sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Quando os livros sobem as paredes



10 de Junho: 8 ilustrações de um total de 16... cheguei ao cume... agora é sempre a descer até ao sopé desta montanha.






17 de Junho: 16 - 12 = 4 + capa... Quase, quase, quase, quase... faltam 4 quases. Já começo a ver uma luz ao fundo do túnel, e não é um comboio. Quando olho para isto, só posso chegar a uma conclusão, subvertendo um pouco Nietzsche... é preciso muito caos interior para parir um livro que cante e encante.





20 de Junho: E eis que, no meio do deserto, surge um belíssimo Oásis... chama-se "Falta só uma ilustração e depois é a capa"... Ufa!!!! Sinto-me um Tuaregue num deserto de guache...






Por vezes, quando estou a ilustrar um livro, tenho de o deixar subir às paredes, permitir que domine o espaço do atelier... de outro modo, serei eu o dominado... e se isso acontecer (e já houve momentos em que quase, quase aconteceu), o Livro poderá nunca chegar a ver a luz do dia.

Desenganem-se aqueles que têm uma visão romântica do que é ilustrar um livro... Pelo menos para mim, é das coisas mais complexas que faço na vida.  Complexa e maravilhosa, extenuante mas bela, angustiante também, vibrante como tudo, opressiva até dizer chega, mas acima de tudo, um gesto pessoal de Amor. Nada mais me move... se fosse o dinheiro já teria parado há muito tempo. Quem está neste universo dos livros sabe que em Portugal - por ser um país pequeno - esta é uma atividade muito mal remunerada. Se pusesse num prato de uma balança a energia brutal que tenho de dedicar a cada livro que me passa pelas mãos e ao quanto isso me deixa completamente sem pinga de energia, e no outro o retorno respectivo financeiro, dedicar-me-ia com toda a certeza à venda bolsas de Berlim na praia, ou à (muito) nobre arte de lavar escadas. Garanto-vos... ganha-se mais aí.

Tem tudo a ver com o número de pessoas que compram livros, e num país pequeno, esse número é pequeno. E se adicionarmos a isso o facto de que cada vez mais é solicitado aos autores que partilhem o risco de se publicar mais um livro no meio de milhares que todos os anos crescem como cogumelos nos escaparates  (atenção... quantidade nunca foi sinónimo de qualidade... isso é facilmente constatável em qualquer livraria), então temos uma tempestade perfeita que nos faz pensar na vida.


É por Amor... de outra forma há muito que já teria desistido. 

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