Peço perdão por repetir um pouco o conteúdo do post anterior, mas a Basílica di Santa Maria Del Fiori tocou tanto a minha sensibilidade de arquitecto e de ilustrador que não poderia deixar de o fazer. Para que possam fazer uma ideia um pouco mais aproximanada da grandeza desta obra, apresento mais umas fotografias dos frescos da cúpula, mas com uma definição e dimensão maiores. Deste modo, se clicarem nas respectivas imagens podem visualizá-las com muito mais detalhe. No que se refere à escala da pintura, que nas fotografias nunca é muito clara a não ser que apareça uma pessoa que permita a comparação (e neste caso só se fosse o Homem-aranha), saibam por exemplo, que as personagens que ilustram a base da cúpula devem ter aproximadamente 3,50 metros, sendo que a sua dimensão vai reduzindo à medida que se aproximam do ponto mais alto, junto ao óculo (que representa a ascensão ao céu) para um efeito perspéctico de cortar a respiração.
Tendo eu já executado alguns (muito humildes) murais, apenas em alguns deles a ilustração se desenvolveu um pouco pelo tecto, que nunca apresentou um pé-direito superior a 3 metros e uma área superior a 12 m2. E posso afirmar que é extremamente difícil: em pouco tempo o sangue deixa de circular no braço e este começa a perder sensibilidade e a pesar 1000 kg, o pescoço começa a doer e a pintura começa a ressentir-se. Nesse momento tudo o que queremos é acabar rapidamente o trabalho e juramos a pé juntos que nunca mais nos meteremos noutra igual. Agora imaginem o que é pintar um tecto com 3600 m2 a uma altura de aproximadamente 25 andares, durante 11 anos.
Uma nota final.... dizer que esta basílica tem uma cúpula é apenas uma força de expressão... na verdade, são duas cúpulas... uma exterior e uma interior, com um espaço percorrível pelo meio, como se pode ver nas fotografias acima. É uma sensação estranha percorrer este espaço intersticial, que de tão opressivo é impróprio para cardíacos e claustrofóbicos, sabendo que sob os nossos pés se estende uma superfície curva pintada com o Juizo Final, e sob as nossas cabeças, quase a tocar-lhes, uma superfície curva que nos protege do céu.
Paulo Galindro