segunda-feira, 21 de março de 2011

Bonjour Tristesse

"Bonjour Tristesse"
por Paulo Galindro, Lápis sobre Moleskine, 2005

Hoje sei que vai ser um daqueles dias. E desta vez nem sequer posso culpar a minha Lua, que como o mordomo nas histórias policiais, e sempre a eterna culpada. Sinto-me cansado, com um défice de horas de sono quase pecaminoso. Tirei "férias" para terminar as ilustrações de dois livros, e nem assim estou a conseguir dar conta do recado. E nem sequer me posso queixar muito, pois a editora para quem estou a ilustrar neste momento tem sido extremamente compreensiva, e tem procurado ir ao  encontro das minhas limitações tanto quanto lhe é possível (apesar de saber que neste preciso momento, nada mais poderão fazer). O problema é no entanto muito mais profundo. Sinto que a intensidade desta vida profissional dupla e que levo há anos está a dar cabo de mim aos poucos, e muito especialmente a todos os que me amam e me rodeiam.
São muito os sinais enviados pelo meu corpo de que algo já vai muito mal, e que mais tarde ou mais cedo vai ter de ocorrer um salto quântico. Mas o quê? E como, num país que tal como eu, aos poucos se está a afundar e onde todos lutam para conservar o emprego?
Hoje sinto-me assim, só, perdido, desmotivado, profundamente triste, e, acima de tudo, desesperançado. E essa é mesmo a parte pior... não saber onde anda a minha fé. Mas sei que se continuar neste ritmo avassalador, mais cedo ou mais tarde a minha vida até agora plena da cor de arco-íris, tornar-se-á um monte de ruínas com 8 escalas de cinza. E o processo já começou.

Perdoem-me este momento, mas escrevo de mim para mim, na esperança que o espaço entre estas linhas esconda uma luz, nem que seja a de um pequeno pirilampo cansado, de que agora tanto necessito.

9 comentários:

Unknown disse...

força rapaz!
Se calhar estás a abraçar projectos a mais. Na minha opinião mais vale escolher apenas alguns e fazê-los com tempo e prazer do que tentar fazer tudo.
Abraço

AnaCB disse...

Desculpe-me a intromissão e o envio do comentário.

Pare, escute e olhe. Pode ser mesmo um combóio, e pode não vir carregado de energia para si, mas sim de mais problemas.

Evite sentir-se assim. Dispa o casaco e se puder apanhe um pouco de sol, normalmente ajuda. Se puder, durma também uma sesta, nem que seja de dez minutos em cima dos lapis ou do que esteja a fazer.

Retempere as suas energias com este sol maravilhoso que faz la fora. Abra a janela, já que conseguiu abrir o seu coração.

Um abraço forte cheio de energia para si.

Unknown disse...

"Quando alguém encontra o seu caminho, precisa de ter coragem suficiente para dar os passos necessários. As decepções, as derrotas e o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para nos mostrar a estrada."

Em tempos li esta frase que desconheço o seu autor, mas no entanto ajudou-me a iluminar o caminho.

Vamos lá...
Para cima...

Um abraço.
António Galindro

Rita Mira disse...

A luz pequenina que fala para mim é tão evidente! O Paulo tem um dom,
na ponta do seu lápis sai magia, cor, sentimento.
O paulo com as suas ilustrações faz-nos sonhar e esquecer também as nossas tristezas e a falta de esperança num futuro mais promissor.
Pense nas pessoas que faz feliz e decerteza que isso o fará sentir-se, nem que seja um pouquinho, mais feliz também!!!

Tereclopes disse...

Cá venho eu outra vez meter o nariz...
Bolas!!! quando o país está como está,ninguém tem confiança no que será o futuro,montes de gente sem trabalho e sem ter o que dar de comer aos filhos,
políticos que não sabem trabalhar em equipa, pessoas com doenças horríveis e sem dinheiro para se tratarem. Terramoto gravíssimo no Japão com as consequências que todos conhecemos e ainda com a possibilidade de uma tragédia nuclear para juntar ao resto.Guerra civil na Líbia.
Vais-me desculpar, eu sei que sou um pouco bruta a escrever não tenho a tua diplomacia, sou mais "terra a
terra".
Tu tens tanto talento, tens emprego e fora dele, trabalho não te falta,e o mais importante, trabalho que gostas e que te realiza, tens uma família linda com uma mulher com muito talento também, dois filhos maravilhosos.
O que te falta para sentires essa tristeza toda?
Pensa nos que nada têm, nos que têm que trabalhar no que não gostam, nos que não têm família, nos que não têm apoio de ninguém.
Penso que está na hora de estabeleceres prioridades, não podes deitar a mão a todo o trabalho que gostas de fazer, há um ditado muito antigo que diz:" Quem muito burro toca, algum fica para trás..."
Todos nós temos as nossas angustias e amarguras, não és único, pára, pensa e deixa de te sentires vítima não percebo bem do quê.
A vida é linda e é para ser vivida com intensidade e sem sofrimentos por antecipação. Se pensas não estar bem, se o teu corpo já te avisou disso, só posso dar-te um conselho vai ao médico quanto antes, e fala abertamente em tudo o que te preocupa vais ver que ele te entenderá e te ajudará, porque muito sinceramente essa tua insatisfação permanente pelo que vejo quando acompanho o teu blog não tem justificação.
Nos posts anteriores mostras-te pedaços da tua vida tão preenchida de coisas tão boas e bonitas até inspiradoras para tanta gente que aqui vem, e agora estás assim? Ânimo Paulo, deixa a vida correr...
Desculpa se de algum modo te incomodei,já sabes que de maneira nenhuma é essa a minha intenção.
"FAZ O FAVOR DE SER FELIZ"

Pintarriscos disse...

Antes de mais, um muito obrigado por todos os vossos comentários. Alguns mais doces, outros mais incisivos, mas todos eles importantes para mim. No entanto, atendendo ao conteúdo dos mesmos, não gostaria de deixar de fazer aqui, também, um comentário.
Todos nós temos problemas, todos nós carregamos uma cruz (se me é permitido esta analogia, não sendo eu católico). Obviamente que há sempre uma miríade de pessoas bem piores que nós - muito especialmente nos tempos que vivemos, basta ver os telejornais. Nunca foi minha intenção queixar-me da vida que levo. Apenas escrevi o que me ía e vai na alma, razão pela qual coloquei este post na tag "pessoal", e disse:
"Perdoem-me este momento, mas escrevo de mim para mim, na esperança que o espaço entre estas linhas esconda uma luz, nem que seja a de um pequeno pirilampo cansado, de que agora tanto necessito."
Não há ninguém que de vez em quando não vacile, mesmo que tenha uma vida substancialmente mais interessante do que os casos mencionados em alguns dos comentários ao meu post. De vez em quando, todos nós nos sentimos vazios de significado, deprimidos, melancólicos, na fossa, como se carregássemos o universo inteiro ás costas. São momentos, por vezes poucos, outras nem tanto, que vão e vêm como as marés, e que dependendo do nosso estado de saúde fisico e mental, tem mais ou menos impacto. Neste momento estou extremamente cansado... sim, é verdade... porque tenho trabalho, mas não só, porque a saúde também não anda no seu melhor. Mas isso não reduz em nada o facto de estar a dormir 4 horas por dia, nem o impacto que isso tem na minha vida. E o cansaço é uma das razões pela qual não conseguimos ter a força anímica para ver a vida em tons mais coloridos. Mas existem muitas outras razões. Sei que quando coloco aqui muitas das coisas que faço, e das experiências que vivo, estou a submeter-me ao escrutínio e a sujeitar-me a todo o tipo de considerações sobre a minha vida pessoal. É um dos preços a pagar por estas coisas da net, e muito especialmente das redes sociais, razão pela qual tenho um especial cuidado no quanto abro as portas da minha vida. Como é óbvio, não coloco aqui toda a minha vida, nem ponho imagens que julgo sagradas (como é o caso dos meus filhos, que procuro sempre não mostrar a cara). Mas coloco muitas coisas, especialmente aquelas que dizem respeito à minha vida profissional. Eventos que, devido ao seu carácter fragmentário e descontínuo, dão a ideia errada de que levo uma vida algo privilegiada face aos demais que me rodeiam. Nunca tive a noção de que provocava essa ideia a quem me segue até hoje, ao ler os comentários, especialmente o último. Obviamente, em alguns aspectos da minha vida, não me posso queixar. Como aliás, acontece com qualquer ser humano. Noutros aspectos as coisas não correm tão bem, como qualquer ser humano. E noutros ainda, as coisas não correm nada, mesmo nada bem, como qualquer ser humano. O que não acho correcto é partir-se do princípio minimizador de que não existem quaisquer razões para eu me sentir como descrevi neste post, partindo da simples ideia que transmito em meia dúzia de posts mensais. Quando o escrevi, fi-lo por uma necessidade para comigo mesmo, quase como um exorcismo, uma catarse. Não gosto de me sentir assim, mas também não gosto de me sentir culpado por me sentir assim. São momentos, todos os temos, só que quando não estamos neles esquecemo-nos que já lá estivemos, e ainda bem que assim é. O que jamais farei é minimizar o que alguém sente, partindo do pressuposto que esse alguém vive um mar de rosas.

(continua)...

Pintarriscos disse...

(continuação)

É bom pormos as coisas em perspectiva, relativizar. Mas ás vezes não conseguimos... ponto final. Por mais egoísta que isso possa parecer, existem momentos em que simplesmente não conseguimos pensar que a nossa dor é menor do que alguém que vemos na televisão nas situações referidas nos comentários ao post. É certo que há sempre alguém que consegue viver permanentemente nesse estado de graça no decorrer da sua vida (eu, infelizmente, não conheço ninguém), e obviamente que há quem consiga, esse não é, infelizmente o meu caso. Mas gostava de um dia aprender. Estou a trabalhar para isso.
Por isso, Tereclopes, não deixando de agradecer o teu comentário, que considerei muito importante, tenho também de te dizer, em nome da sinceridade que tal como eu, defendes, que o considerei desadequado ao que se estava e está passar na minha vida, e apenas sustentado por uma ideia errada de que a minha vida decorre ao ritmo dos posts que aqui coloco, e das cores que deles emanam. Estes posts são apenas flashes, instantes num oceano de eventos, um todo que que é infinitamente maior que o somatório das suas partes. A minha vida é tão interessante, mágica, e intensa, gloriosa e trágica como a tua e a de qualquer outro ser humano. E sim,é verdade que tenho de estabelecer prioridades, que tenho de tocar menos burros para a frente, e que tenho de ouvir a música do meu corpo. E não, não considero que me tenha vitimizado, ou que sou insatisfeito, e por fim, também não me incomodaste. Muito pelo contrário. Gosto que me visites.

Anis disse...

Paulo quem não te conhece pessoalmente e ao visitar este "cantinho" cheio de cor mas com palavras um pouco em escala de cinza não sabe a pessoa alegre que és. Mesmo quando estás mais em baixo tu consegues "iluminar" uma sala, um local de trabalho tantas vezes enfadonho e do ponto de vista criativo bastante castrador e pões toda a gente a chorar a rir. Partilhámos a mesma sala,o mesmo local de trabalho durante alguns anos e quero ver aqui este Paulo que tenho a certeza que bem conheço!
Beijinhos da tua colega e amiga
Sofia

Anónimo disse...

Era aí que eu queria chegar... dar ouvidos ao nosso corpo e tomar providencias não só com desabafos. Se pensas que nunca me senti assim estás enganado ainda há bem pouco tempo já não sabia o que fazer comigo tal era o estado emocional e psicológico em que me encontrava. Fui ao meu médico assistente que me ouviu e me entendeu, e hoje não pareço a mesma com o tratamento que fiz.
Ninguém vive num mar de rosas, isso seria uma monotonia que ninguém aguentava, são as dificuldades, os problemas e os desafios que dão interesse à vida.
Quero que saibas que só perco tempo a comentar os blogues de pessoas que me merecem toda a consideração, porque de resto simplesmente ignoro.
Aproveita ao máximo o talento que Deus te deu apesar de não seres crente, eu sou. Desejo que o que te está a afectar hoje, não passe de uma recordação menos boa no futuro.
Encerro aqui os meus comentários no teu espaço, porque apesar de dizeres que não te incomodo eu sinto que o faço. Um até sempre, e mais uma vez te digo "FAZ FAVOR DE SERES FELIZ" todos o merecem e tu não és excepção.
Teresa

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