascais, e não tenho tabus. Cada uma das minhas escamas está ávida de experiências novas, especialmente aquelas que fazem encaracolar as barbatanas ;). Senão tens medo de mergulhar no amor e na música, contacta-me. O número do meu quarto é o 74."

Anúncio classificado publicado no Jornal "Cardume", da autoria de Maria do Mar Sardinha Amparo, quando era adolescente.



Fados & Brasas


São 2:53 da manhã. Estou no camarim 75 do Delícias do Bar. Localiza-se no 2º pilar da ponte 25 de Abril... e é um verdadeiro altar em honra do Fado e de outros vícios inconfessáveis. Daqui a pouco irei tocar. Por isso afino cada uma das cordas da minha guitarra com um amor devoto, porque amo esta senhora de madeira. Conheço-a como a palma das minhas barbatanas. É nela que encontro aconchego nos momentos em que me sinto só. Como hoje. Já me cruzei com tantas mulheres... algumas delas verdadeiramente inesquecíveis. Uma atum fabulosa que conheci quando me pediu para lhe espalhar azeite no dorso. Uma moreia cujas dentadas de amor me deixaram marcas eternas. Uma solha tão elegante que muitas vezes estava aos meus pés e eu nem a via. Duas enguias eléctricas gémeas que nem vou falar aqui por pudor. Todas elas me deixaram marcas. Mas nenhuma delas me tatuou o meu coração. Serás tu a Tal? Aquela cujo simples olhar me transformará em patê? Será que estás algures lá fora, na multidão que aguarda a minha actuação? Sei que estás... Sinto isso. Procura-me!... Já te disse que estou no camarim 75?

São 2: 55 da manhã no Delícias do Bar. Sabem, aquele recanto de má fama, onde a liga e a faca imperam, logo ali entre Almada e Lisboa. Sim, esse mesmo. Estou a ensaiar a minha voz no meu camarim. Esculpo-a com chá de anémona. Desbasto-a com aguardente de coral. Domo-a com o coração, com a parcimónia de quem sabe que a perfeição não tem preço nem tempo. No camarim 75, paredes meias com o meu, alguém dedilha numa guitarra portuguesa uma melodia de amor e solidão. Quem será? Não lhe conheço as guelras mas algo faz sentir um calafrio na espinha. Serás tu o tal... Aquele que seguiria até ao mais profundo dos mares, até ao fundo da falha de Santo André se isso fosse preciso? Não falo de pura atracção física, como aquela que senti por Zacarias Tubarão, rico de corpo mas pobre de coração. Não falo de paixões descontroladas como a que tive com Zé Polvinho, cujos 8 braços tatuados tanto me amavam como me oprimiam. Falo de amor, como aquele que canto e conto nos meus fados. Nem mais, nem menos. Serás tu o tal? Estás aí desse lado? Sabes... É fácil decorar... Camarim 74. Vem!

2:35 da manhã. Entro no palco. Chegou a hora da minha actuação. Peixes abissais bioluminescentes apontam-me sua luzes. Estou ofuscado, Pouco consigo ver da plateia. Ainda não sei o que tocar, nem me preocupo muito com isso. A música não sai das minhas barbatanas, sai do meu coração, e esse pobre coitado sabe sempre o que tocar. Pego num cigarro de algas-secas, acendo-o com a minha enguia-eléctrica portátil que uma linda baleia-anã, especialista em dança do dorso me ofereceu, dias antes de acabarmos um breve mas explosivo romance. O meu rosto incendeia-se por instantes. Do centro de mim, como sempre acontece, surge uma música. O meu coração ordena-me "Verdes Anos", de Carlos Paredes, um dos poucos humanos por quem eu daria uma barbatana e metade das minhas escamas. As minhas barbatanas, submissas, obedecem. A guitarra, minha amante de madeira, geme de prazer e de dor. Toco mais uns temas de António Chicharrinho, grande mestre da guitarra portuguesa, e porque nem só de fado vive o peixe, termino a minha actuação com a Bossa Nova de Atum Jobin. A peixeirada aplaude em uníssono... Mas eu prefiro tomar ao balcão um bom copo de água-ardente do complexo de Sines. Sei que já devia ter abandonado estes maus vícios. Amanhã. Não hoje. Hoje preciso desesperadamente de tapar um buraco na alma.


3:35 da manhã no bar de má fama, Delícia do Bar. Chegou a minha vez de actuar. Ainda estou extasiada com actuação anterior que ouvi no meu camarim 74, enquanto me maquilhava e perfumava com o meu insubstituível perfume "Coral nº 5". Será que nos podemos apaixonar por alguém apenas por a ouvirmos tocar guitarra? Mais uns minutos de actuação deste Desconhecido e acho que nem uma cana de pesca me conseguiria levantar do leito do rio. Entro no palco, uma mistura de aromas entram-me pelas guelras... Mas reconheço 2 dos mais intensos... Tabaco de algas-secas e o clássico "Le Sardine" de Ysco Saint Laurent. Intuitivamente, Sinto que estes aromas são do meu Desconhecido. Inspirada por nem sei bem o quê, começo a cantar. Dos meu lábios sai "A Canção do Mar", imortalizada por essa deusa humana chamada Amália. A minha voz sai rouca e plena de bolhas de ar, mesmo como eu gosto. Canto "Polvo que nada no rio" do poeta Pedro Peixe de Mello como se quisesse aproveitar os últimos minutos de vida antes de ser pescada por um arrastão. E mais não consigo cantar. A minha voz emudece perante o que os meus olhos me oferecem. Lá ao fundo, encostado no balcão, alguém me olha intensamente, com uma expressão de reverência e de desejo que jamais esquecerei. Um senhor distinto, belo de uma forma clássica, saturado de charme até à mais pequena escama... Um verdadeiro gentlefish. Sem que ninguém me tenha dito, sei, bem no centro de mim, que este belo cavalheiro é a voz que ouvi. O Desconhecido. O peixe da minha vida.
Por momentos, deixo de respirar.


Olho estupefacto para o palco. E hipnotizado. Bem à minha frente está a mais bela sardinha que os meus olhos já vislumbraram. Uma verdadeira brasa de sardinha. E olhem que eu já nadei pelos 7 mares, e já conheci os mais belos espécimens da fauna feminina deste planeta. A voz é rouca e doce em doses maravilhosamente iguais. Os olhos cantam o fado mais belo que já ouvi. São profundamente expressivos, e contam histórias de vida e morte, de saudade e de tristeza, e de esperança também. As guelras são finamente desenhadas e vibram ao som da emoção que a boca deixa escapar. As escamas, de um prateado perfeito, pequenos espelhos que reflectem mil cores e brilhos que conseguem atravessar a camada espessa de fumo que flutua no espaço entre nós. No programa da noite diz que esta deusa se chama Maria. Maria do Mar Sardinha Amparo Subitamente, ela deixa de cantar. O xaile cai ao chão, e fica a olhar fixamente para mim com uma expressão de reverência e de desejo que jamais esquecerei. Algures oiço um tamborilar frenético. Por momentos, penso que o som provém de milhares de latas com rodas a passar a alta velocidade no tabuleiro da ponte, bem por cima de nós. Mas a esta hora pecaminosa são poucos os humanos que atravessam a ponte.

Nesse mesmo instante apercebo-me que estou enganado... O tamborilar que oiço vem bem de dentro de mim. É o meu coração.

A minha busca termina aqui!




Deitados numa pequena lata de conserva enferrujada de uma pensão de gosto duvidoso a 10 metros do cais das colunas, tapados com uma fina fatia de pão duro e meio bolorento, Tenório e Maria dormem profundamente, enroscados um no outro. Podiam ser 2 carpas Koi num abraço yin e yang... a Verdade Universal que emanam é a mesma. Mas são só duas sardinhas a assar nas brasas de uma chama que não se vê. Na recepção, num pequeno rádio a pilhas mal sintonizado canta Nina Salmonete, que sabe sempre tudo. "My baby just cares for me".

Lá fora o sol já se ergueu.


Fim


 

 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Concurso "Desenha a tua sardinha": Os resultados

Já sairam os resultados do concurso "Desenha a tua sardinha", promovido pela EGEAC - Empresa de Gestão de Eventos e Animação Cultural no âmbito das Festas de Lisboa. Das 3526 propostas foram seleccionadas 300, 3 das quais para os primeiros 3 lugares. As restantes 297 propostas passaram à fase seguinte, e foram sujeitas a votação através do Facebook, que como se sabe, nada tem de justo. Ganha quem tiver mais amigos. Ponto final. Duas das minhas sardinhas - Tenório Sardinha e Maria do Mar Sardinha Amparo - e uma das da Natalina - Deolinda Patê del Sardiña - integraram esta shortlist, que de short não teve nada.
Gostaria de referir que este processo de selecção não foi isento de polémicas... Desde propostas seleccionadas que não cumpriram o regulamento até ao recurso ao plágio de propostas de anos anteriores, passando pela utilização de imagens de terceiros com direitos autorais ainda vigentes. Apesar de não ter entrado em discussões no Facebook - onde os egos insuflados e o mau perder se confundiram com as opiniões e os comentários de quem realmente tem razão, e onde se perdeu facilmente o nível e o respeito pelo próximo - decidi fazer uma reclamação por escrito à EGEAC sobre esta situação, que acho no mínimo vergonhosa, a qual ainda não obteve resposta.
Polémicas à parte, os resultados oficiais já são públicos. Assim sendo:


Maria do Mar Sardinha Amparo ficou em 13º lugar, com 868 votos;
Tenório Sardinha ficou em 19º lugar, com 800 votos;
Deolinda Patê del Sardiña ficou em 43° lugar, com 543 votos.

Isto significa que, de acordo com o regulamento, as nossas propostas integrarão os materiais de comunicação das Festas de Lisboa de 2012, assim como uma exposição a integrar no respectivo programa.

A todos os que votaram nas nossas propostas... um ENORME agradecimento.

Aos 4 vencedores deste concurso, na imagem apresentada acima, os meus sinceros parabéns.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Finalmente, o meu novo livro...

Convite para o lançamento

Capa

Contracapa



Já tinha falado um pouco deste projecto aqui (e aqui, aqui e também aqui... ufa! de repente senti-me um chato), mas chegou finalmente o momento de levantar o véu. Chama-se "A locomotiva", e foi escrito pelo famoso escritor polaco Julian Tuwin. Trata-se de um dos poemas mais famosos na Polónia, e suspeito que sejam poucos os polacos que não o sabem de cor e salteado. A edição é da Qual Albatroz, e foi co-financiado pela Comunidade Europeia e pela Embaixada da Polónia. A maravilhosa tradução (e posso garantir-vos que não foi tarefa fácil devido às especificidades da língua polaca e da complexidade rítmica do poema) é da autoria de Gerardo Beltrán e José Carlos Dias, e como não poderia deixar de ser, teve a total aprovação da Fundação Tuwim. A paginação é da autoria do meu grande amigo Marc Parchow, e a tiragem é, para já, de 3000 exemplares.

Sendo um projecto apoiado pelas duas instituições atrás referidas, este livro não entrará para o circuito comercial nem será vendido de qualquer outra forma. A boa notícia é que será distribuído gratuitamente pelas bibliotecas escolares do ensino básico e pela bibliotecas municipais de todo o país.

O lançamento ocorrerá na próxima 6ª feira, 20 de Abril, e dividir-se-á em três momentos-chave:

Aproveitando a visita do Presidente da Polónia, Bronislaw Komorowski, o livro será oficialmente apresentado à 1ª Dama da Polónia, Anna Komorowska, e à 1ª Dama de Portugal, Maria Cavaco Silva, numa cerimónia simples que ocorrerá pelas 12:00 na Escola Básica do Alto do Algés, na presença de algumas turmas deste estabelecimento e ainda de um grupo de alunos polacos.

Mais tarde, pelas 15:00, será feito o lançamento oficial do livro nas instalações da Comissão Europeia em Portugal, na morada acima indicada. Será ainda inaugurada a exposição com os originais das ilustrações. Esta cerimónia é aberta ao publico. A quem porventura estiver interessado em participar agradeço apenas que me envie um mail, por questões de logística do evento.


À noite, e porque nem só de trabalho vive o homem.... é momento de FAAAAARRRRRRRRAAAAA!

Descansa em paz


Aldino Brito foi um colega de faculdade. Alguém com quem eu passei longas horas de tertúlia, onde falávamos de tudo e de nada. Com ele conheci alguma da música e da literatura que marcariam para sempre a minha vida. Dono de uma cultura imensa, dissimulada sob um manto de uma aparente passividade perante a vida, Aldino foi das pessoas mais calmas que já conheci, talvez resultado do sangue frio necessário para passar anos a co-pilotar carros em ralis, um meio onde já tinha atingido um enorme estatuto. Os carros, especialmente os clássicos, eram de facto uma das suas grandes paixões. Escrever também. Aldino escrevia para vários jornais e revistas, e a última vez que falei com ele estava a escrever um livro. Pedro Paixão era uma das sua paixões literárias.
Apesar de nunca termos perdido o contacto, já não falava com ele há uns 4 anos. Foram muitas as vezes que o tentei contactar, especialmente no último ano. O facto de ter vários discos e livros dele para lhe devolver era o mote, o álibi perfeito para umas boas horas a pôr as notas de música e as letras em dia. Mas nunca consegui falar com ele... A semana passada soube o porquê do meus constantes fracassos. O meu amigo Aldino faleceu há 3 anos, mais precisamente numa sexta-feira, dia 13 de Fevereiro de 2009, num estúpido acidente de trabalho. Não sou supersticioso, mas quis a ironia do destino que eu soubesse esta triste notícia numa sexta, dia 13 de Abril. Nunca poderia sequer imaginar que esta tragédia pudesse ter acontecido. E pior de tudo, sem eu nunca saber disso. Mas aconteceu, e isso deixou-me profundamente triste. Duplamente infeliz. Por ter perdido para sempre um amigo. Por não ter estado presente nesse momento de dor para a família.
Em pleno século XXI, é tão triste perceber que nunca tivemos tantas ferramentas para interagirmos e, simultaneamente, nunca estivemos tão desligados uns dos outros.
Porque a memória é vida. Porque lembrar é eternizar, esta é a minha singela homenagem, ainda que póstuma, ainda que muito tardia, a um amigo que não verei mais, e de quem não pude fazer o luto no seu Dia Mais Longo.
Aldino Brito... Onde quer que estejas agora... Nunca te esquecerei.

Descansa em paz.


sábado, 7 de abril de 2012

Tardes incandescentes #5



O mundo é admirável quando olhamos para o céu, e por momentos repousamos os olhos nas montanhas de água que com uma leveza surpreendente, deslizam mesmo por cima de nós.

Quanto pesará uma nuvem?

Dois filmes inesquecíveis







Mais dois filmes para essa galeria exclusiva dos filmes que não vou esquecer.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Acabei o meu 10º livro


Este painel de MDF não foi uma incursão nos domínios da arte abstracta.
Trata-se apenas da base de trabalho que usei para este livro.
Conheço-lhe cada pormenor, cada imperfeição, cada corte de x-acto e textura
como se fosse a palma da minha mão. Vou começar a guardar estes placas
de MDF, pois à sua maneira conta a história de cada livro.
No final, quem sabe, faço uma exposição.


Na última semana tive de me dedicar de corpo e alma à finalização do meu 10º livro. E quando digo corpo e alma, não o faço de forma metafórica. Estive literalmente 7 dias em regime de clausura no meu atelier, rodeado de um caos de tintas, tesouras, pedaços de papel, pincéis, chávenas sujas de café, tecidos, música, pastilhas elásticas e sei lá mais o quê. Fiz refeições a horas indecentes, dormi uma média de 4 horas por dia, por vezes nem isso se tiver em conta a falta de qualidade do meu sono nos últimos tempos. E como se não bastasse, apanhei uma constipação tremenda, e fui assaltado por uma enxaqueca permanente que ainda hoje, que a tempestade já passou, teima em manter-se fiel ao seu objectivo de fazer-me a vida negra
Durante 7 dias o meu mundo foi este, nada mais. Não tive família, não tive amigos, não me tive a mim. Tornei-me de certo modo autista, e devo desde já dizer que não gosto disso. Nada no mundo justifica isso.
Foi o 10º livro, e por sinal um dos mais complexos que já ilustrei, não só pelo texto - que é da autoria do famoso escritor polaco Julian Tuwin - mas também pelo peso da entidades envolvidas neste projecto - a Comunidade Europeia, a Embaixada da Polónia e a Fundação Tuwim e os meus grandes GRANDES amigos Marc e José, da editora Qual Albatroz - e da enorme responsabilidade que daí adveio.
Consegui terminá-lo, e melhor que tudo, acho que vai ficar um livro mesmo muito bonito. Mas o preço talvez tenha sido alto demais. Sei que vou ter de mudar algo na minha vida. Talvez seja o meu método de trabalho, talvez seja o ritmo que imponho aos meus trabalhos, talvez seja a forma como enfrento os obstáculos, ou talvez seja a maldita vida dupla que levo, que essa, infelizmente, e atendendo ao estado em que está este pobre país, não vou poder mudar. Pelo menos por agora.

No fim, ficou a infinita felicidade de ter terminado com sucesso este projecto. Mas também uma certa tristeza por sentir, que de alguma forma que ainda não compreendi, falhei nos meus objectivos, e não foi pouco. E isso, não é uma sensação agradável. Mas a vida é uma constante aprendizagem... e com este livro aprendi mesmo muito.
O primeiro lançamento do livro será no dia 20 de Abril, e reservo-me o direito de degustar esse dia com  parcimónia gourmet. Mas disso falarei daqui a alguns dias.
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