Este ano, uma vez mais, irei estar na Feira do Livro de Lisboa nos próximos fins-de-semana , a bronzear a careca e a treinar os músculos do meu braço esquerdo sob um sal abrasador.
Para que não subsistam dúvidas, até este momento, é esta a minha calendarização:
Editora Booksmile, com Maria Inês Almeida, autora dos livros "Sabes que também podes ralhar com os teus pais?" E "Sabes como é que os teu pais se conheceram?":
26 de Maio (Domingo) às 15 horas, no stand A24
Livros Horizonte, com Carla Cunha, autora do livro "O Cuquedo":
26 de Maio (Domingo) às 16:00
10 de Junho (Segunda-feira), às 17:00
Porto Editora, com Luis Sepúlveda, Autor do livro "A história de um gato e de um rato que se tornaram amigos":
1 de Junho (Sábado) às 16 horas
2 de Junho (Domingo) às 16 horas
Dinalivro, com Maria João Lopes, Autora do livro "O Gatuno e o extraterrestre trombudo":
9 de Junho (Domingo) às 16 horas
Fiz questão de sistematizar esta informação não só por mim, que sou um despassarado incurável, mas acima de tudo por vocês aí desse lado para vos avisar uma vez mais:
Por favor, não apareçam na Feira do Livro nestas datas, e se porventura apareceram fujam a 7 pés dos locais acima referidos... não me responsabilizarei pelos estragos com caneta que provocarei nos vossos queridos livros.
Estão avisados.
PS: Se porventura houver alterações ou novidades, farei uma actualização deste post.
Chamar velho a um sonho é apenas uma figura de retórica para sublinhar o tempo que estive à espera para ver um concerto dos Dead Can Dance (DcD). Na verdade, não há sonhos velhos... há sim sonhos por cumprir. E enquanto tivermos uma dessas pequenas centelhas a pulsar dentro de nós, essa semente conterá em si mesma o segredo da eterna juventude.
Sim, é verdade, desde os meus 16 anos que adoro DcD, e muito especialmente a forma como ele uniram mundos tão distintos como a música erudita, os tons negros do gótico, os drones do darkwave, a luz da pop, o tribalismo da world music, as paisagens contemplativas e cinemáticas dos cantares hungaros, a filigrana folk, os sons medievais e sei lá mais o quê de referências.
A música do DcD faz parte integrante da banda sonora da minha vida. Tranporta-me para outros lugares... recantos mágicos, misteriosos, escondidos da poeira do tempo e da espuma dos dias. É música com cheiro a incenso e especiarias, com o toque da seda dos véus persas,
e com uma paleta cromática que oscila entre o Luto e a Luz.
E não será assim a vida?
O concerto, como não poderia deixar de ser, foi memorável. Sobre um cenário austero, destituído da artificialidade de efeitos especiais gratuitos, ou de efeitos de luz que só servem para nos desviar a atenção do essencial - a música - Lisa Gerrard teve a presença diáfana e hipnotizante de uma deusa grega, com uma voz que arrancou lágrimas até ao mais empedernido dos corações. Brendan Perry, por seu lado, fez as despesas da expressividade corporal e interacção com o público, e mostrou ter, sem grandes surpresas da minha parte, uma das mais belas vozes masculinas que já moraram nos meus ouvidos. Yin e o Yang... são assim os DcD.
Quanto aos temas, oscilaram entre o último álbum "Anastasis" e os álbuns que lançaram sobre a égide da editora de culto 4 AD. Dos muitos momentos altos, destaco o divinal "Sanvean: I'm Your Shadow", que é qualquer coisa do outro mundo, "Cantara", épico até dizer chega, e uma versão absolutamente divinal do tema "Song To The Siren", que me fez tremer pelas bases (este tema, da autoria de Tim Buckley, foi mais tarde tornada famosa pelo This Mortal Coil).
Única nota negativa... não tocaram o tema "Don't fade away" E é por ser uma das muitas músicas que faz ressoar a minha alma, que a apresento aqui.
Apaguem as luzes, acendam uma vela, fechem os olhos, encaracolem os dedos dos pés
O gato e o rato vão deixar as páginas do livro, e ganhar corpo na Feira do Livro de Lisboa, pela mão maravilhosa do grupo de teatro e marionetas Mandrágora.
O espectáculo será no dia 2 de Junho, pelas 15 horas. Mais tarde, pelas 16 horas, eu e o Luís Sepúlveda estaremos junto ao stand da Porto Editora para ass(assa)inar os vossos livros com a minha devastadora caneta.
LisboaETês#3
Centro de Investigação para o Desconhecido / Fundação Champalimaud
Belém, 12 de Maio de 2013 pelas 11:30
LisboaETês#3
Ampliação em Photoshop para desvendar pormenores das criaturas
Tal como já aqui tinha dito, no passado domingo fomos passear de bicicleta junto ao Tejo, em Belém. O dia estava revestido a talha dourada, e no fim do nosso passeio, eu e o meu pequenote - o Miguel - fomos premiados com a praça central do Centro de Investigação para o Desconhecido, da Fundação Champalimaud, que é uma pérola arquitectónica. Só por si, a partilha desta experiência com o Miguelito, debaixo de um sol de 24 quilates, já teria sido um tesouro sem preço. Mas havia ainda mais um prémio, e este ainda mais impressionante: uma vez mais, essas criaturas misteriosas a que decidi designar por LisboETês (ou, em inglês, LisboET's) cruzaram-se comigo. E ainda que já os tivesse fotografado algumas vezes, até este momento continuei a acreditar que algum produto químico numa das tintas que costumo usar poderia estar a atirar-me para uma trip psicadélica com raízes na minha paixão pelos mistérios do universo.
Só que desta vez eles foram também vistos pela pureza sem preconceitos dos olhos do Miguel.
"Olha pai... Que giro... São tão fofos!... São o quê? Posso brincar com eles? Podemos levá-los para casa? Aposto que a Skye iria ficar bué de amiga deles! Vá lá pai, deixa lá!!! Sim? Sim? Sim?", disse ele maravilhado, enquanto os observava, e eles o observavam a ele.
Perante esta total inocência e entrega a um momento único na história conhecida da humanidade, por oposição ao meu receio do desconhecido (resultado talvez de uma sobre-exposição a filmes manhosos Série B de ficção cientifica onde os humanos são sempre raptados e objecto de terríveis experiências), dei por mim a recordar uma passagem do livro "O mundo de Sofia" de Jostein Gaarder (Editorial Presença, 1995), intitulada "um ser estranho". Está na página 21:
Eu já disse que a capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos? Se não disse, digo-o agora: A CAPACIDADE DE NOS SURPREENDERMOS É A ÚNICA COISA DE QUE PRECISAMOS PARA NOS TORNARMOS BONS FILÓSOFOS.
Todas as crianças pequenas possuem esta capacidade, isso é óbvio. Com poucos meses de vida, começam a aperceber-se de uma realidade completamente nova. Mas quando crescem, esta capacidade parece diminuir. Qual será o motivo? Poderá Sofia Amundsen responder a esta questão?
Se um recém-nascido pudesse falar, diria certamente muitas coisas sobre o estranho mundo a que chegou. Porque ainda que a criança não possa falar, vemos como aponta à sua volta e agarra com curiosidade os objectos no quarto.
Quando começa a falar, a criança fica parada cada vez que vê um cão e chama: Ão, ão! Começa a agitar-se no carrinho, e move freneticamente os braços: Ão, ão! Nós, que temos mais idade, sentimo-nos talvez pouco à vontade com o entusiasmo da criança. - Sim, sim, isso é um ãoão!- dizemos muito sabedores.- Mas agora senta-te. Não estamos assim tão entusiasmados. Já tínhamos visto cães antes.
Provavelmente, esta cena repete-se algumas cem vezes até que a criança possa passar por um cão sem ficar fora de si. Ou por um elefante, ou por um hipopótamo. Mas muito antes que a criança aprenda a falar correctamente - ou antes que aprenda a pensar filosoficamente - o mundo tornou-se para ela algo de habitual.
É pena.
Será a minha tarefa que tu, cara Sofia, te tornes uma daquelas pessoas para quem o mundo é evidente.
Imagina que dás um passeio pelo bosque. De repente, descobre à tua frente uma pequena nave espacial. Da nave espacial, um marciano desce e olha para ti...
O que pensarias numa situação dessas? Bom, isso no fundo, é´indiferente. Mas já pensaste que tu mesma és também um marciano?
Obviamente, nao é particularmente provável que alguma vês dês com uma criatura de outro planeta. Nem sequer sabemos se há vida nos outro planetas. Mas é possível que dês contigo mesma. Pode acontecer que um belo dia fiques surpreendida e te vejas de um modo completamente diferente. Talvez isso se passe precisamente num passeio pelo bosque.
Eu sou um ser estrano, pensas tu. Sou um animal misterioso...
(...) Quem sou eu? Perguntas. Sabes que estás num planeta no universo. Mas o que é o universo?
Se te descobrires desta maneira, descobriste algo tão misterioso como o marciano que mencionámos anteriormente. Não só descobriste um extraterrestre mas sentes interiormente que tu própria és um ser desses.
Ainda me estás a seguir, Sofia? Vamos fazer mais uma experiência:
Certa manhã, o pai, a mãe e o pequeno Tomás, que tem dois ou três anos, estão sentados na cozinha durante o pequeno-almoço. De repente, a mãe levanta-se e vira-se para o lava-louça: nesse preciso momento, o pai começa a voar em direcção ao tecto, enquanto Tomás observa.
O que te parece que Tomás diz? Provavelmente aponta para o pai e diz: - O pai voa!
Certamente que Tomás ficaria admirado. Mas o pai faz coisas tão estranhas que um pequeno voo acima da mesa já não tem importância aos seus olhos. Todos os dias faz a barba com uma máquina engraçada, por vezes trepa ao telhado para orientar a antena da televisão - ou enfia a cabeça junto ao motor do carro e aparece depois todo negro.
Depois, é a vez da mãe. Ela ouviu o que Tomás disse e voltou-se rapidamente. Como achas que reagirá vendo o marido a esvoaçar sobre a mesa da cozinha?
O frasco de marmelada cai-lhe imediatamente da mão, começará a gritar de medo. Talvez tenha de ir ao médico, mesmo depois de o pai se ter sentado de novo na cadeira. (Ele já devia ter aprendido há muito tempo como se comportar à mesa!)
Porque é que Tomás e a mãe reagem de forma tão diferente?
É uma questão de hábito. (Toma nota disto!). A mãe aprendeu que os homens não podem voar. Tomás não. Ainda não distingue o que é possível do que não é.
Mas o que dizer do mundo, Sofia? Achas que o mundo é possível? Também está suspenso no espaço.
O mais triste é que ao crescermos não nos habituamo-nos apenas à lei da gravidade, habituamo-nos simultaneamente ao mundo.
Aparentemente, perdemos durante a nossa infância a capacidade de nos surpreendermos com o mundo. Mas com isso, perdemos algo essencial - algo que os filósofos querem reavivar. Porque em nós algo nos diz que a vida é um grande mistério. Já tivemos essa sensação muito antes de termos aprendido a pensar nisso.
Vou ser mais preciso: apesar de todas as questões filosóficas dizerem respeito a todos os homens, nem todos os homens se tornam filósofos. Por diversos motivos, a maior parte está presa de tal forma ao quotidiano que o espanto perante a vida é muito escasso.
Para as crianças, o mundo - e tudo o que existe nele - é uma coisa nova, uma coisa que provoca estupefacção. Os adultos não o vêem assim. A maior parte dos adultos vê o mundo como qualquer coisa completamente normal.
Os filósofos constituem uma excepção notável. Um filósofo nunca se conseguiu habituar completamente ao mundo. Para o filósofo ou para a filósofa o mundo é ainda incompreensível, inclusivamente enigmático e misterioso. Os filósofos e as crianças pequenas possuem uma
importante qualidade em comum. Podes dizer que um filósofo permanece durante toda a sua vida tão capaz de se surpreender como uma criança pequena.
E agora tens que te decidir, cara Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?
Se simplesmente abanas a cabeça e não te sentes nem como criança nem como filósofa, é porque te acostumaste tão bem ao mundo que este já não te surpreende. Nesse caso, o perigo está eminente. E por isso te ofereço este curso, para prevenir. Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de modo consciente.”
Estava eu a pensar neste magnífico livro que deveria fazer parte da lista de livros que qualquer ser humano deveria ler antes de morrer - pensar demais é coisa que eu faço muitas vezes, e talvez um dos meus maiores defeitos - já o meu filho tinha tirado a fotografia que acima mostro.
Penso que são mãe e filho, mas nada mais poderei dizer que não seja especulação porque não houve qualquer interacção para além de uma certa curiosidade temporária da parte deles. Nós, em contrapartida, ficámos estupefactos.
Resta-me dizer que já estou a investigar estas criaturas. Ao fim de muitas horas ao telefone, e alguns presentinhos bem oportunos, consegui autorização para 2 horas de pesquisa nalguns dos corredores mais inacessíveis da Torre do Tombo. Consegui também o milagre de poder visitar os primeiros 2 níveis dos arquivos do Vaticano, mas estou sem dinheiro para ir a Roma (fico-me por isso pelas secções de Ficção cientifica, Esoterismo e Astronomia da Livraria Barata , na Avenida de Roma e já é muito bom). Por fim, consegui também uma algumas reuniões via Skype com uma série de grupos de investigação do paranormal, do fenómeno OVNI e de conspirações ao mais alto nível, dos quais apenas estou autorizado a revelar estes:
"I Want to Believe" - Research Group Of Paranormal And All That We Can Only See With The Eyes Of The Heart (in memoriam Fox Mulder) (1), em Edimburgo / Escócia
(1)"Eu quero acreditar" - Grupo de pesquisa do paranormal e de tudo aquilo que apenas se consegue ver com os olhos do coração (em memória de Foz Mulder)
ChickenSkin - American Institute of research of all those strange and crazy shit that you do not believe, but which are nonetheless less real because of it (and if it happens to you, you'll be scare to death!) (2), em Roswell / EUA
(2) Pele de Galinha - Instituto americano de todas aquelas coisas bizarras e loucas que tu não acreditas, mas que não são menos reais por isso ( e se te aconteceram, borras-te todo!) Céptico Q.B. - Magazine científico do desconhecido e mais Além, em Freixo de Espada à Cinta / Portugal
我々は宇宙に一人ではありません - 仏教センターでは、無限と永遠を研究 (3), em Kyoto / Japão
(3) Não Estamos Sós - Centro de estudos sobre o Infinito e a Eternidade
Uma nota final... escusam de procurar estes grupos. Apesar de estarem presentes na Internet, torna-se deveras complicado encontrá-los na rede dita normal uma vez que todas as suas actividades e informações estão encriptadas e só acessíveis a alguns privilegiados.
Fomos passar a manhã do Domingo a Belém, que é um sítio absolutamente maravilhoso para se fazer uns bons quilómetros de bicicleta com o filho caçula (entretanto, o outro, o João, esse tem andado pelo Jardim Botânico, maravilhado com um curso de Ilustração cientifica para crianças ministrado pelo Museu de História Natural).
Adoro aquele lugar... Aliás, na verdade sou um amante incondicional da cidade de Lisboa.
Como disse, começámos a nossa viagem debaixo da ponte e fomos pedalando até ao edifício que acolhe o mais belo título dado a uma instituição... Centro de Investigação para o Desconhecido, da Fundação Champalimaud. Sempre tive uma imensa curiosidade em ver de perto aquele belo exemplo de arquitectura, mas nada me poderia preparar para a comoção que percorrer a sua praça central me provocaria. Na sua aparente simplicidade formal feita de suaves curvas que comprimem de forma orgânica um espaço saturado de maresia, o edifício conduz-nos delicadamente para a praça central, por entre enormes paredes lisas, perfuradas aqui e ali por janelas de gigante em forma de elipse, que se abrem para o coração verde de clorofila do edifício. Subitamente, ao virar de uma esquina o tempo parece congelar ao darmos de caras com um visão de tirar o fôlego: dois pilares pontuam o topo de uma grande rampa, para a qual todo o edifício converge. Esta rampa esconde os limites Tejo e nos atira sem dó nem piedade para o infinito do céu, que naquele dia foi de um azul vibrante. Uma porta para o desconhecido, e uma homenagem ao que de melhor o ser humano tem: o poder redentor do sonho e a invencibilidade da esperança.
Céus!!! Que praça inesquecível... foi com toda a certeza uma das minhas experiências mais intensas em arquitectura. Aquilo que ali senti foi uma harmonia entre o material e o espiritual. Não se trata unicamente de pura poesia metafórica, resultado de uma imaginação fértil. A elevação espiritual, o convite a um Voo para lá de nós mesmos sente-se em cada milímetro quadrado do nosso corpo. O Miguelito, apenas com 6 anos, sentiu isso. E no fundo, existe neste edifício uma forte relação entre a forma e a função. No seu coração, faz-se investigação topo de gama em diversas áreas cientificas / médicas - muito especialmente em doenças do foro oncológico - cujos resultados poderão mudar para sempre o destino e a qualidade de vida de muitas pessoas. Por outro lado aplicam-se ali tratamentos únicos, pioneiros e visionários, que oferecem o poder redentor e transformador da Esperança a quem infelizmente a eles se vê obrigado a recorrer.
Acreditem, sei do que falo... Uma grande amiga minha está a lutar ali o combate da sua vida, e eu sei que o vai vencer (minha querida amiga ____, sei que o vais vencer... Mesmo!!!!). Com a ajuda da Esperança, do Sonho, dos melhores técnicos e tecnologias do mundo, de uma Paisagem arrebatora - que o arquitecto Charle Correa não se coibiu de esbanjar nas salas onde se fazem estes tratamentos - e da Arte. Porque é disso que este edifício fala... De Cura pela Criatividade, seja ela aplicada à investigação, à tecnologia, ou à arquitectura.
Ofereçam a vocês mesmos um visita a esta praça... e deixem aqui o vosso testemunho.
Nota Final: Foi esta capacidade de expandir espaços exíguos até ao infinito, e de trazer o infinito até bem perto de nós, que me levou a estudar arquitectura, dando corpo a UM dos meus sonhos de menino com 6 anos (desenhar livros para crianças e ser astronauta eram... ou melhor... SÃO os outros). É verdade que acabei por não exercer muito essa nobre arte, apesar da minha formação académica ter sido fundamental na minha actividade enquanto ilustrador. O curso de arquitectura é extremamente ecléctico, e a linguagem que ali se aprende é aplicável em muitas áreas artísticas e técnicas. Contudo, actualmente a minha actividade nessa área resume-se ao planeamento, onde os edifícios não são mais do que uma mancha quadrangular, e os metros quadrados dão lugar aos hectares. Algures pelo meio, uma enorme paixão pela ilustração e por esse objecto a que normalmente chamamos Livro intrometeu-se na minha vida, e o desenho de casas foi ficando para segundo, para terceiro plano. Nunca mais desenhei casas, para além daquelas que povoam os meus livros. Mas muitas vezes me pergunto de que forma a minha actividade de ilustrador poderá ter contaminado a minha sensibilidade de arquitecto. Na verdade, quando penso nisso, penso quase imediatamente na arquitectura louca e desconcertante de Hunderwasser, de quem eu sou admirador incondicional.
Se alguém estiver interessado em construir a sua própria casa e quiser arriscar descobrir comigo o que resultaria da equação:
Arquitectura + ilustração infantil
... é favor contactar-me. Prometo um monte de adrenalina e uma experiência única.
LisboET's #2
11 de Maio de 2013, pelas 18:30, no cais do Sodré,
Há poucos dias coloquei aqui a primeira de uma série de fotografias que puseram a descoberto a existência de extraterrestres em Lisboa. Chamei-lhes por isso mesmo LisboETes. São fotografias captadas com o meu telemóvel, de uma forma muito expontânea e, acima de tudo, cuidadosa para não perturbar ou assustar as criaturas de que falo, até porque nem sequer sei se serão perigosas... contudo, o meu instinto diz-me que não.
Na verdade, ainda nada sei sobre eles, excepto o facto de que tudo aponta para já estejam entre nós desde o fatídico ano de 1755, quando a terra tremeu. Mas não há certezas. Estou a envidar todos os esforços para conseguir descortinar este mistério, que vão desde horas a consultar livros antigos em alfarrabistas, na Torre do Tombo e em bibliotecas, mas também a contactar grupos de estudiosos que se dedicam a investigar o paranormal e o fenómeno OVNI.
Entretanto, continuarei aqui a mostrar algumas das imagens mais marcantes, alertando desde já para o facto de as mesmas poderem ser de alguma forma perturbantes. Não aconselho por isso mesmo a sua visualização por pessoas sensíveis.
A fotografia que acima apresento foi captada no Cais do Sodré. Como são criaturas pequenas, apenas as vi porque me baixei para atar os ténis. Eles nem se aperceberam da minha presença. Já percebi que o Amor é mesmo uma linguagem universal, com os mesmos sintomas em qualquer ponto do universo.
"LisboET #1" por Paulo Galindro Ilustração digital sobre fotografia em iPad Maio de 2013
"Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia"
William Shakespeare
"Hamlet"
Passo 4 horas por dia em transportes, nas minhas deslocações casa - trabalho - casa. Acreditem ou não, durante estes 10 anos já percorri aproximadamente 240.000 km, em cerca de 9680 horas. Não é fácil, mas como tudo na vida, tem o seu lado positivo. viajar em transportes é uma experiência antropológica e social muito rica, e acima de tudo tem me tornado mais sensível às subtilezas da vida.
E é exactamente sobre subtilezas que vos quero falar.
Há poucas semanas, apercebi-me de algo muito estranho ao longo do meu trajecto. Começou por ser uma ligeira impressão de movimento na minha visão periférica. Sombras que aqui e ali se moviam rapidamente, escondendo-se em sarjetas, nos ramos das árvores, debaixo do carros, nas pregas dos monumentos que habitam a cidade de Lisboa. Esta sensação estranha de estar a ser observado transformou-se em desconforto, e, mais tarde, na forte suspeita de que não estaria lá muito bem de saúde mental. Nos últimos dias, foram tantas as vezes que me deparei com esta terrível sensação de que a cidade de Lisboa esconderia um segredo bem debaixo dos nossos narizes, que cheguei a pensar recorrer a um médico. Mas tudo mudou quando, quando espontaneamente, decidi tirar a fotografia que acima apresento, que nada mais é do que uma protecção do local onde antes estava um poste de iluminação antes de ser de alguma forma destruído e deixar cabos de alta tensão à vista. Achei a imagem fotogénicamente curiosa, mas nada me poderia preparar para o que vislumbrei no ecrã do meu telemóvel.
Depois disto já tirei mais algumas fotografias, e em muitas delas surgem criaturas similares a esta. Nos próximos tempos mostrarei aqui algumas dessas imagens.
Chamei-lhes LisboETes, porque sei que não são do nosso planeta, e porque até agora só as fotografei na nossa bela capital.
Prometi a mim mesmo encetar todos os esforços para descobrir mais sobre estas criaturas, sobre o que as move, o que pretendem, quem são e de onde vieram. Partilharei convosco todos os resultados dessa pesquisa.
Já o tinha anunciado no meu mural do Facebook, mas não quis deixar de o fazer aqui, no meu diário virtual por excelência. O livro "História de um gato e de um rato que se tornaram amigos", com texto de Luís Sepúlveda e ilustrações da minha autoria, já habita as livrarias deste país.
Não vou esconder, foi para mim uma imensa honra ilustrar uma história de tão digníssimo autor. Diria até que teve o seu grau de surrealismo pessoal, já que nunca poderia imaginar, há uns anos atrás, enquanto me arrepiava com o maravilhoso "O velho que lia romances de amor", que um dia viria a dar corpo a uma história do mesmo autor.
As ilustrações deste livro foram concebidas numa das piores fases de toda a minha vida... o momento em que meu Centro de Gravidade tremeu pelas bases. Num dos momentos mais difíceis de ultrapassar, cheguei mesmo a ter a certeza de que jamais terminaria este projecto. Não por falta de força anímica, mas sim porque nesse instante todo o processo criativo deste livro me pareceu uma demanda para lá das minhas possibilidades. Mas esta história teve um final feliz... e os escaparates das livrarias estão aí para o provar.
A história, não me canso de dizer, é doce, doce, doce. De Sepúlveda, amante das coisas boas e simples da vida, não se esperaria outra coisa. Fala de amizade. Fala de lealdade. Fala do imperativo de não se deixar ninguém para trás. Fala de glória de se estar vivo, e de se viver cada momento como se fosse o último. Fala da tragédia dos sonhos interrompidos, e da epifania dos sonhos reencontrados. Fala de voos interiores, e de voos ao ar livre. Fala de um ratinho mexicano que é um dos personagens mais apaixonante e fleumático que tive de dar corpo. E, acima de tudo, fala do poder do Coração, que rima com Criação, com Paixão e com Dedicação. A equação perfeita:
Coração = Cor + Ação
Sei que é um lugar comum. Um chavão que qualquer autor recorre quando fala do momento em que o melhor de si mesmo ganha asas e sai à rua. Mas é a mais cristalina das verdades... este livro deixou, neste preciso momento, de ser meu. É vosso. Todo. Capa e contracapa. Índice, miolo e ilustrações. Tenho a certeza que o Luís Sepúlveda pensa da mesma forma. É essa a resposta à eterna pergunta que me fazem quando vou a escolas, a palestras e afins:
O que é que sinto quando vejo um dos meus livros num escaparate de uma qualquer livraria?
Um vazio imenso, que apenas poderá ser preenchido durante o processo de concepção de um próximo livro. É essa a suprema beleza e maldição de tudo isto, pelo menos no que a mim diz respeito. É uma droga. Um estado alterado de consciência. Uma paixão assarolhopada, incondicional e avassaladora. Uma trip psicadélica de cor, de letras, de palavras, frases e de ideias que se atropelam umas às outras até que as fixemos atrapalhadamente num qualquer bloco de desenho. Tudo isto num mandala construído com as infinitas imagens que se foram atravessando à frente dos meus olhos, ao longo da minha existência. E no fim de tudo isto... um imenso vazio. Não um vazio-vazio. Mas sim um imenso vazio-cheio.
E agora... como é que saio deste imbróglio filosófico. É que nem vou tentar. Não vale a pena.
Espero que gostem do livro.
Espero que o Luís Sepúlveda goste do livro (1 e 2 de Junho irei saber pelo próprio, já que iremos estar juntos na feira do Livro de Lisboa).
O meu coração adorou. Fez-lhe bem. De certo modo talvez o tenha salvo.
E pronto... já está entregue. Esta é a imagem para a posterioridade com a equipa do Centro Veterinário Anjos de Assis, que fazem tudo o está ao seu alcance para que os os nossos melhores amigos estejam presentes na nossa vida, tanto tempo quanto possível e tendo sempre como limite intransponível a dignidade do animal. O meu amigo Miguel Carreira, Director Clínico, eterno low-profile e sequioso de anonimato, lá arranjou maneira de ficar por detrás do cone da Skye, que por pouco não lhe tapava um enorme sorriso.
Este instante de pura e deliciosa felicidade infantil desenhou-me uma pergunta cá por dentro:
Haverá presente melhor para nós mesmos do que darmos aos outros o melhor de nós mesmos?
"Sala de Espera"
por Paulo Galindro
Técnica mista sobre painel de MDF 1.22x0.61m
Maio de 2013
Este foi um compromisso que fiz comigo mesmo em Fevereiro de 2009, quando a nossa querida Ruth se crepusculou. Nesse dia que cá por casa recordamos com um enorme sentimento de perda, mas também de gratidão por termos sido honrados com a experiência de partilhar um pouco da nossa curta existência neste mundo louco e cheio de contrastes com um ser tão luminoso. A Ruth era de facto um Ser de Luz, sem asas é certo - pelo menos daquelas que conseguimos ver nas aves e nos anjos barrocos - mas com pêlo em quantidade suficiente para colmatar essa falha biológica. Foram muitas as vezes que olhei para ela, e pressenti que numa qualquer outra vida, a Ruth talvez tenha sido um ser humano maravilhoso que ao reencarnar nasceu como um ser ainda mais evoluído.
Nesse momento muito triste prometi a mim mesmo que prestaria duas homenagens, através daquilo que melhor sei fazer... Ilustração: à nossa amiga Ruth, e ao meu grande amigo Miguel Carreira, que também é o melhor veterinário que conheço. E esta constatação estende-se a toda a equipa dele, que o acompanha no Centro de Medicina Veterinária Anjos de Assis, no Barreiro. De facto, ainda que represente para nós uma viagem algo longa cada vez que lá vamos, é só nesta equipa que confiamos sem reservas. E acreditem, quando realmente amamos um animal, essa confiança é imprescindível e a única coisa que nos resta, quando naquele preciso momento que ninguém que sequer imaginar, nos dizem que o melhor para a nossa melhor amiga é a eutanásia... a solução mais misericordiosa e humana face a um sofrimento incomportável e sem solução.
4 anos se passaram, e muita coisa aconteceu, das quais destaco a promessa de que jamais voltaríamos a ter um cão, e mais tarde o amor à primeira vista com uma bolinha branca e preta com pouco mais de 20 cm chamada Skye, que tratou de nos mostrar de forma nada subtil que nunca deveremos dizer nunca.
Recentemente a Skye teve um acidente que lhe lhe podia ter custado a pata frontal direita: numa manhã quente de domingo e sem que eu pudesse evitar, a Skye atirou-se para dentro de um espelho de água de um jardim perto da nossa casa. No momento em que vi uma auréola da sangue a espalhar-se em torno dela, percebi que algo estava errado. Muito errado. Dois cortes - um deles muito grave - de um pedaço de vidro, custou-lhe um dedo da pata frontal esquerda, que gangrenou mais tarde e resultou num ENORME problema só sanável com uma quantidade enorme de medicamentos e alguma sorte. E uma vez mais, pude comprovar que a equipa do Miguel Carreira foi a melhor coisa que podia ter acontecido à Skye. Decidi por isso, em modo de profundo agradecimento por todos estes anos, fazer a tal ilustração que acima referi e mostro. A Ruth, como não poderia deixar de ser (afinal, foi ela o verdadeiro mote desta ilustração) aparece por lá, mas só será visível aos mais atentos.
Demorou aproximadamente 20 horas a ser executada, e no final fica uma enorme sensação de paz interior por ter cumprido uma promessa perante a nossa grande amiga, no momento em que fechava os olhos. O Miguel Carreira não faz a mais pequena ideia que amanhã à noite irá receber este presente, e espero sinceramente que se alguém porventura o conhecer, não vá denunciar os meus intentos.
"Skye watching the Sky"
por Paulo Galindro
Ilustração digital em iPad
Abril de 2013
Entretanto, a Skye já saiu da zona de perigo. Ainda carrega ao pescoço um malfadado cone, que ela já não pode ver nem que o mesmo se transformasse num cone de queijo flamengo revestido a lâminas de presunto com 9 meses de cura. Cá por casa já a comparámos a um abajur, a um copo de Martini com uma azeitona preta e branca lá dentro, a uma grafonola e a um aspirador. No entanto, há umas noites atrás, enquanto a catraia fazia um cócózito (que foi devidamente apanhado com um saco, como aliás todos os donos de animais deveriam fazer) e olhava atenta para cima, para um céu estrelado e um luar gloriosos, dei por mim a pensar que ela afinal parece um...
... radiotelescópio.
Com esta ilustração tentei congelar esse momento mágico, uma imagem que só por si já valia uma história inteira.