"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
Há algumas semanas, fui contactado pela Natacha, para me alertar para o facto de, tanto o trabalho dela como o meu, estarem a ser plagiados por esta
“personagem” (força de expressão meramente literária que me permite evitar utilizar a palavra
“pessoa”). Não obstante o caso da Natacha ser francamente mais gritante, já que a imagem do trabalho dela aparece em grande pormenor (de onde inclusive foi retirado - e mal - a menção ao site da autora, em rodapé), o facto é que aparece na referida publicidade uma imagem de um
personagem criado por mim para o
Colégio Miúdos Radicais. Durante este período conhecemos algumas formas de proteger legalmente os nossos trabalhos, foram accionados alguns mecanismos legais e ficámos a saber dos orçamentos que o
“personagem” cobra pelos seus serviços. Eu cheguei mesmo a contactá-lo. Confrontado com a situação, a
“personagem” pediu desculpa,
“(…) que não era minha intenção (…) que não queria copiar um trabalho que admira muito (…) que sou apenas um Pedreiro da construção civil que faz uns trabalhos por fora (…)”. Como se uma profissão que é tão honesta e dignificante como a de um Juiz Desembargador ou a de um Presidente da República pudesse ser uma justificação para a desonestidade.
Amo aquilo que faço, e vivo intensamente esse amor. Demoro o tempo que for necessário para dar à luz uma nova “criatura”, que é como um
filho para mim. Um
filho feito de papel, tinta acrílica, cartão, lápis, madeira, colagens, letras, fios, poesia, arames, pastel, tinta-da-china, cafés, paciência e muito amor. Na minha mente, tal como os meus filhos João e Miguel, ele tem corpo, substância e alma. Com os sentidos da minha mente, consigo vê-lo de todos os ângulos, falar com ele, tocar-lhe, cheirá-lo e sonhá-lo.
O personagem em questão,
um menino cowboy, demorou exactamente
4 horas a ser criado, e aproximadamente
26 horas a ser ilustrado na parede. Foram produzidos
17 esquissos, que sobrepostos, e num processo de erro / correcção / erro / correcção, evoluíram até à sua imagem final. E todo este processo foi apenas um momento num percurso de dez anos em que ando a pensar nestas coisas da ilustração, dia após dia. E a aprender, aprender, aprender, numa história interminável onde serei sempre um aprendiz, nada mais do que isso!
E isso é simplesmente inimitável!
Post Scriptum: Um muito obrigado, Natacha, por me teres informado... e por me manteres informado.
Por Paulo Galindro