Os personagens começam muito timidamente a querer surgir...
... a querer ser muito mais do que uns meros rabiscos.
Eles querem ganhar vida, corpo, substância...
... personalidade e atitude.
Á esquerda, como construir uma gaiola. Á direita, primeira abordagem a um futuro storyboard, uma ferramenta que considero absolutamente essencial na apropriação da história, na definição da paginação, e acima de tudo, no diálogo com a editora e o autor.
Á esquerda, uma vez mais o storyboard. Á direita, definição das dimensões do livro. Esta última variável é muito mais importante do que à partida possa parecer. Um bom livro pode cair por terra se tiver um formato desadequado à sua função, à história, à ilustração e até mesmo às exigências do público alvo. Para além disso, tem de atender a questões de ordem económica e de logística. Um livro com um formato muito grande torna-se inevitavelmente mais caro na execução e na distribuição.
Os livros, tal como nós, têm um ciclo de vida. Nascem, crescem, vivem, mas não morrem. E é no fim, são em tudo diferentes de nós. A vida de um livro transcende a curta existência do(s) seu(s) criadores. É imortal. Existirá sempre mais um exemplar, algures no tempo e no espaço: dentro de um baú esquecido num qualquer sótão, nas profundezas de uma cave húmida, debaixo de uma mesa a servir de calço, nos arquivos da torre do tombo, ou pendurado num estendal.
Mas o que aqui pretendo falar, é essencialmente dos primeiros momentos do livro, quando este ainda não é.
No início é o verbo... ou melhor, a História. Normalmente escrita por alguém que não eu - apesar de o já ter feito, em co-autoria com a Mafalda Milhões, no livro "Chiu!" - a história é o ramo de onde a minha imaginação levantará voo. Leio-a uma, duas, dez, cinquenta vezes. Mil vezes se for preciso. Leio-a e namoro-a e desenho-a com letras e com linhas até que esta seja minha. Não consigo fazer de outra forma. É um processo lento, feito de angústias, dúvidas, de inspirações e de pequenas imagens que aqui e ali relampejam no horizonte da minha consciência (e inconsciência, pois muitas vezes também as sonho).
Aos poucos, muito aos poucos, este universo preenche cada centímetro cúbico da minha cabeça. Á frente dos meus olhos, na ponta do meu lápis, personagens, imagens ainda muito embrionárias e cobertas por uma névoa de incerteza começam a vibrar, como minúsculos pirilampos desejosos que eu os insufle de vida.
E eu, eu simplesmente adoro este momento!
Banda Sonora para este momento de sedução: A doçura psicadélica dos Beach house e o álbum "Devotion" (vejam aqui um dos vídeos). Esta é a minha última paixão musical.
Paulo Galindro